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Marcelo Nilo confirma saída do PDT

Veja entrevista à Tribuna da Bahia

Com oito anos e meio ininterruptos como presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL), o deputado Marcelo Nilo irá para o seu terceiro partido desde que iniciou sua vida pública.

Depois do PSDB e do PDT, ele pretende ingressar no Partido Liberal (PL), sigla que deverá ser recriada nos próximos meses. Na entrevista exclusiva à Tribuna, Nilo afirma que o PDT são “águas passadas”, mas faz questão de enfatizar que quer sair pela porta da frente, a mesma que entrou.

Ele revela ainda que entre nove ou dez deputados estaduais - do PDT e de outros partidos - o seguirão para a nova legenda.

Sobre os problemas enfrentados pelo governador Rui Costa (PT) com a sua base de sustentação, Nilo diz que o “governo não prioriza a Assembleia” e que a articulação política do governo está falhando ao não priorizar os deputados estaduais.

Diferente do que havia falado há meses atrás, o presidente da AL descartou qualquer possibilidade de disputar a prefeitura de Salvador em 2016 e avalia que o prefeito ACM Neto está “jogando solto”, já que “não conta com uma oposição eficaz” na Câmara Municipal.

Tribuna da Bahia - O senhor travou uma queda de braço nos últimos meses com o presidente do PDT na Bahia, deputado Félix Mendonça Jr. Perdeu essa disputa?
Marcelo Nilo - Na política, nem você ganha, nem perde. O importante são os resultados. Estou há seis anos no PDT, onde fui muito bem recebido. Infelizmente, perdi as relações pessoais com o deputado Félix Mendonça Jr.. Não vou entrar no mérito se ele ou eu tem razão, isso já são águas passadas. Acho, inclusive, que ele é um bom parlamentar, mas ficou muito difícil a minha permanência no PDT, fruto de não ter uma relação pessoal e política com o presidente [do partido]. A chance de sair do PDT diria que é 99,99%, só falta ter uma conversa com [Carlos] Lupi, com quem tenho uma relação muito boa, mas mostrarei a ele que não tenho mais condições de permanecer em um partido com o presidente que nem me cumprimenta.

Tribuna - Exageraram no tom?
Nilo –
Exageramos. Não foi bom nem para mim, nem para ele. Quando você sai do campo da política fica ruim. Mas, são águas passadas, desejo sucesso a ele [Félix Mendonça Jr.] e não vou mais entrar nessa polêmica porque não contribui para a vida política do nosso estado. Entrei no PDT pela porta da frente e quero sair pela porta da frente, desejando sucesso àqueles que ficarem.

Tribuna – E para onde Marcelo Nilo vai?
Nilo -
Existem algumas opções, entre elas, o novo partido, o PL. Vou a Brasília conversar com os dirigentes do PL. Vou também conversar com Lupi, conversar com ele. Fiz uma proposta a ele, e ele ficou de me responder no prazo de oito dias, mas já se passaram 40 dias e até agora ele não me respondeu. Consequentemente, eu estou livre para sair e tomar meu rumo político, desejando sucesso e agradecendo ao PDT pelo período que fiquei.

Tribuna - O PL se viabiliza?
Nilo -
As informações que nós temos é que no início de agosto o PL já será um partido consolidado.  

Tribuna - Quem acompanha o senhor nesse novo partido?
Nilo -
Nove ou dez deputados estaduais já me garantiram que seguirão comigo para o PL. Alguns do PDT e outros de diferentes partidos. Vai depender muito do período em que o PL irá se formalizar. Se for concretizado no início de agosto, o PL terá em torno de dez deputados [estaduais].

Tribuna – O PDT errou em permanecer ao lado do prefeito ACM Neto e romper com Rui Costa no início do seu governo?
Nilo -
Primeiro, o PDT não rompeu com o governo Rui Costa. Apenas o presidente do partido que rompeu com o governo. Dos 15 membros [da Executiva], 11 ficaram com Rui. Os cinco deputados estaduais ficaram com Rui Costa, 99% dos prefeitos ficaram com Rui Costa, 100% da base do partido ficou com Rui Costa. Então, quem saiu? Foi apenas o presidente do partido. Portanto, o partido continua quase que na sua totalidade com o governo Rui Costa.

