A senadora Lídice da Mata (PSB) vê com estranheza as denúncias contra o ex-governador da Bahia e atual ministro da Casa Civil, Jaques Wagner (PT). Na semana passada, o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, em delação premiada, disse que o petista teria supostamente recebido recursos para sua campanha a governo em 2006 com valores desviados da estatal.
Para Lídice, é muito estranho essas acusações aparecerem, justamente, quando o ex-gestor estadual tem tido um “papel proeminente na política nacional”. Na avaliação dela, a ida de Wagner para o governo “agregou um valor muito forte” por sua capacidade de negociação, melhorando o diálogo entre o Palácio do Planalto com o Congresso.
Ainda na entrevista, a senadora baiana fala sobre as eleições deste ano e faz um balanço da administração do prefeito ACM Neto e do governador Rui Costa. Presidente do PSB na Bahia, Lídice diz que a meta no partido este ano será dobrar o número de prefeitos, chegando a 40 ou 50 gestores eleitos. “Isso significa um esforço para conseguir em torno de 80 a 100 candidatos ou pré-candidatos.
Na eleição passada, crescemos muito em número de prefeitos eleitos, mas elegemos praticamente em cidades abaixo de 50 mil habitantes e, nesta eleição, queremos disputar e ganhar cidades que passem dos 70 mil. Uma cidade como Feira de Santana, que há muito tempo o PSB não disputa, hoje tem todas as condições de estar na disputa do pleito. É um avanço muito grande”, enfatizou.
Confira entrevista completa:
Tribuna – Brasília está em chamas, senadora?
Lídice da Mata – Acredito que agora está mais controlada. As chamas baixaram um pouco até porque o espírito de Natal é de fraternidade e de fim de ano de esperança. Isso se juntou a esse necessário momento de reflexão e paz.
Tribuna – Como a senhora avalia as investigações da Operação Lava Jato e as denúncias que atingem o ex-governador Jaques Wagner?
Lídice da Mata – As operações Lava Jato estão seguindo o curso. Acho que é bom a gente estar em um país, onde essas investigações ocorrem livremente, sem interferência de nenhum tipo. Essa acusação de Wagner, o próprio acusador disse que não tem prova nenhuma. Disse que viu uma pessoa dizer. Eu acho estranho. Wagner governou durante oito anos, saiu do governo sem nenhuma denúncia, nenhuma acusação nem dos adversários. Esta há um ano fora do governo e, justamente, agora que tem tido um papel proeminente na política nacional, aí se inicia uma série de acusações, pelo que entendi até agora, sem nenhuma comprovação.
Tribuna – As investigações vão atingir o ex-presidente Lula?
Lídice da Mata – Não sei dizer. Não tenho essa capacidade de analisar se chegarão lá. Até porque não sei se o presidente tem algo suspeito. O que sei é que há um cerco, uma tentativa, se percebe isso pelos movimentos feitos no ano passado, de se colocar o Lula como alvo. Certamente, isso tem a ver com a liderança que ele ainda exerce na opinião do povo brasileiro.
Tribuna – O ex-presidente é o candidato mais forte para as eleições de 2018?
Lídice da Mata – As pesquisas indicam que ele ainda tem um grande capital político, mas tão longe da eleição apenas retratam a força das pessoas. Uma eleição presidencial, como nesta última, se define nos últimos trinta dias de campanha.
Tribuna – A senhora acredita que o impeachment perdeu força ou ainda se viabiliza?
Lídice da Mata – Acho que perdeu força. Não houve produção de nenhum fato novo que justificasse juridicamente o impeachment. Acompanho a posição do meu partido de independência propositiva e contrária ao impeachment. Mas, independentemente disso, tenho acompanhado a polêmica jurídica e um grande número de juristas já se posicionaram contrariamente à tentativa de impedimento da presidente.
Tribuna – Qual o caminho indicado para a presidente Dilma sair das crises política e econômica?
Lídice da Mata – Acho que a presidente está atravessando um momento de dificuldade e, diante disso, ela precisa redefinir totalmente o seu governo. Ganhar mais uma dimensão de falar para a sociedade brasileira, analisando os erros, principalmente, no campo da economia e convocar todas as forças da nação para fazer um governo de união nacional, que possa transferir para 2018 a discussão de que tipo de modelo o Brasil deve ter. Até lá, devemos unir todo o esforço da inteligência do país para sair da crise econômica e fazer com que o país volte a crescer.
Tribuna – Até quando o deputado Eduardo Cunha se sustentará na presidência da Câmara Federal? O que o sustenta no posto?
