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"Tenho prerrogativa legal para ser o candidato", diz prefeito de Camaçari

Ademar Delgado, afirmou que está na disputa pela reeleição em 2016

Em entrevista exclusiva para a Tribuna da Bahia, o prefeito de Camaçari, Ademar Delgado, afirmou que está na disputa pela reeleição em 2016 e que está aberto ao diálogo com o ex-aliado e mentor político, o deputado federal Luiz Caetano. Os dois tiveram desentendimentos que repercutiram no meio político e deixaram o cenário de Camaçari indefinido.

“O fogo amigo dói mais porque ele tá mais próximo. E a gente por ser atingido por ex-companheiros, ou companheiros, amigos ou ex-amigos, a gente sente a dor mais forte, mas faz parte da vida. Não foram os primeiros que romperam com aliados. Temos a historia recheada de figuras que adotaram essa prática, infelizmente”.

O atual prefeito de Camaçari se mostra aberto a uma resolução. “Olha eu estou jogando todas as minhas energias para terminar este ano e essa gestão,  muito difícil face à crise econômica, estamos ajustando para que eu feche o exercício bem. A partir de janeiro vamos cuidar do processo da minha reeleição e eu tenho prerrogativa legal de ser o candidato e vou trabalhar para isso”. Para o prefeito, o Pacto Federativo é perverso com os municípios.

“As receitas geradas nos municípios, o cidadão mora no município, e é quem fica com a menor fatia do bolo tributário. Estou de stand by, porque o povo me elegeu para ser prefeito até dezembro do ano que vem e não posso parar minha gestão para uma questão política. Tem muita gente acelarada, mas eu estou acelerando a minha gestão”, disse Ademar.

Para ele, a crise política, por si só, não tem que ser motivo para impeachment. Se fosse assim, quando se tivesse bom, poderia se perpetuar no poder. Não é assim. Temos um regime democrático, quatro anos do mandato do Executivo. Tem que se cumprir o mandato e à população cabe julgar no momento certo, na hora das eleições, se o projeto deve ou não continuar”.

Confira a  entrevista completa

Tribuna da Bahia - De que forma o PT vai se posicionar na eleição de 2016, levando em conta que o deputado Luiz Caetano também poderá ser candidato?
Ademar Delgado -
O PT não tem uma resolução do partido. Eu tenho conversado com os companheiros daqui e algumas lideranças, e lideranças estaduais. E aí eu propus o seguinte: que nós deixássemos para decidir no próximo ano e que nesse momento, já que houve um afastamento de Caetano da gestão, o rompimento dele, a gente precisava recompor essas coisas, estabelecer um pacto, ele e os liderados dele, de não agressão. Ele cuidar da política dele, tocando o mandato da forma que achar por bem, e eu cuidar da minha gestão, fazendo da minha discussão política, e sentamos depois para ver se há como fazer um pacto dentro do partido, que tem história de disputa de terra, mas chega sempre a um consenso. Aonde não chegou a consenso, como o caso de Porto Alegre e Recife, o partido se deu mal. Então temos que ter maturidade para administrar essas questões próprias da democracia.

Tribuna - Uma frase, atribuída a Caetano, dificultaria esse processo? A frase: “Acho que Ademar teve oportunidade, nós demos a ele, o povo deu e ele não soube aproveitar. Acho que ele deveria nesse resto de mandato cuidar do governo e tentar agradar a cidade”. Como o senhor analisa?
Ademar -
Acho que essas críticas não ajudam na construção da unidade. Eu pelo menos não faço nenhuma crítica a ele. A minha esperança é que ele cuide do mandato de Brasília, ajudando a gente e a Bahia.

Tribuna - E as críticas de ex-aliados como a deputada estadual Luiza Maia, que endureceu o discurso contra o senhor. Incomodam?
Ademar -
O fogo amigo dói mais porque ele está mais próximo. E a gente por ser atingido por ex-companheiros, ou companheiros, amigos ou ex-amigos, a gente sente a dor mais forte, mas faz parte da vida. Não foram os primeiros que romperam com aliados. Temos a história recheada de figuras que adotaram essa prática, infelizmente.

