O deputado federal licenciado pelo PT e secretário estadual de Turismo, Nelson Pelegrino, aponta o orçamento pequeno da sua pasta como principal gargalo do setor na Bahia.
Em entrevista à Tribuna, o petista nega veementemente que seja candidato à prefeitura de Salvador na eleição municipal do ano que vem e diz que seu partido deve estar apto a apoiar o nome de algum aliado. Para o secretário, as crises política e econômica que o PT enfrenta podem não ter muito impacto sobre o pleito de 2016, já que, segundo o gestor, questões nacionais ficam em segundo plano nas disputas municipais. “O que vai ser importante na eleição de 2016 para a classe política como um todo é a história de vida de cada candidato e suas propostas”, acredita Pelegrino.
Confira a entrevista completa:
Tribuna da Bahia – Secretário, como você avalia esse começo do governo Rui Costa?
Nelson Pelegrino – Eu diria que o governador tem sido, nem falaria uma surpresa agradável porque eu já tinha a expectativa de que ele seria um bom governador, em um cenário de restrição fiscal que estamos vivendo, Rui tem tido a capacidade de fazer uma boa gestão, ou seja, maximizar o pouco que nós temos, tem inaugurado obras, tem imprimido à gestão um ritmo muito forte e tem tido uma capacidade de diálogo muito grande, inclusive do ponto de vista da movimentação política e da relação com a população. Costa está bem avaliado. Não tenho dúvida nenhuma de que o governador fará um grande governo.
TB – A imagem do governador Rui Costa está sendo construída como a de um gestor. Como você está vendo o descolamento da imagem dele da imagem do PT que está tão desgastada?
NP – Eu diria que ele é um bom gestor, além de bom gestor é uma pessoa que tem tido a capacidade de se comunicar muito fortemente com a população. Principalmente a população mais humilde, pela própria história de vida. O seu governo tem atacado questões que são essenciais e embora Rui não negue a sua origem petista, o seu partido, ele tem sempre estado na defesa do partido, da presidente Dilma, mas de fato hoje ele tem essa capacidade que eu acho positiva de ir além dos muros do PT. Aliás, Lula também foi além do PT e isso é muito positivo. Rui é líder de uma grande coalisão de partidos, que vão mais além do PT.
TB – Qual o principal gargalo existente hoje no turismo do estado?
NP – Diria que nós precisamos, eu tenho conversado com o governador sobre isso e acho que é uma sensibilidade dele, reposicionar o turismo dentro da nossa estratégia de prioridades. O turismo é muito importante para a Bahia, representa 7,5% do nosso produto interno bruto, é o segundo segmento que mais emprega na Bahia e é preciso que isso tenha uma correspondência do ponto de vista orçamentário. Eu acho que nosso orçamento está muito aquém do necessário para o turismo. Isso não é de agora, é histórico. Por determinação do governador Rui Costa eu tenho trabalhado muito na transversalidade e assim estou conseguindo multiplicar o orçamento no turismo. Toda vez que eu pauto a Segurança Pública, eu estou investindo no turismo, toda vez que eu pauta o Desenvolvimento Urbano para a infraestrutura da cidade, estamos fazendo investimentos no turismo, toda vez que tenho a capacidade de pautar a comunicação em questões promocionais, nós estamos tratando do turismo. Quando o governador apoia eventos como o Carnaval, o São João, que são festas importantes, estamos também ampliando o investimento no turismo. Então, eu diria que o problema do turismo, não somente na Bahia, mas no Brasil, e isso é um consenso entre os secretários de turismo no Brasil inteiro e também diz o próprio ministro do Turismo, é que nós temos que repensar o turismo para o país e para a Bahia. O Brasil e a Bahia têm vocações para o turismo, o país com dimensões continentais e precisa que façamos investimentos no setor, como em infraestrutura, na promoção dos destinos e também na melhoria da qualidade dos serviços de atendimento ao turista.
