O deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA), vice-presidente da CPI da Petrobras que investiga os casos de corrupção identificados na estatal pela Polícia Federal, acredita que terá bons resultados ao final dos trabalhos da comissão. Segundo o tucano, a atuação da CPI e da Operação Lava Jato se complementam e são convergentes.
Em entrevista à Tribuna, o parlamentar critica a gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), defende o impeachment da petista e diz que a culpa da crise atual é do ex-presidente Lula, que escolheu a dirigente como sua sucessora. Mais além, destacou que a oposição não vê como ameaça o anúncio do ex-presidente de que pode ser candidato em 2018.
Disparou que a preocupação do ex-presidente Lula deve ser com a Polícia Federal. O deputado, que é ex-prefeito de Salvador, diz torcer para que a capital baiana saia ganhando na disputa entre o governador Rui Costa e o democrata ACM Neto com ações voltadas para a cidade.
Confira a entrevista completa:
Tribuna - Deputado, o senhor está em uma função estratégica de vice-presidente da CPI da Petrobras, como avalia o andamento da comissão até agora?
Imbassahy - Vai bem. Fatos revelados pela Lava Jato comprovados na CPI, algumas novidades, muita documentação, quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico. Muita gente envolvida nesse processo do petrolão, o que permite a gente adiantar que teremos um bom resultado. Tivemos excelentes acareações, bons depoimentos. Estamos indo ainda a Curitiba para oitiva e acareações de pessoas que estão presas pela Polícia Federal.
TB - Qual o ponto alto que a CPI teve até agora? Seriam as acareações que aconteceram na última semana?
Imbassahy - O ponto alto eu acho que foi o primeiro depoimento do Pedro Barusco, porque naquele momento ainda não se tinha ideia da dimensão da corrupção única que o PT instalou na Petrobras. Barusco era um gerente da Petrobras e naquele momento ele revelava para o Brasil inteiro, a imprensa nacional estava toda presente, detalhes da roubalheira instalada no governo Lula e que foi ampliada no governo da presidente Dilma. Percentuais de contratos destinados a partidos políticos, a divisão de propinas entre dirigentes da Petrobras, o acúmulo só dele, Barusco, de roubalheira na ordem de R$ 200 milhões estarreceu a todo o país. Ele disse que toda essa roubalheira foi institucionalizada no governo do PT a partir de 2003. Esse foi o ponto chocante de toda narrativa da CPI.
TB - Houve muita crítica de que a CPI não teria um resultado prático porque a Lava Jato estava avançada nos processos de investigação. CPI e Lava Jato competem de alguma forma?
Imbassahy - São trabalhos convergentes. A CPI do Petrolão, a Lava Jato, com a Polícia Federal, Ministério Público Federal e o juiz Sérgio Moro. Eu estive, inclusive, com o juiz Sérgio Moro em Curitiba e traçamos algumas diretrizes da CPI sempre na linha da contribuição com a investigação. É evidente que a força-tarefa composta pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal tem muito mais instrumentos, mais capacidade, especialização na localização e investigação, até porque começaram antes e estão na frente. Não vamos competir na investigação, podemos encontrar algumas informações como a questão da lavagem do dinheiro, que é um aspecto que a Lava Jato não está examinando com profundidade e nós já observamos que mais de 400 milhões de dólares de dinheiro sujo do Petrolão foram enviados para fora do país com mais de uma centena de operações fraudulentas por empresas fantasmas e com operações de compras fora do país que aconteceram e não houve nenhum tipo de controle nem do Banco Central, nem tampouco do Coaf, da Receita Federal.
TB - Existe algum temor de represália por o senhor estar na linha de frente na CPI apertando figuras do PT?