Tribuna - Como vê a notícia de que o governador Rui Costa teria como carta na manga uma possível candidatura de Bira Coroa, como forma de não tensionar com o senhor nem com Caetano?
Ademar -
Acho que é uma alternativa. Ele tem que trabalhar para viabilizar uma candidatura, mas objetivando estarmos juntos. Mas se não conseguirmos isso, pode ser que seja uma alternativa. E o governador é experiente na política e quando fala isso está  pautado na sua experiência, que tem que respeitar. Vamos trabalhar. O que precisamos é a unidade. Obviamente que trabalho com a unidade, e em torno do meu nome, e vamos trabalhar até o último momento para que consigamos fazer essa unidade.

Tribuna - O senhor defende algum tipo de critério que auxilie no processo de escolha do PT?
Ademar  -
Não sentamos ainda para estabelecer. Eu estou no final de ano focado da minha gestão e acho que a partir de janeiro, nós devemos sentar para discutir, estabelecer os critérios. Primeiro, um fórum para fazer essas discussões, e depois estabelecer os critérios. Estabelecidos esses critérios, vamos cumpri-los…

Tribuna - Quanto a oposição, acha que haverá unidade da parte deles e de alguma forma ameace os planos do PT?
Ademar -
Nós de cá apostamos na divisão deles como eles estão apostando na divisão nossa. Todas as vezes que ganhamos as eleições fizemos a nossa unidade e um arco de aliança forte. O pré-requisito é ter um projeto político, uma unidade de trabalho e buscar aliados. Quem conseguir isso sairá na frente obviamente.

Tribuna - Pesquisas de avaliação do seu governo mostram  que a população tece críticas a áreas de sua gestão, sobretudo na saúde. Como o senhor vê essas críticas?
Ademar -
Olha, a saúde é uma área muito difícil e a população está plenamente satisfeita. Ultimamente não tenho recebido críticas, porque geralmente quando tem alguns problemas, como falta de médicos, de medicamentos, a população liga, vai para as redes sociais, para tudo que é lugar. 

Temos procurado dar toda a atenção para a rede. Então ultimamente não tenho recebido nenhuma crítica. Então as coisas me parecem que estão melhorando. Agora existe.... você chega e as pesquisas que fazemos apontam isso. Chegam dez pessoas, oito tem seu problema resolvido e dois não. Quer dizer, teoricamente você teria nota oito. Mas não, esses dois que não tiveram seu problema resolvido, acabam influenciando a opinião de pessoas, inclusive, que nunca precisaram do serviço de saúde do município. Então é difícil ter uma avaliação mais precisa por isso, porque aqueles dois que não tiveram suas necessidades atendidas dão seu grito, com toda razão. Essa é a lógica da saúde do nosso país.

Tribuna - Enquanto gestor, o que dizer da crise financeira e política que assola o País?
Ademar -
Camaçari já foi atingida fortemente e é um município com maior área em extensão da Região Metropolitana. Temos na ordem de cem escolas e cem unidades de saúde. Elas estão em toda essa área. Então temos custo de manutenção da máquina administrativa e do município muito alto. Mas quando vem a crise, os problemas sociais aumentam, precisamos de mais serviços e temos uma receita estabilizada ou decrescente, ficando sem condições de atender a toda essa demanda. Então é um problema difícil, adotamos algumas medidas, e hoje estamos pagando a folha dos salários dos servidores, temos que raspar o taxo, como se diz, mas estamos pagando os salários do mês de outubro. E a partir da próxima terça (hoje) começamos a fazer reserva para o 13º, porque no mês de dezembro temos duas receitas. A partir da próxima semana começo a fazer uma poupança para pagar o 13º e assim cumprimos aquelas obrigações principais e prioritárias, que é assegurar os pagamentos das despesas continuadas. Agora, tivemos que desacelerar um pouco o ritmo dos serviços, reduzir contratos... e que é uma coisa que as vezes torna-se positiva, que é aquela história que na crise você cria, corta uma gordura aqui e outra acolá. E estamos fazendo isso. Criei uma comissão que eu presido e o pessoal tem reunido semanalmente para fazer avaliação e adotando medidas complementares ao primeiro decreto. Então estamos trabalhando isso para garantir os serviços sociais.

Tribuna - A crise política, de alguma forma, acaba contribuindo para tensionar a área econômica?
Ademar -
Com certeza. A crise política afeta na crise econômica e chega um momento que você não sabe se é política que interfere na economia, ou a economia na política, e fica esse círculo vicioso e perverso para a população. Precisamos encontrar uma saída o mais urgente possível e acredito que a presidente Dilma, a nível federal, mais o governador Rui Costa, e nós dos municípios, encontremos uma forma de amenizar a situação porque ninguém aguenta viver nesse clima tenso. Precisamos sair do processo para que o País volte a crescer.