Tribuna – O partido com a sua saída se fragiliza?
Nilo -
Não. Ninguém é insubstituível. Estou saindo porque não aceitaram as condições políticas que eu sugeri. Com o presidente Lupi, tenho muita gratidão e respeito a ele. Para mim, um dos melhores presidentes de partido que eu já vi, tendo em vista que ele vem quatro ou cinco vezes por ano à Bahia, uma pessoa que dá muita atenção aos seus militantes. Mas o PDT preferiu ficar com a proposta do deputado Félix Mendonça. Consequentemente, não tive outra saída a não ser sair do partido. Agora, quero sair pela mesma porta que entrei.

Tribuna – Como avalia as insatisfações da base governista na Assembleia Legislativa? O governador Rui Costa terá dificuldades?
Nilo
– O governo Rui Costa, na área administrativa, está muito bem. Ele está com grandes dificuldades financeiras, econômicas e orçamentárias, mas ele tem vendido seu peixe com muita competência. Ele tem viajado muito, tem conversado com o povo, tem sido sincero, não está aceitando pressão das classes corporativistas. Como gestor, eu daria, no mínimo, nota nove. Agora, como político, está faltando uma atenção da Secretaria da Articulação Política aos deputados e aos prefeitos. Essa crítica já fiz ao próprio governador pessoalmente, já fiz de público. Mas, acredito que ele está tentando acertar, e se ele acertar na área política pode ter a certeza que será um dos maiores governadores da história da Bahia.

Tribuna – O secretário Josias Gomes tem ignorado mesmo os deputados estaduais e prefeitos, como tem se falado nos bastidores políticos?
Nilo –
Josias não tem deputado como prioridade na sua gestão. O secretário às vezes passa 60 dias sem conversar com o presidente da Assembleia Legislativa. Então, se ele não procura o presidente, imagine os deputados. Ele não dá prioridade política aos deputados estaduais, e isso é óbvio e transparente porque todos percebem a olho nu.

Tribuna – Mas o governo Rui vai enfrentar dificuldades com a base aliada ou não?
Nilo -
Creio que não porque a diferença é muito grande. Quarenta e dois [aliados] a 21 [oposicionistas]. Se você tirar o presidente, porque, óbvio, me comporto como magistrado e como presidente da Assembleia, a base do governo é 41 a 21, uma diferença muito grande. Creio que o governador Rui Costa vai sentar, conversar e dialogar. Ele é um bom articulador político, tanto é que ele foi secretário de articulação política e se saiu muito bem. Apenas os seus assessores não têm dado prioridade à Assembleia, e isso é o que eu sinto, percebo e, como presidente, a Assembleia tem que ser prioridade em qualquer governo, tanto na base do governo, quanto da oposição, afinal de contas, é onde recebe os movimentos sociais, a verdadeira Casa do Povo, e onde aprova as leis que o governo do Estado envia.

Tribuna - O senhor sempre foi um fiel escudeiro do ex-governador Jaques Wagner e sempre esteve muito próximo a ele. A diferença no perfil e na condução do trabalho hoje lhe deixa em uma situação desconfortável, de não ter tanta proximidade com o governador Rui Costa?
Nilo –
Pessoalmente, me dou na mesma proporcionalidade, no mesmo tamanho com Rui Costa e com Wagner. Meu problema é político. Pessoal, tenho uma admiração profunda com o Rui. Meu problema é apenas que sinto que o governo não dá prioridade à Assembleia e, como presidente, tenho que achar que não é o melhor caminho. Mas, tenho certeza que o governador Rui Costa vai encontrar o caminho exato e sentar com seus parlamentares, porque o problema não é com o seu presidente, mas com os seus deputados, e eu quero a Casa tranquila, dando condições políticas aos que fazem oposição e dando condições políticas também aos que fazem a base do governo. O que está faltando é prioridade aos parlamentares.