Imbassahy - Não, não tem isso. Às vezes a gente sente algum tipo de pressão, de acusação que é feita contra o partido, membros do partido, mas isso de forma nenhuma impede ou traz obstáculos na nossa determinação de concluir as investigações e apresentar um bom resultado não apenas da investigação propriamente dita, como também na modernização da legislação brasileira para reduzir as brechas que se estendem na questão da impunidade e na questão da governança, que é fundamental.
TB - O que dizer das acusações que pesaram agora contra o presidente do PSDB, o senador Aécio Neves, que teria recebido propina na época da construção da usina de Furnas. Tem algum fundamento nisso e como é que o partido está vendo esse tipo de acusação?
Imbassahy - Na verdade, esse foi um assunto que foi colocado novamente pelo doleiro Alberto Youssef na base de que teria ouvido do falecido José Janene que o senador Aécio poderia ter sido beneficiado em algum esquema de Furnas. Mas é tão frágil esse tipo de comentário que o próprio Ministério Público Federal achou por bem arquivar. Então, não existe nenhuma preocupação, não tem absolutamente nada em relação a esse fato. Nós vamos prosseguir as nossas investigações, mas sempre dando relevo àquilo que merece importância para se investigar. Qualquer coisa na base do ouvir dizer de uma pessoa já falecida evidentemente que isso não pode ser levado adiante.
TB - A gente está vendo a prisão de pessoas poderosas, grandes empresários, políticos, coisa que até pouco tempo era inimaginável. O senhor acredita que as relações promíscuas entre políticos e empresários vão deixar de existir? Vão ter dificuldade de investir, sobretudo, em caixa dois, daqui em diante?
Imbassahy - Eu sempre acredito nisso, mas temos também que fazer uma constatação. Veja que o mensalão já foi o primeiro sinal importante em que políticos brasileiros foram, mais do que denunciados, foram julgados, condenados e para a cadeia. Alguns deles estão na Papuda, outros em prisão domiciliar. O que entendia a partir daí é que poderia ter havido uma boa lição, mas não, continuou. O PT, o próprio José Dirceu, a Polícia Federal fala que ele, mesmo condenado e preso, continuou operando. É uma questão de reincidência. Quanto mais você combate à impunidade, quanto mais você avança, evidentemente que esses espaços vão diminuindo. Então, essa promiscuidade que prejudica e é nociva à República tende a reduzir bastante, sobretudo depois dessa Operação Lava Jato.
TB - E isso já terá impacto no financiamento de campanha do próximo ano?
Imbassahy - Não tenho a menor dúvida, e é bom que tenha. Quanto menos o poder econômico influenciar no voto, é melhor para um voto livre, consciente e um voto mais refletido. Isso já será, sem dúvida nenhuma, um bom resultado dessa Operação Lava Jato.
Tb - A presidente Dilma já admitiu que existem falhas em seu governo. Você acredita que as coisas podem melhorar ou aposta que a saída agora seria um impeachment, uma renúncia?
Imbassahy - Ela não engana mais, ela mentiu descaradamente em todo processo eleitoral anunciando que as contas de energia seriam reduzidas, sabia que não era possível isso, já tinha a crise no setor elétrico. Anunciou que os combustíveis não teriam aumento, ela já sabia que não era possível isso, mas mentiu. Anunciou que as taxas de juros permaneceriam estabilizadas ou até reduziria. Afirmava também que a economia estava indo às mil maravilhas. Mentiu descaradamente. Uma presidente que mente da maneira como ela mentiu perde a credibilidade, e ficou acentuado o descrédito dela com esse envolvimento no Petrolão. Ela foi ministra de Minas e Energia durante um longo período e foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras de 2003 a 2010. Foi ela quem autorizou a compra de Pasadena. Ela quem nomeou esses diretores todos que estão presos. Então, dizer que não sabia de nada, é uma presidente que mentiu e não tem credibilidade. A saída para o Brasil é o impeachment dela, no caso de não haver renúncia. Como ela não tem grandeza para renunciar, estamos vivendo essa agonia. O país está agonizando, a economia agonizante. Fosse uma presidente que tivesse um mínimo de dignidade e grandeza, pediria para sair em benefício do país.
