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"Não há cenário para o impeachment de Dilma", afirma Bacelar

Confira entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia

Tribuna da Bahia - Deputado, o PR está numa relação delicada com o governo Rui há mais de seis meses. Como está essa questão da ocupação dos espaços? O secretário de Relações Institucionais, Josias Gomes, prometeu que a próxima secretaria ficaria para o seu partido. Só não disse quando...
Jonga Bacelar -
Olha, o partido hoje tem duas diretorias na Conder, e outras extremamente técnicas na Embasa, com nomes pré-qualificados para isso. E o partido acredita na palavra política do governo, que nos deu essa posição de que a primeira secretaria seria nossa. Vagou a da Indústria e Comércio, e alegaram que a secretaria não era política e sim da cota do governador Rui Costa. Entendemos isso. E veio Jorge Hereda para ocupá-la. Nós acreditamos no governo, foi o que apoiamos, vestimos a camisa desde o primeiro  momento, quando a candidatura ainda estava crescente. Toda candidatura quando inicia é num patamar inferior e vai crescendo. Acreditamos desde o início. Votamos no Rui, pedimos pelo Rui, vencemos com o Rui. Continuamos na expectativa de ser reconhecido pelo governador na altura do que o partido representa. E tenho certeza que esse compromisso vai ser cumprido.
 
Tribuna – Na visão do senhor, o que diferencia o governo Rui do governo Wagner?
Jonga Bacelar –
Eu tô achando o governo Rui muito técnico. Você já vê que ele é um homem competente, que tem viajado muito pela Bahia, e focado na educação como mola principal em seu governo. Mas ao mesmo tempo tínhamos um governador como Wagner, que era uma pessoa agradabilíssima e tem uma capacidade de articulação política que nunca vi na política local e nacional. Já Rui tem um perfil mais técnico, mais gerencial. Comparo Rui na Bahia com a presidente Dilma quando era ministra chefe da Casa Civil e virou uma presidente técnica. 

Eu acho que o primeiro semestre do governo dele foi positivo dentro da real circunstância macroeconômica que o país vivencia nos últimos tempos.

Tribuna - O cenário nacional é muito delicado por conta de várias crises, inclusive a política. Como o senhor observa isso de dentro do Congresso Nacional?
Jonga Bacelar -
Estamos passando momento crítico na política brasileira, com um cenário econômico e esses problemas de corrupção. O Congresso tem dado uma resposta à altura e tem sido parceiro do país. Acredito que o congresso tem correspondido aos anseios do país que é recuperar o fator econômico, que é fundamental para o desenvolvimento da sociedade, para o  crescimento das instituições, da sociedade e o Congresso viu que tinha que tomar medidas amargas agora para na frente colher frutos maduros, de novo focando o desenvolvimento econômico. E fizemos alguns cortes na própria carne para fazer com que esse novo posicionamento fiscal e brasileiro permita o Brasil voltar a crescer. Vimos que a crise é internacional e temos que blindar a economia brasileira. Nossa geração não pode pagar o excesso de crescimento que tivemos nos últimos anos. O Brasil mudou de quadrante nos últimos 12 anos. Andamos o Brasil e temos percebido o grande desenvolvimento que tiveram as classes C, D e E.  E isso foi sim investimento em programa habitacional, programa social. E alguém tem que pagar esse preço e estamos pagando esse preço agora. Isso é claro e evidente e temos fé em Deus que o Brasil vai voltar a progredir e crescer. Vamos sair desse processo de retenção financeira e fiscal para o Brasil voltar a ter pujança.

Tribuna – O ministro dos Transportes, do PR, disse que a crise financeira está acabando e que não há mais o que temer. Qual a avaliação do senhor?
Jonga Bacelar - Acredito que a crise financeira já chegou ao fundo do poço. Na minha leitura, o primeiro semestre foi o ponto crítico abaixo da curva de nível, abaixo da margem de segurança, e agora no segundo semestre, inclusive as bolsas nacionais e brasileiras cresceram essa semana. Todo esse cenário... já é a sinalização de que o Brasil está se segurando em relação a esse desgaste internacional da economia. Acredito, sim, que muita água pode passar por debaixo dessa ponte, mas entendo que o pior passou.
 
Tribuna - A Operação Lava Jato tem atuado com toda força e investigado irregularidades na Petrobras. Como o senhor tem visto o andamento da operação e as delações premiadas, que estão trazendo à tona diversos esquemas de corrupção?
Jonga Bacelar -
Olha, quanto à corrupção, todos os países do mundo já passaram por isso. Na América, na Europa, nos países africanos, e no Brasil não seria diferente. Acredito que, após essas investigações, vamos viver um novo ciclo na estrutura da política nacional. Mas tem dois norteadores básicos nesse processo. O primeiro é a reforma política. Você vê que a discussão vai para lá e vai para cá e sempre recai sobre o financiamento e gastos de campanha. Hoje o custo de uma campanha é quase inadministrável. O custo é muito alto e o eleitor está cada vez mais exigente, assim como a sociedade. E olhe que tiramos camisetas, bonés, placas gigantescas, outdoors, já viemos cortando nos últimos anos vários elementos que encareceram a política brasileira. O país tem amadurecimento suficiente para perceber que essa camuflagem excessiva não é salutar para o país. Existe custo, existe propaganda, palanque, carro de som, lideranças para fiscalizar, lideranças para distribuir sua mensagem. Tudo isso é custo. O custo é muito alto e a sociedade percebeu que esse excesso de camuflagem não combina com o país e não resolve o problema. O Brasil está amadurecendo para criar regras de transparência empresarial, respeito às instituições e ao mesmo tempo também de poder doar nos conselhos políticos e o Congresso limitando o teto de doações em R$ 20 milhões.
 
