Bahia / DESATIVADO

Moradores de Madre de Deus deixaram as casas após explosões

Cidade é considerada um ?barril? de pólvora

Foto: Romildo de Jesus

De repente o pânico. Por volta das nove horas de ontem, mais de 300 pessoas tiveram que ser evacuadas às pressas das casas onde moram por causa dos riscos de explosões causadas por um incêndio em um tanque de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) da Petrobras em Madre de Deus, onde fica a Refinaria Landulpho Alves. Temendo riscos para os moradores, a Defesa Civil deslocou todos eles para uma área a céu aberto, situada a um quilômetro do local, próxima à praia, até que a situação se normalizasse.

O fogo começou após uma válvula de um dos três tanques de armazenamento de gás de cozinha (GLP) do Parque Maria Quiteria, ter apresentado defeito. Com o entupimento da válvula, as chamas de uma das torres que normalmente resultam da queima de gás lançaram fagulhas em um dos tanques e este acabou pegando fogo. Brigadas de Incêndio do terminal de Madre de deus, da Refinaria Landulpho Alves e do 10º Grupamento do corpo de Bombeiros da cidade de Simões Filho, situada  a pouco mais de 50 quilômetros do local, foram acionadas  para combater as chamas e resfriar os outros dois tanques que  estavam ameaçados.

Somente duas horas depois, o fogo foi controlado, mas por causa dos riscos de explosões, as operações no terminal Aquaviário de Madre De Deus foram suspensas. A coordenação da Defesa Civil de Madre de Deus informou que mais de 300 pessoas foram retiradas às pressas de suas casas e levadas para uma área próxima à praia, e que vai investigar, junto com a Petrobras as causas do incêndio. 
O Parque de Gás Maria Quitéria, da Petrobras, fica em uma área densamente povoada do bairro Suape, conhecida como Curupeba, por onde passam várias tubulações de derivados de petróleo que interligam a Refinaria Landulpho Alves ao Terminal de Madre de Deus e às áreas onde estão armazenados milhões de metros cúbicos de combustíveis.

Por volta das 11 horas, duas horas após o acidente, a Assessoria da Transpetro, empresa subsidiária da Petrobras, emitiu uma nota da sua diretoria, no rio de Janeiro informando que vai abrir sindicância para averiguar as causas do incêndio e afirmando que a situação foi controlada. No escritório da Transpetro, em Madre de Deus, a Gerência de Comunicação informou que não houve interrupção das operações de abastecimento de combustíveis, principalmente do GLP, e que as atividades na refinaria não foram afetadas.

Segundo informou a Gerência de Comunicação da Transpetro em Madre de Deus, assim que soou o alarme de sinistro, com as chamas atingindo um dos tanques que armazenam gás, iniciou-se a transferência  do produto para um segundo tanque que estava vazio e que também foi resfriado para evitar riscos de explosões. Ainda segundo a empresa, por questões de segurança, esses processos de resfriamentos continuarão por 48 horas, mas que mesmo assim, já não há riscos para os moradores, que puderam, por volta do meio dia, retornarem para suas casas.

O Terminal Aquaviário de Madre de Deus (Temadre), onde fica o Parque Maria Quitéria, de armazenamento de gás GLP,  é o principal ponto de escoamento da produção da Refinaria de Mataripe (Landulpho Alves), cujos derivados abastecem  Salvador e o interior do estado, e as regiões Norte e Nordeste. Terminal operado pela subsidiária Transpetro. Com mo incêndio em um dos tanques, as operações no Temadre  com os navios que estavam atracados foram temporariamente suspensas, voltando ao normal logo após o incêndio ter saído controlado.

Na área compreendida entre o Terminal de Madre de Deus e a Refinaria Landuplho Alves, situada em Mataripe, passa dois oleodutos que  levam derivados de petróleo por uma extensão de 394 quilômetros até Jequié, no Sudoeste do Estado.  As duas tubulações têm um diâmetro de oito e 10 polegadas. 

“Hoje o medo não vai nos deixar dormir”

Três dias antes do incêndio que os moradores da localidade de Cururupeba, no bairro de Suape,  em Madre de Deus, esdtavam, apreensivos por causa do forte odor de gás de cozinha qie vinha da área dos tanques do Parque Maria Quitéria. Na manhã de ontem, por volta das nove horas, quando soou o alarme de sinistro, muitos ainda estavam em casa preparando-se para sair para pescar ou trabalhar, quando foram surpreendidos pelas chamas em um dos tanques.