TB - A presidente Dilma atravessa hoje uma crise política, econômica e a pior de todas, a crise de confiança junto à população. Ela, de alguma forma, tem uma sobrevida com possibilidade de reverter esse cenário com esse momento de tentativa de contra-ataque, ou não?
Imbassahy - Não vejo a menor condição. E ela mente para dizer que não mentiu no passado. Recentemente ela falou que não tinha percebido a gravidade da situação. Isso é mentira. Mentira associada à incompetência. Ela tem que sair para o bem, pensar nos brasileiros. Ela seria, até certo ponto, compreendida se ela pedisse para sair. Mas como ela diz que não vai sair, resta a nós do Congresso Nacional não ficar na expectativa de esperar o TCU fazer julgamento das pedaladas ou TSE fazer avaliação de que ela abusou de dinheiro sujo na campanha dela. Temos a obrigação de buscar o início desse processo de impedimento e ficar associado ao sentimento nacional.
TB - O ex-presidente Lula anunciou que poderá ser candidato em 2018. Como vê essa possibilidade? Chega a ser uma ameaça aos planos do PSDB?
Imbassahy - A preocupação do ex-presidente Lula deve ser com a Polícia Federal. Essa que é a preocupação atual dele. Pensar no futuro é uma técnica diversionista. Acho que ele tem a questão básica é o que está sendo investigado que o envolve diretamente dentro da Operação Lava Jato. Dizer que vai ser candidato, não sei se até lá com essas possibilidades. Nesse momento, as pesquisas mostram que ele perde bastante popularidade. Você observa que o PT é um partido em declínio. Muita gente deixando o Partido dos Trabalhadores, que tem quadros valorosos, mas o partido se perdeu ao longo da sua caminhada. Isso é uma coisa reconhecida por muitos, inclusive, do PT. O Lula falar que vai ser candidato em 2018, ele deveria estar preocupado é com a Polícia Federal.
TB - Você acha que a Lava Jato vai chegar a ele a ponto de ter prisão?
Imbassahy - Se vai prender ou não vai, eu não posso fazer uma afirmativa assim definitiva. Mas vai chegar o momento que ele será chamado para prestar esclarecimentos. Esse esquema do Petrolão não poderia ser feito, como até disse o Alberto Youssef no último depoimento, apenas com entendimentos dentro da Petrobras, empresários e políticos. Isso tinha realmente um comando que vinha do Palácio do Planalto.
TB - Trazendo sua análise para o cenário local, como está vendo essa disputa entre o prefeito ACM Neto e o governador Rui Costa em Salvador?
Imbassahy - Eu espero que a cidade ganhe, em primeiro lugar. Porque quanto mais obras o governador Rui Costa trouxer para Salvador, melhor. Mas que também não se esqueça de olhar o interior, porque são recursos que precisam ser bem distribuídos, não pode ser só ação de natureza ad disputa do poder que leve a atender Salvador. Tem que ser uma coisa bem distribuída.
TB - O que você acha que vai definir?
Imbassahy - A eleição de 2016 vai ter muitas coisas imprevisíveis. Primeiro, o que vai acontecer no país, se a presidente vai renunciar, se vai ter impedimento, essas coisas todas. Segundo, tem a economia que está arruinada. A prefeitura de Salvador, o governo da Bahia, o governo de São Paulo, o mais forte economicamente no país, todos estão sentindo essa crise. Tem muitos fatores que estão aí. Ninguém, nesse momento, sinceramente, está preocupado e nem deve estar se preocupando com eleição municipal. Deve estar se preocupando com a recuperação da economia, na redução do desemprego, que é a face mais cruel da crise econômica.
TB - Você acha que o PT vai ter nome para concorrer com o prefeito ACM Neto ou dessa vez não vão nem lançar candidato?