TB – A crise financeira piora a situação do turismo no estado ou ela cria uma janela de oportunidades que pode favorecer, inclusive, o crescimento do turismo?
NP – Eu diria que crise é sempre um cenário de oportunidades, como dizem os orientais. Trouxe, por exemplo, a oportunidade de investirmos no turismo interno, e a Bahia, que é o principal destino no Nordeste, podermos ganhar muito com isso. No próximo dia 10 de agosto vamos fazer uma grande promoção através da Brastur, que é uma entidade que congrega todas as associações de turismo no Brasil e este ano tem como prioridade o Nordeste. Nós queremos disputar, primeiro, os turistas baianos. Metade da nossa movimentação turística é interna no nosso estado, queremos que os baianos conheçam nossos destinos turísticos. Segundo, queremos disputar os turistas brasileiros para que eles venham para cá, os estrangeiros da mesma forma. Essa é a nossa estratégia nesse momento. A alta do dólar vai estimular que o destino Brasil fique mais barato, já que viajar para o exterior ficou mais caro, e fazer com que o turismo externo seja fomentado e a Bahia, o terceiro destino turístico do Brasil, aumente sua capacidade. Não tenho duvida nenhuma que a crise compromete os investimentos, infraestrutura, e isso acaba criando dificuldade porque o turismo precisa de infraestrutura e investimento na área turística e de sobretudo de promoção e fomento.
TB – O que você diz sobre essas desavenças entre você e o superintendente da Bahiatursa, Diogo Medrado, onde está o problema, secretário?
NP – Eu não vejo problema nenhum, eu sou o secretário, ele o superintendente. Nós temos que ter uma boa relação e tenho procurado fazer isso. Da minha parte não há nenhum problema, tenho muito boa relação com Diogo, sempre procurei cultivar essa relação. É uma relação de hierarquia. Eu como secretário, e a secretaria tem a obrigação de fazer o planejamento das ações da pasta, inclusive envolvendo as três superintendências: Bahiatursa, superintendência de investimento em infraestrutura e a superintendência de serviços. E a gente tem que fazer não só esse planejamento como também as superintendências têm que executar esse planejamento. E é isso que nós temos que fazer agora. Eu como secretário também tenho a obrigação de zelar pelo funcionamento como um todo da secretaria. E eu tenho mais experiência, não somente de idade, como também de serviço público. Eu tenho procurado, inclusive, proteger todos, inclusive ele, em relação às observâncias de processos legais, que são procedimentos regimentais que tem que ser obrigatoriamente observados.
TB – O secretário teceu críticas à festa de São João e nos últimos dias o ex-deputado Marcos Medrado fez um apelo para que o governador demitisse Diogo da Bahiatursa por conta do tensionamento na relação de vocês. A disputa é política ou é do campo administrativo? Já que até pouco tempo vocês eram aliados e eles ajudaram inclusive na sua eleição.
NP – Muita gente me ajudou na minha eleição e tenho uma boa relação com todos que me ajudaram. Como eu já ajudei muita gente também. Inclusive lá na região do Subúrbio eu tenho tido uma atuação muito forte. Eu diria, e volto a repetir, que da minha parte eu quero trabalhar em harmonia com todos, como tenho trabalhado com todos os secretários. Você perguntar a todos os secretários se algum tem problema com Nelson Pelegrino, pelo contrário, tenho trabalhado com muita harmonia com todos os secretários, todos os órgãos, e a minha disposição e continuar trabalhando por todos. Quem me conhece sabe que eu sou de ter um bom relacionamento com todo mundo. Eu tenho muita facilidade, até porque é determinação do governador Rui Costa de trabalhar com transversalidade, com interação, e tenho feito isso com todos os secretários, diretores de órgãos, e não vai ser diferente com o superintendente da Bahiatursa.
TB – O governo ACM Neto, como o senhor avalia? Me aponte um erro e um acerto.