“Foi um Deus nos acuda com todo mundo correndo pra todos nos lados”, conta a moradora Andréa Santos da Silva, que com o filho de nove anos teve que correr por quase um quilômetro em direção à praia, com medo de uma possível explosão. A dona de casa Eliane Elias de Souza, de 43 anos, desmaiou e teve que ser levada às pressas para o hospital com insuficiência respiratória. “Senti um forte cheiro de gás e faltou ar.  Quando acordei estava na emergência do hospital. É o que me lembro”, disse.

O coordenador da Defesa Civil de Madre de Deus, Everaldo Fontes, disse que apesar da intervenção rápida, houve muita correria, mas que mesm o assim conseguiu fazer com que todos fossem para a área próxima à praia, considerada mais segura por ser um local a céu aberto. Há  pouco mais de um mês uma parte dos moradores da comunidade  foi submetida a um treinamento de evacuação em caso de sinistros.

Vigília à noite
Por causa dos riscos de exploões, além dos moradores, os alunos da Escola Antônio Carlos Magalhães (ACM) tiveram que ser evacuados às pressas.  O morador Israel Valadão Alves era um dos mais revoltados com a situação. Segundo ele, os moradores de Cururupeba não têm quaisquer orientações de como agir em casos de incêndio em uma das instalações da Petrobras na área. “Queremos segurança e hoje, com certeza, ninguém vai dormir temendo novo incêndio”, disse.
Outro morador,  Danilo Queiroz Silva, de 23 anos, que já trabalhou na Transpetro justamente na montagem de um dos tanques de armazenamento de gás de cozinha,  teve que pular um muro para fugir dos riscos de explosões. Sua casa é a mais próxima do local onde ficam os tanques com gás. Ele contou ainda que vários outros moradores correram em direção ao manguezal e pegaram os barcos e fugiram para o mar.

Existem ainda outras 18 tubulações com diâmetros que variam de quatro a 34 polegadas que transportam gás de cozinha e derivados de petróleo que  ligam o terminal à refinaria, passando próximas às casas e que corre em paralelo à rodovia que dá acesso á cidade, levando os produtos do terminal até a refinaria.

Cidade é considerada um “barril” de pólvora

Quem chegou primeiro, os atuais moradores de Madre de Deus ou a Petrobras com a Refinaria Landulpho Alves e o Temadre?. Antes da chegada da Petrobras, em 1949, logo após a descoberta do petróleo na Bahia, em 1938, Madre de Deus era apenas uma ilha cidade, que pertencia ao município de Salvador , habitada por pescadores e muito visitada por veranistas.

Seu antigo nome era Ilha dos Cururupebas, em virtude do cacique  tupinambá Cururupeba que habitava nessa ilha e que sucumbiu aos colonizadores portugueses. Em 1989 foi emancipada e hoje o município tem uma área de 32.201 quilômetros quadrados onde vivem 19.600 habitantes, segundo estimativas do IBGE feitas em 2013.

Com a chegada da refinaria Landulpho Alves, em 195o, e a construção do terminal Marítimo sete anos depois, a cidade ficou cercada por tanques que armazenam petróleo e derivados, e cortada por dezenas de tubulações que transportam esses produtos para a refinaria, e o terminal onde atracam navios petroleiros de grande porte. Bairros como Suape e Caípé têm suas casas construídas quase que sobre as tubulações.

A refinaria 
A Refinaria Landulpho Alves  (RLAM) está localizada no município de São Francisco do Conde, mas sua interligação com o Terminal de Madre de Deus (Temadre), faz com que a maior parte de suas atividades e áreas de armazenamento fique neste município. O Temadre ocupa uma área de  seis quilômetros de extensão da ilha, mais de 50%  de todo o território do município. A RLAM possui capacidade instalada para 323 mil barris/dia. É a segunda em capacidade instalada no País depois da Refinaria de Paulínia, em São Paulo.

A refinaria começou a ser construída em 1949 e foi concluída em 1950. O terminal marítimo da Petrobrás (Temadre) foi implantado em 1957 e é o terceiro maior do país em capacidade de armazenamento (660 mil metros cúbicos) e maior do Nordeste, o Terminal de Madre de Deus (Temadre), na Bahia, completa 58 anos em setembro.  Ele foi o primeiro terminal aquaviário do Sistema Petrobras a entrar em operação e, atualmente, é o principal ponto de escoamento da produção da Refinaria de Mataripe (RLAM), cujos derivados abastecem as regiões Norte e Nordeste do País. As operações diárias de descarga de navios de petróleo correspondem, hoje, a 13% da produção nacional.