Tribuna – As empresas de engenharia estão sendo as maiores atingidas nesse processo?
Jonga Bacelar -
Infelizmente a Petrobras foi atingida no coração nesse processo, além da contenção do preço do combustível que o governo se envolveu nos últimos anos, que deu um desgaste muito grande. Posso falar que as empresas de engenharia brasileira também estão pagando um preço muito caro por isso.  Sou engenheiro de formação. O Brasil precisa ter um pouco de visão nesse sentido, porque se abalarmos o sistema financeiro vira um caos. É uma crise de conjuntura que estamos enfrentando e acredito que depois da CPI da Petrobras, da qual participo, deve sair algum norteador. Precisamos mudar a lei de licitação, precisamos mudar o RDC integrado, porque o risco fica todo para o empreendedor. O Brasil não tinha uma cultura de projetos, tínhamos cultura de fazer obras e não um projeto denso de informações.   
 
Tribuna – Essas investigações que envolvem as maiores construtoras do País podem ameaçar as obras e o ciclo de desenvolvimento do Brasil?
Jonga Bacelar -
Com certeza sim. As médias e grandes empresas brasileiras têm tecnologia, capacidade operacional, mas precisam de caixa, de instrumentos financeiros para tocar as obras. Você começa uma obra hoje, se ela tiver com tudo ok e redondo, você recebe  a primeira medição com 90 dias. Então você tem que ter fluxo de caixa. Pega as maiores empresas faturando 100 bi, 80 bi... então imagina o capital de giro que representa isso para receber a primeira fatura, medição. Você pega isso e bota numa escala gigantesca. Se nós tirarmos do cenário essas grandes empresas, o Brasil está fadado até a um insucesso no sistema financeiro.  Por isso que o governo esta muito preocupado, a Controladoria Geral da União também esta preocupada. Porque temos que ter uma saída honrosa pra sociedade ao mesmo tempo sem fazer pagar o custo. Olha o que aconteceu no Estaleiro Paraguaçu. Foram quase dez mil pessoas dispensadas direta ou indiretamente. Ontem estávamos com a prefeita Vera, de Maragogipe, que se filiou ao nosso partido recentemente, e ela disse que acabou comércio, setor de serviço, o pequeno, médio empresário local...  e dizimou a economia da região.
 
Tribuna – A população já deu mostras que não dá mais para crescer sob a sombra da corrupção. Como imprimir um novo formato de gestão pública no país?
Jonga Bacelar -
Nós já estamos criando uma lei específica de licitação, os órgãos de controle hoje são rigorosos, tem a Controladoria Geral da União, a Polícia Federal, temos as Controladorias estaduais, então os órgãos estão fiscalizando e a sociedade passou a fiscalizar também. Se formos analisar, temos bons órgãos fiscalizadores e todos os brasileiros estão atentos e se manifestando. Estamos fazendo nossa parte no Congresso, que está dando respostas. Fizemos uma CPI, prorrogamos o final dela, que agora vai até o final do ano. Já ouvimos  bastante gente, convocamos o ministro da Justiça, Eduardo Cardoso, grandes empresários, e estamos fazendo essa lei específica que também participo, por me debruçar  muito no setor de infraestrutura do Brasil.
 
Tribuna - A presidente Dilma Rousseff está mergulhada numa crise política no Congresso, numa crise financeira com o ajuste fiscal, além de uma crise de confiança, conforme mostram as últimas pesquisas. Em sua opinião, ela sai dessa situação?
Jonga Bacelar -
Não tenho dúvida de que ela vai sair desse momento até pela capacidade de gerenciar crises que ela tem.  Ela tem preparo para poder enfrentar os problemas. O que está faltando é um melhor rearranjo político. Estamos vivendo crise econômica junto com a crise política e temos duas grandes personalidades políticas no comando do Congresso, tanto na Câmara quanto no Senado. Temos o Eduardo Cunha, que é uma das pessoas mais inteligentes que já vi, que ganhou contra o Palácio, contra o governo. Governo este que errou de se posicionar na eleição de Eduardo Cunha, até porque o PMDB participa da chapa presidencial através do Michel Temer, e o governo se posicionou erradamente. Já começou errado ali. O governo não deveria ter se manifestado e se manifestou contra ele. Eduardo tem uma capacidade gigantesca de enfrentamento. Sabe se articular e sabe o regimento da Casa como ninguém, e usa o regimento como ele usou na questão da redução da maioridade penal, que foi muito criticado por várias pessoas. Mas ele simplesmente usou o regimento que permitiu a manobra que ele fez. Ele é de combate, não é de fugir da guerra e tem enfrentado o governo e vencido muitas vezes. No Senado temos Renan Calheiros que tem uma habilidade política gigantesca.
 
