
O deputado Angelo Bonelli, da Itália, usou sua conta no X para denunciar o paradeiro da deputada em Roma, localizando o apartamento onde estava hospedada.
A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) foi presa nesta terça-feira (29 de julho), em Roma, capital da Itália, após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
A prisão foi efetuada pela polícia italiana com base em um mandado expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. Zambelli havia sido condenada em definitivo no mês de junho a uma pena de dez anos de prisão por crimes relacionados à invasão de sistemas do Poder Judiciário brasileiro, falsidade ideológica e inserção de dados falsos no sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A operação que resultou na prisão da parlamentar contou com a cooperação entre as autoridades brasileiras e italianas, por meio da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal), após a inclusão de seu nome na lista de procurados internacionais.
Zambelli havia deixado o Brasil em maio, poucos dias após ser condenada pelo STF, viajando inicialmente para os Estados Unidos e, posteriormente, estabelecendo-se na Itália.
A decisão do Supremo Tribunal Federal que resultou na perda do mandato e na condenação de Zambelli foi baseada em provas apresentadas durante a colaboração premiada do hacker Walter Delgatti Neto, condenado a 8 anos e 3 meses de prisão.
Segundo os autos do processo, Zambelli contratou Delgatti para invadir os sistemas do CNJ com o objetivo de criar documentos falsos que pudessem comprometer integrantes da Suprema Corte. Ela também teria intermediado repasses financeiros com recursos de emenda parlamentar para custear os serviços do hacker.
Além da pena de reclusão, a deputada foi condenada ao pagamento de uma multa de R$ 2 milhões por danos morais coletivos e teve seus direitos políticos suspensos, perdendo o mandato obtido nas eleições de 2022. O caso gerou forte repercussão política e expôs o envolvimento de figuras públicas em práticas criminosas digitais voltadas à desestabilização das instituições.
O ministro Alexandre de Moraes, em sua decisão, destacou que os crimes cometidos por Zambelli não configuravam meras infrações administrativas, mas sim ataques diretos ao Estado democrático de direito. Segundo ele, “a articulação de uma parlamentar para invadir sistemas judiciais e criar documentos falsos revela uma ameaça estrutural à credibilidade do Judiciário e à ordem pública”.
Apesar da ordem de prisão já estar em vigor desde junho, a defesa de Zambelli havia sustentado que não havia elementos suficientes para a extradição, argumentando que a parlamentar estava disposta a colaborar com a Justiça italiana. Contudo, o Ministério da Justiça da Itália acatou o pedido brasileiro, considerando válidos os elementos apresentados pelo STF e autorizando a prisão. O processo de extradição formal já foi iniciado, e a expectativa é de que Zambelli seja transferida para o Brasil nas próximas semanas, caso não haja impedimentos legais adicionais.
Com a prisão de Zambelli, o cenário político brasileiro enfrenta mais um capítulo envolvendo parlamentares aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, cuja base de apoio foi marcada por sucessivos embates com o Supremo Tribunal Federal. Zambelli era uma das figuras mais proeminentes desse grupo, tendo protagonizado episódios de forte repercussão pública, como quando sacou uma arma em via pública durante o segundo turno das eleições de 2022, fato que também gerou inquérito separado no STF.
Até o momento, a defesa da parlamentar não emitiu nota oficial após a prisão. Em declarações anteriores, Zambelli havia afirmado que era vítima de perseguição política e que pretendia se apresentar voluntariamente à Justiça italiana, o que não ocorreu. A assessoria do Partido Liberal (PL) também não se manifestou sobre a cassação de seu mandato nem sobre o futuro de sua vaga na Câmara dos Deputados.