Tribuna – Uma das principais queixas dos deputados é a falta de espaço, que não foi mantido nem o que se tinha no governo Wagner. É possível compor diante de um cobertor curto e com os cargos já distribuídos?
Nilo
– O governador Rui Costa quando fez seu secretariado e seus presidentes de empresas, ele fez via presidentes de partidos. E os presidentes de partidos, a maioria esmagadora, ou é deputado federal ou senador. Consequentemente, os secretários e os presidentes de empresas foram indicados praticamente pelos deputados federais e os deputados estaduais ficaram em segundo plano. Nos cargos regionais, os deputados estaduais também reclamaram porque o critério beneficia muito o PT. Tem que dar prioridade àqueles que ajudaram, independente se são da base aliada ou do PT. O que está faltando é uma atenção maior aos parlamentares. E isso já disse ao governador Jaques Wagner e ao governador Rui Costa e, principalmente, quando converso com o governador. Mas, minhas críticas são no sentido de ajudar, porque sou o presidente da Assembleia e tenho o direito de falar aquilo o que penso e, realmente, os deputados não estão tendo prioridade.

Tribuna – Qual o maior gargalo do governo Rui Costa?
Nilo
-  Falta de recursos. Se ele tivesse recursos, pode ter certeza que ele faria nesses seis meses um grande governo. Ele está sem recurso, com grandes dificuldades financeiras, mas, mesmo assim, está viajando muito, já visitou 46 municípios, inaugurando obras, concluindo as obras iniciadas com Jaques Wagner e conversando com o povo. Até carismático, que eu achava que era seu fraco, ele tornou-se um governador carismático. Ele é muito querido pelas pessoas que ele cumprimenta, abraça e conversa. Ele tem uma grande qualidade: ele ouve, discute e conversa, e a opinião do cidadão comum é muito importante para ele. O governador como gestor, eu diria que não foi uma surpresa porque trabalhamos juntos muito tempo e sei que é uma pessoa muito preparada, que conhece os problemas da Bahia e estudou as soluções. Sei que ele quer colocar em prática, mas o que está faltando apenas são recursos.

Tribuna - A dependência do orçamento do Estado ao orçamento da União vai prejudicar e vai atingir a imagem do governador?
Nilo -
O governador Jaques Wagner, que para mim foi o governador que mais realizou obras na história da Bahia, e em todas as áreas, fazia muitas parcerias com o governo federal. Infelizmente, o governo federal está pior do que nós, ou seja, está com grandes dificuldades financeiras. E essa é a grande dificuldade do governador Rui Costa, mas quando ele tiver as parcerias com o governo federal, se ele tiver 50% da parceria que Wagner teve com o governo federal, pode ter certeza que ele fará grandes obras, porque o governador Wagner, além de ter sido o maior governador que fez na Bahia, foi o que mais fez por Salvador. Nunca imaginei na vida um governador trabalhar tanto por Salvador quanto Jaques Wagner, e Rui está nesse mesmo norte, nesse mesmo projeto e determinação. O que está faltando é apenas recursos.

Tribuna – Como avalia esse momento de instabilidade política no país e as fragilidades enfrentadas pela presidente Dilma?
Nilo –
Primeiro, eu só acredito em um governo que tenha tranquilidade política, e a presidente Dilma não está tendo tranquilidade política no Congresso Nacional. Se ela não acertar o passo no Congresso, dificilmente nós sairemos da crise econômica. Para sair da crise econômica, temos que resolver primeiro a crise política, e não estou vendo como ela vai resolver a crise política, porque toda a semana ela perde as votações no Congresso Nacional.