Lídice da Mata – Penso que a sustentação dele é de uma parte da Câmara, já como ele se mantém, eu não sei. Ele é a pessoa com o maior nível de fragilidade na vida pública nacional neste momento. Ele está dentro e fora da Operação Lava Jato, comprometido. Na história política do Brasil dos últimos quarenta anos, nunca um presidente da Câmara conduziu a Casa, fora do período imediato da ditatura militar, tão voltado para as defesas das suas próprias ideias, e não para o conjunto da sociedade. O presidente Eduardo Cunha assusta por essa dimensão política, há sempre uma tentativa para conquistar maiorias eventuais que garantam o seu pensamento. Isso para um presidente é muito ruim como marca. Por outro lado, ele tem uma atitude de enfrentar as acusações sempre numa postura de ataque. Na verdade, ele está sempre numa posição de ameaça como fez publicamente com a presidente da República.
Tribuna – Os empreiteiros vão ter dificuldades de irrigar novos “caixas 2” nas próximas eleições? Até pouco tempo a gente não via empresários sendo presos, e agora estão atrás das grades. Isso vai mudar a forma?
Lídice da Mata – E isso já está mudando. Essa próxima eleição vai ser muito diferente no Brasil. Nenhum político sabe lhe dizer, imagino, como será o processo eleitoral deste ano. Primeiro, porque está proibido o financiamento empresarial de campanha por uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Depois, com os principais financiadores envolvidos na Operação Lava Jato, com alguns presos, há naturalmente uma retração no campo empresarial, uma posição mais defensiva. Acho que dificilmente terá muita gente querendo contribuir com as campanhas, pois estão apreensivos com que tipo de posicionamento pode acontecer. Do ponto de vista dos políticos, tenho sentido, em todos eles, uma grande interrogação sobre como será o financiamento nesta campanha. Há todo um processo e esse período agora vai se intensificar as conversas no sentido de planejamento e candidaturas.
Tribuna – As campanhas têm um custo muito elevado, senadora?
Lídice da Mata – Tem um custo elevado sim. O Congresso fez um esforço para diminuir esse custo de campanha na última reforma eleitoral, com a proibição de diversos instrumentos de comunicação, que também é uma coisa nova no Brasil. Então, tudo vai ser uma experimentação. Eu, pessoalmente, acho que o formato atual neste primeiro momento, porque depois é possível que se encontre um equilíbrio, beneficiária quem já está nos governos. O vereador com base definida pode se beneficiar, porque é mais conhecido naquele distrito e pode fazer campanha mais barata, passando de casa em casa. Mas ainda é cedo. Estou esperando vocês, os comunicadores, dizerem um pouco que caminho seguir.
Tribunal – O PT vai ter muita dificuldade nesta eleição? O que vai acontecer com o partido após tantos casos de corrupção mancharem sua história?
Lídice da Mata – Certamente o próprio o PT deve estar fazendo um cálculo de um crescimento muito menor ou até mesmo de retração nas próximas eleições. Eu acho que nas grandes cidades o PT vai ter um prejuízo maior. Isso não quer dizer que o partido acabe. Isso não quer dizer que lideranças do PT não vão ser eleitas.
Claro que continuarão se elegendo. Um partido não se acaba apenas em um processo eleitoral e uma crise na qual o PT passa. O partido passa por uma crise muito profunda, mas eu creio, como qualquer outra agremiação, vai tentar refletir sua posição. Entrevista recente de Wagner na Folha demostra isso, uma busca de construir um caminho autocrítico do que aconteceu e na redefinição de rumos.
Tribunal – A decisão de lançar Sônia Fontes em Alagoinhas coloca PSB e PT em lados opostos, já que o deputado estadual Joseildo Ramos deve ser candidato?
Lídice da Mata – O PT e o prefeito Paulo Cezar estão na mesma base do governo. Paulo apoiou Wagner e Rui. Então, são ambos da base do governo. O PSB também é da base. O ideal, em Alagoinhas, seria que pudéssemos constituir um campo que viabilizasse no final uma relação mais próxima do PT com o prefeito. Nós estamos lutando para que Sônia seja vista pelo prefeito como sua melhor candidata e, portanto, possa receber o seu apoio e viabilizar a vitória.
Tribuna – A senadora Lídice da Mata é pré-candidata a prefeita de Salvador?
Lídice da Mata – Em Salvador, nós temos iniciado muito homeopaticamente essa discussão. Nosso primeiro movimento é fortalecer a chapa de vereadores, porque esse é um objetivo estratégico partidário. E, nessa dimensão, definir qual o modelo de participação que o partido terá nesta eleição. Posso assegurar que o partido terá uma participação mais intensa possível nesse processo. Com ou sem candidatura, nós estaremos na oposição ao governo municipal e buscando construir uma alternativa política ampla.