NP – Há um processo de requalificação na cidade, normal, isso é importante para o turismo. Eu disse desde o primeiro dia que assumi que uma coisa são nossas divergências políticas eleitorais, outra coisa é o secretário de Turismo e o prefeito ACM Neto. Minha disposição como secretário é de trabalhar na Seinfra, não é na governadoria. De trabalhar de forma integrada com todos os municípios baianos, principalmente aqueles que são turísticos, e Salvador é o principal deles. Eu tenho tido uma interação muito forte com o secretário Érico Mendonça [da pasta de Turismo de Salvador], estamos com uma estratégia de requalificação dos pontos turísticos de Salvador e tudo que estiver ao alcance do governo do estado, o governador Rui Costa tem dado vários sinais nesse sentido de melhor o destino de Salvador, nós faremos. Evidente que quando a gente encontra determinadas falhas, nós vamos fazer as observações que são necessárias para melhorar o turismo. Ontem, na reunião, por exemplo, foi levantada a questão das crianças em risco social que a prefeitura está diligenciando no sentido de ajudar, tem a questão do Elevador Lacerda, do Plano Inclinado, então quando a gente tiver essas questões, tanto as cobranças que dizem respeito ao estado nós estamos dispostos a assumir nossas responsabilidades e trabalhar por elas, mas de forma fraterna, parceira, nós estamos pedindo à prefeitura que faça a parte dela. Isso, dentro de uma relação institucional, normal, que eu acho que tem que acontecer.
TB – O PT terá candidato a prefeito em Salvador em 2016?
NP – O PT, ao longo das últimas eleições, tem sido protagonista na cidade. Teve candidatos bem votados, eu, inclusive, fui ao segundo turno na última eleição e tive 48,5%. Portanto, acho que o PT tem legitimidade para apresentar um nome, não tenho dúvida nenhuma. Mas acho que quem quer apoio tem que estar aberto a apoiar.
TB – O seu nome está no páreo, é candidato?
NP – Eu não sou candidato. Eu já disse, assumi um compromisso com o governador Rui Costa que ficaria até o final do governo e estou disposto a cumprir esse compromisso. Não sou candidato, mas sou um eleitor, um dos deputados mais votados na cidade. Tenho uma responsabilidade com ela e quero ajudar na construção de uma alternativa para Salvador.
TB – Como o senhor está vendo essas investigações da Operação Lava Jato, o senhor que é um deputado federal e está licenciado?
NP – Eu acho que são investigações que são necessárias, mas acho que tem que observar os direitos constitucionais e legais, considero importante, e essa investigação não pode ser seletiva no sentido se ser direcionada a determinados partidos, mas deve atingir a todos. Deve observar a legalidade, os direitos constitucionais, ela sendo isenta, acho necessária, o Brasil precisa.
TB – O senhor acredita que essas investigações podem, de alguma forma, atingir o ex-presidente Lula?
NP – Acredito que não.
TB – O secretário acredita que tem cenário para um pedido de impeachment da presidente Dilma?
NP – Também não. Não há elementos legais que fundamentem isso. As contas da campanha dela foram aprovadas, o que se está chamando de pedaladas fiscais não existiu. Eu estive recentemente em uma reunião da bancada em Brasília, onde o ministro Adams e o ministro Nelson Barbosa fizeram uma extensa apresentação dizendo que o governo agiu estritamente dentro da lei, inclusive, já tem decisões do Tribunal de Contas da União anteriores aprovando o que foi feito. Do ponto de vista da campanha eleitoral, as contas foram aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral, e eu acredito que tanto na eleição de 2010, como na eleição de 2014, o comitê financeiro da presidente Dilma adotou todos os critérios para que as contas não tivessem nenhum tipo de reparo.
TB – As crises que a presidente Dilma está envolvida, tem o Petrolão, crise política com o Congresso Nacional, qual seria a pior de todas? Com crise de confiança da população, ela vai ter fôlego para sair desse cenário?