Imbassahy - Essa é uma questão do PT. Mas a gente, como observador da cena, vê algumas dificuldades dentro do partido. Mas o PT certamente vai encontrar seus caminhos e apresentar o candidato que ele achar melhor, até mesmo sem ser do quadro do Partido dos Trabalhadores. Pelo que a gente lê e ouve, existe uma grande dificuldade para localização de nomes que tenham assim uma condição de largada que desse uma sustentação. Evidentemente, o PT tem nomes, mas parece que tem graves dificuldades.
TB - O senhor ainda continua defendendo a ida do prefeito ACM Neto para o PSDB e aposta que essa mudança ocorre já para o pleito do ano que vem?
Imbassahy - O prefeito ACM Neto tinha um pensamento inicial de se deslocar do Democratas, mas depois evoluiu permanecendo no partido. É uma boa decisão, uma pessoa que tem experiência na política estadual e na nacional e a impressão que eu tenho é que, embora convites tivessem sido feitos para ingressar em outros partidos, ele tomou a decisão de permanecer no Democratas.
TB - Como avalia o governo ACM Neto e o que colocaria de maior acerto até agora e o maior erro que ele pode ainda corrigir?
Imbassahy - No conjunto da obra, está fazendo um governo que tem uma aceitação muito grande pela população de Salvador. Isso me deixa alegre, porque eu também fui prefeito e não é fácil governar uma cidade tão desigual com recursos insuficientes. É torcer para que essa crise que está acontecendo no país não atinja tão duramente a nossa capital e ele possa prosseguir. Acho até que em alguns momentos ele teria que fazer algumas revisões de alguns compromissos, não porque ele deseje fazer essas revisões, as próprias circunstâncias podem levar ele a essa situação desagradável. Mas a população vai entender.
TB - Como avalia o governo Rui Costa até agora e o que o diferencia do governo Wagner?
Imbassahy - Parece uma pessoa mais dedicada ao trabalho e menos dedicada à política partidária. Embora tenha essa ação aqui na capital, talvez uma preocupação do governador com 2018 vendo alguns fantasmas pela frente ele faz isso, mas como falei, que Salvador saia ganhando com tudo isso. Mas me parece uma pessoa mais dedicada ao trabalho do que à ação da política, diferente do antecessor.
TB - Essa escassez de recursos no estado e na prefeitura de alguma forma já vai começar a refletir na dificuldade de executar obras e com certeza na eleição de 2016?
Imbassahy - As obras federais praticamente estão paradas em todo o país. Você vê esse esforço aí de Dilma para lá, para cá tentando fazer uma relação direta com a população, mas não tem nada acontecendo. Está tudo parado. É uma coisa gravíssima, porque a população perdeu a confiança, os investidores não investem, agora mesmo o PIB com esse número negativo de 1,9. Estamos vivendo o que se chama, no meio dos economistas, a estaginflação, que é a combinação de estagnação com inflação alta. É o pior dos mundos. E a gente não vê a saída, porque a presidente realmente não tem capacidade de liderar a solução, ela destruiu a economia.
TB - Onde foi a falha?
Imbassahy - A escolha do Lula. Ele escolheu uma pessoa que sabia que era desqualificada para a função de presidente. Ela já tinha atingido o nível de competência dela, já havia até passado. Quando ela foi chamada para ser ministra, já tinha passado o nível de competência dela e o Lula sabia disso. Então, inventou um personagem, disse ao povo brasileiro que ela era uma grande gestora, está provado que é uma incompetente. Disse ao povo brasileiro que ela é uma mão de ferro, não ia permitir nenhum tipo de irregularidade, também não é verdade. A gente viu a Lava Jato desvendando essas falcatruas todas. Acho que o grande erro foi do ex-presidente Lula que escolheu uma incompetente.
Colaboraram: Aparecido Silva e Fernanda Chagas.