Tribuna - Ja existe cenário para um processo de impeachment contra Dilma?
Ademar -
Olha, eu acho isso um absurdo porque governo nenhum por estar mal avaliado pode ser no nosso regime democrático e político, não permite impeachment. O que estão aproveitando é que a avaliação do governo não está boa, se esquece todos os avanços sociais que tivemos, como sair da linha de pobreza, Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família, Prouni, e todos esses projetos importantes para a inclusão social são abandonados.  

Se fosse assim, quando se tivesse bom, poderia se perpetuar no poder. Não é assim. Temos um regime democrático, quatro anos do mandato do Executivo. Tem que se cumprir o mandato e a população cabe julgar no momento certo, na hora das eleições, se o projeto deve ou não continuar. Não sou advogado, sou administrador, mas pelo que entendo não vejo, e lendo alguns juristas, acho que tudo isso só ganha ressonância por conta da crise econômica e política, mas não por causa de maus feitos. A presidente é extremamente correta, honesta e ética e não merece o que está passando nesse momento.

Tribuna - Em relação ao retorno da CPMF? O senhor apoia?
Ademar -
Olha, falar em imposto, já tem um nome feio. A CPMF tem duas coisas positivas que as pessoas não pegam: primeiro é a sonegação. Porque você traz para dentro, porque tem uma economia aí que gira fora do sistema tributário muito forte. Na hora de você vai taxar a partir da movimentação financeira, pode inclusive pegar caixa dois e outras coisas mais. A outra questão é que é um imposto direto e impostos diretos são mais justos porque estão vinculados ao seu poder de transação financeira. A outra coisa que nós temos que ver é que o sistema de saúde por todas as avaliações que vejo, nós tivemos, está na constituição de 88: saúde é um direito de todos e dever do estado. O nosso sistema surge dentro do ponto de vista de sua construção, é perfeito, mas precisa de financiamento. E todos profissionais da área de saúde que entram nessa avaliação, todos falam que o sistema é subfinanciado. O que nós precisamos é ter a CPMF voltada exclusivamente para a saúde com participação efetiva dos Municípios, dos Estados e da União, porque o Pacto Federativo é perverso com os municípios. As receitas geradas nos municípios, o cidadão mora no município, e é quem fica com a menor fatia do bolo tributário. Sob essa ótica que coloquei, sou a favor.
 
Tribuna - Agora o senhor acha justo a população pagar a conta diante das falhas do governo Dilma?
Ademar -
Não acho que o problema está em falhas da gestão. Defendo que é necessário a CPMF para cobrir as despesas de um serviço essencial para população, que é a saúde, e um sistema que dá direito a todo cidadão à saúde publica, fazendo fiscalização. Agora, quero dizer para você uma coisa: você deve ter convênio. Procure um profissional que você precisa fazer uma consulta e ver se você marca para o dia que você precisa... não consegue.

Tribuna - Como avalia o começo do governo de Rui?
 Ademar -
Excelente. Rui tem uma pegada boa, muito firme. Ele tem pontuado bem perante a população. Tenho gostado da firmeza e da forma transparente do governador. Não suportamos mais políticos que vivem de mentiras. E Rui tem postura muito clara. Tenho admiração profunda pela forma como ele tem conduzido o governo. Ele tem, digamos assim, pontuado bem perante a população. 

Tribuna - Desgastado, o PT sofrerá impactos na eleição de 2016?
Ademar -
Nós estamos num campo extremamente difícil,  não podemos negar. Se nós desconhecermos isso, estaremos desconhecendo a realidade. Acredito que nós vamos ter problemas, mas temos muitos méritos, o Brasil a partir de 2003 fez o maior programa de inclusão social de qualquer país contemporâneo  e tenho certeza que a população vai compreender que não pode voltar para o atraso. Continuamos trabalhando, não paramos, desaceleramos, temos serviços na área de esporte, temos trabalhado.  Melhorando sistema de iluminação do município, muita pavimentação, agora a população quer mais, a cada dia ela é mais exigente e nós  precisamos cada vez mais compreender a população.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Hieros Vasconcelos Rego