NP – Eu acredito que sim, ela tem ainda uma aprovação de 33%. Se você levar em consideração que a eleição foi muito polarizada e ela teve quase 54% dos votos, é natural que, em um momento de crise como agora, o combate intenso que tem sido feito por alguns segmentos a ela, com a grande exposição e o ajuste que está sendo feito é necessário. Aumentou o desemprego, levou o país a um desaquecimento econômico, então é normal que uma parte que votou nela se desloque, mas eu acredito que o governo está sintonizado em relação ao ajuste. Vejo inclusive notícias de que no ano que vem vai diminuir a meta em relação ao superávit e isso é noção que o governo tem que o país precisa voltar a crescer novamente, mas que o ajuste é necessário para poder trazer a inflação para a meta para poder estar consumando sem medo de confiança no empresariado que deve voltar a investir. O governo está tomando uma série de medidas com relação às exportações, às estruturas, então são medidas que darão resultados a médio prazo e acho que esse reposicionamento é um sinal de que tem que estimular a economia do país. Isso trará uma estabilidade maior ao governo e isso fará com que a presidente Dilma conclua bem o seu mandato.
TB – Qual o destino do PT após tantos casos de corrupção atingirem diretamente a sua trajetória?
NP – A gente tem feito uma reflexão muito profunda sobre isso e temos apresentado alternativas. Uma delas é o fim do financiamento por empresas e uma série de outras medidas que propusemos na reforma política e fomos derrotados que melhorariam e muito o sistema eleitoral brasileiro. Infelizmente, o que acontece hoje no Brasil não é exclusividade do PT, a crise atinge todos os partidos. Estamos fazendo propostas para superar, uma delas é acabar com o financiamento privado de campanhas e outras mais que nós apresentamos na reforma política, e o partido tem uma história nesse país, com histórico de luta pela moralidade, transparência, de combate à corrupção, como também o partido tem uma história de serviço ao povo brasileiro nos 12 anos de governo do PT. No Brasil e na Bahia, temos melhorado e muito a vida da nossa população, o Brasil hoje é um país soberano, respeitado no cenário internacional, fez a inclusão social como nenhum país fez contemporaneamente, temos uma rede social de proteção, investimos em infraestrutura, estamos vivendo momentos de dificuldades, porque é o momento do ajuste, mas não tenho dúvida de que o modelo econômico iniciado pelo presidente Lula em 2003 é um modelo vitorioso e que precisa prosseguir no Brasil.
TB – Presidente da Câmara, do Senado, vice-presidente da República e articulador político do governo são do PMDB. O Planalto, o governo e o país são reféns da pauta do partido hoje?
NP – O PMDB é um aliado importante, mas se você levar em consideração, eu diria que uma boa parte do PMDB não apoiou a presidente Dilma. E essas manifestações de dissidências em relação ao governo Dilma são daqueles segmentos que não apoiaram a presidente. E é natural. O PMDB está dividido como sempre esteve mesmo nos tempos de Fernando Henrique Cardoso, do PMDB histórico, cerca de 30% do partido no apoio a FHC.
TB – O partido vai ter dificuldades na eleição de 2016 em todo o país, sobretudo aqui na Bahia, já que há um desgaste natural em torno do PT?
NP – É um desgaste da política. Duas coisas vão ser muito importantes na eleição do ano que vem. Os candidatos, suas histórias de vidas, de lutas, de realizações, acho que isso vai ser muito importante e as propostas que serão apresentadas pelos candidatos para administrar. Como a eleição do ano que vem é uma eleição local, para prefeitos e vereadores, o tema local conta muito. As questões nacionais ficam às vezes até em segundo plano. O que eu acho que vai ser importante na eleição de 2016 para a classe política como um todo é a história de vida de cada candidato, sua realização, sua história política, e as propostas que eles tenham para administrar os municípios e exercer suas atividades.
Colaboraram: Aparecido Silva e Fernanda Chagas.