Tribuna – O ex-governador Wagner não tem conseguido ajudar a presidente Dilma por falta de espaço e disputa no Palácio do Planalto?
Nilo
– A presidente Dilma deveria ter colocado Jaques Wagner próximo a ela, como articulador político, porque é o maior articulador político que eu já conheci na vida. É um homem que convive por oito anos e vi aqui as crises e ele resolvia apenas na conversa, no papo, na negociação. Ele é um grande negociador político. Dilma teve a oportunidade de botar ele próximo nessas reformas que ela fez, mas, infelizmente, ela não fez e, consequentemente, o Aloízio Mercadante é um péssimo articulador político, todos os deputados falam mal dele. Então, como você vai resolver o problema do Congresso se o chefe da Casa Civil, o cargo mais importante, não tem como dialogar com o presidente da Câmara e do Senado, e quem negocia é o vice-presidente. Ela tem que colocar uma pessoa habilidosa, carismática e, simplesmente, conhecedor dos graves problemas do país, e essa pessoa, sem dúvida, seria Jaques Wagner.

Tribuna – O dono da UTC, Ricardo Pessoa, formalizou a delação premiada e tem vários políticos envolvidos. Muitos baianos estão preocupados com o que poderá vir à tona?
Nilo -
Eu não sei, porque não conheço as pessoas que têm relação com Ricardo Pessoa. Eu, por exemplo, não o conheço. Só o conhecia por nome. Então, não vou dar uma opinião porque não sei quais as pessoas que têm relação com ele. Óbvio que um empresário baiano tem relação com todos os políticos. Isso é normal e natural. Todos os políticos conhecem os empresários da Bahia, mas isso não é nenhum crime e nenhuma irregularidade, mas não conheço os políticos baianos que têm relação com Ricardo Pessoa.

Tribuna – O PT já tem sentido na pele o processo de desgaste gerado pelo Petrolão e pela crise financeira que acomete o país. O partido sofrerá impactos grandes nas eleições do ano que vem?
Nilo -
No mensalão, eu pensei que o PT não iria sobreviver. E sobreviveu, com Lula reeleito e fez a presidente Dilma e a própria presidente já se reelegeu. Só o tempo dirá se a Lava Jato vai ter consequência nas eleições de 2016 e 2018. Só Deus saberá o que vai acontecer. A gente não tem vara de condão, porque eu ouvi essa história e as pessoas pensavam que o PT estava morto, mas o PT estava mais vivo que se imagina. Agora será nova fase. Só o tempo dirá se eles serão atingidos.

Tribuna – A sociedade está reagindo e dando mostras de que não aguenta mais ver os desmandos praticados com o dinheiro público, como está sendo mostrado agora?
Nilo -
Na realidade, com as redes sociais, o povo está mais participativo, e isso é bom e positivo, porque o povo cobra dos seus políticos e governantes mais transparência e seriedade. A rede social foi uma coisa que veio para somar. Com rede social, o político que cometer equívocos pode ter a certeza que ele está fora da vida pública.

Tribuna - Falando de Salvador, como avalia o governo ACM Neto? Ele chega fortalecido para buscar a reeleição?
Nilo
- A princípio, o prefeito ACM Neto está sem oposição, sem querer entrar no mérito dos vereadores que fazem oposição a ele. Mas eu não vejo os vereadores fazendo oposição a ACM Neto como vejo os deputados estaduais fazendo oposição a Rui Costa. Está faltando uma ação política de oposição. Consequentemente, ele está jogando solto e aí os índices são favoráveis, porque só tem notícia boa, não tem notícia ruim porque ninguém faz oposição. Não vejo uma oposição eficaz ao prefeito ACM Neto, sem entrar no mérito dos vereadores. Eu vejo uma oposição muito aguerrida na Assembleia Legislativa contra o governador Rui Costa, mas não vejo uma oposição muito aguerrida contra ACM Neto. Só no próximo ano que vamos poder ver quem tem bala na agulha, porque ele está jogando muito solto.

Tribuna - Marcelo Nilo terá bala na agulha para sustentar uma candidatura à prefeito de Salvador?
Nilo
- Não. Meu título é de Antas e não vou transferi-lo para evitar especulações. Meu projeto é participar de uma chapa majoritária em 2018, porque fui eleito sete vezes deputado estadual e já está na hora de subir mais um degrau. Ir para Brasília como deputado federal ou senador da República. Mas não creio que serei mais deputado estadual, porque 28 anos nesta Casa, as pessoas vão cansar de mim.

Colaborou: David Mendes