Tribuna – A senhora concorda com a estratégia do governo de pulverizar as candidaturas para tentar empurrar a disputa para o segundo turno?
Lídice da Mata – Depende. Acho que pulverização tem que ter tamanho certo. Não pode cada partido ter uma candidatura, porque é necessário construir projetos de cidade, que exige uma concentração de esforço, de união de pensamento, que uma excessiva descentralização pode prejudicar. Ninguém pode governar uma cidade como Salvador sem representar e passar a ideia de união da sociedade.
Tribuna – Quais seriam as condições para a senhora aceitar o desafio de disputar novamente a prefeitura?
Lídice da Mata – Ainda não pensei sobre isso. A candidatura tem que existir com capacidade de competir. Ainda não fiz uma reflexão profunda sobre essa questão.
O meu partido está iniciando um processo de discussão visando o seu crescimento no conjunto do estado. Nós encerramos o ano muito bem, fizemos um encontro positivo que estimulou o ânimo dos nossos pré-candidatos no interior. Estamos dando essa sequência.
Estamos ativos tanto no interior como em Salvador. É claro que Salvador tem uma importância ainda maior, porque é capital do estado, é a maior cidade e, para mim, é o meu berço político. Então, me preocupo com Salvador e participo historicamente das campanhas de maneira intensiva.
Tribuna – Qual a avaliação que a senhora faz do governo ACM Neto? Qual o principal erro e o acerto?
Lídice da Mata – Não costumo analisar governos assim, porque se reduz a capacidade de análise. Acho que a administração tem feito medidas no nível urbano que tem um lado positivo de renovação urbana, mas que pode gerar um lado negativo de desestímulo à economia informal que marcava Salvador. Quando você retira de um espaço 24 ou 18 ambulantes e reduz para nove ou oito, em um processo de crise econômica, naturalmente, se concentra renda. Isso não aparece no curto prazo, mas no médio aparece. Salvador é uma cidade pobre, qualquer prefeito que governa a cidade tem que se preocupar com os caminhos de desenvolvimento. Nós não temos indústrias, nós temos serviço e o comércio. E nós precisamos inovar. O turismo hoje é a principal indústria sem chaminé, precisamos agregar valor a isso. E o PSB vem discutindo a ideia de uma economia criativa, moderna, pós-industrial que integre a capacidade de criação do povo baiano. A palavra-chave para o processo de desenvolvimento de Salvador é economia criativa.
Tribuna – Como avalia o primeiro ano de gestão do governador Rui Costa?
Lídice da Mata – Acho que foi muito positivo, surpreendendo positivamente a Bahia.
Digo isso porque foi um ano difícil e tem pessoas que se revelam na dificuldade, e foi o que ocorreu com Rui. Governar na bonança, em um período de crescimento, é fácil. Agora, governar em um período de dificuldade econômica, de recessão, em um estado como a Bahia, não é fácil. Ele teve que fazer o que estava sendo feito antes e maximizar os efeitos disso. Em alguns momentos, tem que deixar até de fazer algumas coisas para priorizar aquilo que é essencial.
Tribuna – O que diferencia Wagner de Rui?
Lídice da Mata – É muito difícil. Rui está iniciando, Wagner passou oito anos e foi um tempo de bonança, de crescimento econômico. Rui inicia seu governo, dando continuidade, na sua essência a uma estratégia da gestão anterior. Wagner tem uma capacidade de agregar e negociar que tem feito ele se destacar no cenário nacional, que mudou com a presença dele no governo na posição de chefe da Casa Civil. Tem mudado gradativamente a relação com a Câmara dos Deputados e o Senado. Acho que a presidente Dilma agregou um valor muito forte ao seu governo com essa capacidade de negociação de Wagner. Rui tem se voltado mais para gestão, mas é também um político. Não concordo quando dizem que ele é um técnico, Rui é essencialmente um político.
Tribunal – Qual a meta do PSB para campanha deste ano? E as prioridades?
Lídice da Mata – Queremos pelos menos dobrar o número de prefeitos que fizemos na última eleição. Estamos fazendo um esforço para chegar próximo a 40 ou 50 prefeitos eleitos. Isso significa um esforço para conseguir em torno de 80 a 100 candidatos ou pré-candidatos. Na eleição passada, crescemos muito em número de prefeitos eleitos, mas elegemos praticamente em cidades abaixo de 50 mil habitantes e, nessa eleição, queremos disputar e ganhar cidades que passem dos 70 mil. Uma cidade como Feira de Santana, que há muito tempo o PSB não disputa, hoje tem todas as condições de estar na disputa do pleito. É um avanço muito grande.