Tribuna - o senhor acabou de citar os presidentes do Senado e da Câmara, que são do PMDB. Lembrou ainda da vice-presidência com o Temer. Acredita que o país está refém do PMDB?
Jonga Bacelar
- Aí eu acho que tem outro erro. Como é que você tem uma Câmara de Deputados e o Senado nas mãos do PMDB, que é um partido forte, que sempre é governo, e tem na articulação política o vice-presidente? Com todo respeito a ele, é uma pessoa querida, é meu amigo...  Acho que o Michel tinha que estar num conselho macropolítico, mas na lida do tête-à-tête, no atendimento parlamentar, tinha que ser uma pessoa do dia a dia. Ele esta como vice-presidente, o grande coordenador político, e tem os subcoordenadores, como o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, os ministros da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e das Comunicações, Ricardo Berzoini ,mas o Brasil estava acostumado a lidar com o ministro do dia a dia. E Michel, até pelas funções que tem, tem algumas limitações para isso. Então existe um certo conflito, não deixa de ter. O PMDB  tem dado evidências claras de conflito com governo. Então como temos um vice-presidente que é sustentação da composição da chapa presidencial, e na Câmara presidente do PMDB e no Senado também? Então existe uma incongruência política nesse processo e acho que o governo precisa melhorar mais. Acho que o atual ministro Jaques Wagner deveria estar mais presente dessa mesa. Ele precisava participar mais desse processo político brasileiro pela experiência que tem. O Wagner conseguiria conduzir crises. Acho que ele deveria estar mais presente.
 
Tribuna - O PT vai sofrer muito nas próximas eleições com todos esses casos de corrupção no qual está envolvido?
Jonga Bacelar -
Temos visto nas grandes cidades onde a sociedade é mais politizada, que existe esse desgaste para a sigla PT, a sigla 13. Eu fui a São Paulo semana passada e fiquei horrorizado com o desgaste em São Paulo e isso me deixou até entristecido por fazer parte da base de Dilma, base do governador Rui e uma megalópole como São Paulo existe esse temor ao nome PT e isso já é um reflexo. No Rio esse fenômeno também ocorre e acredito que vai ter algumas restrições políticas nesses grandes centros. Vi a declaração de Walter Pinheiro de que tinha que desembarcar do Titanic. Declaração muito forte, o Walter foi militante histórico do partido, é uma das grandes cabeças do congresso, e quando você vê ele dizer isso é porque tem algo que precisa ser repensado naturalmente. Mas isso não é um problema nosso. Respeitamos o presidente Everaldo Anunciação, do PT na Bahia, respeitamos o Rui Falcão,  isso é um problema da agremiação do PT. É nítido que vai ter um reflexo nas eleições do ano que vem.

Tribuna – O senhor acredita que há um cenário propício para o impeachment, da presidente Dilma?
Jonga Bacelar -
Não tem e acredito que não vai ter porque é muito traumático. Lembro do impeachment do presidente Collor, eu ainda na Universidade Federal da Bahia, no curso de Engenharia Civil,  eu ainda era jovem, e vi que foi um trauma. Um processo de impeachment. É uma palavra muito forte. Acho que uma geração vai embora quando você tem esse processo e a democracia fica arranhada. Não acredito no impedimento da presidenta Dilma, não existe nada para isso. Pedalada fiscal todo mundo faz,  Prefeitura, Estado ou União,se for por aí teremos que impedir vários prefeitos e governadores. Precisamos corrigir essa brechas com a legislação. Sou contra o impeachment e se vier esse debate vou me posicionar radicalmente contra porque não tem elementos... não tem elementos que  a façam sair do cargo.
 
Tribuna - Estamos vendo na Operação Lava Jato grandes empreiteiros sendo presos, como nunca aconteceu na história do Brasil. Essas construtoras terão dificuldade de irrigar novos caixas dois, já que a punição pesou para eles também?
Jonga Bacelar -
Eu acredito que o ideal seria fazer um acordo de leniência, as empresas pagarem esse acordo e voltarem a trabalhar. Eu sou contra esse posicionamento, com todo respeito ao juiz Sergio Moro, sou contra esse posicionamento que ele tem. Até porque existe um fator social muito grande: quantos milhões de empregos estão envolvidos direta ou indiretamente? Sempre parto do fator social como preponderante no aspecto econômico. E essas empresas que tem condições operacionais precisam voltar à ativa.  Sou a favor ao acordo de leniência. São multinacionais como a Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS... que têm contratos em outros países.  
 
Colaborou: Hieros Vasconcelos Rego