Deputado federal eleito com mais votos na Bahia, Lúcio Vieira Lima (PMDB) avalia o cenário político baiano e nacional em entrevista à Tribuna e diz que o estado sofre uma desmoralização perante o governo federal.
Segundo o peemedebista, além de perder a Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco (Codevasf), a Bahia nada poderá ganhar com o ex-governador Jaques Wagner através do posto de ministro da Defesa.
Lúcio afirma acreditar que a presidente Dilma Rousseff não conseguirá sair dessa crise que enfrenta e acabará “como uma avestruz”, se escondendo, e tece críticas às gestões petistas na Bahia e questiona a não realização de obras prometidas pelo governo do PT na Bahia.
O deputado também despistou ao ser abordado sobre o interesse do seu partido na vice de ACM Neto (DEM), mas garante que a parceria entre as siglas é projeto para 2016 e 2018.
Tibuna da Bahia – Deputado, como é estar em um partido que é governo e oposição? Não há incoerência ou isso facilita para integrantes da sigla atuarem fazendo barganha política?
Lúcio Vieira Lima - Não. De forma nenhuma. Isso aí sempre nos foi perguntado e sempre foi respondido com muita clareza. O PMDB é um partido que permite a liberdade das diversas opiniões. É um partido extremamente democrático. Até porque essa legislação partidária que existe aí não permite essa unidade de pensamento dos partidos. Até pela própria extensão do Brasil, o partido termina sendo independente das sessões estaduais. Não tem essa união de pensamento, no caso do PMDB da Bahia, quando você fala que isso não seria barganha, pelo contrário, aqui na Bahia nós deixamos cargos, nós não pegamos cargos para aderir, pelo contrário. Foi assim quando saímos do governo Jaques Wagner porque achamos que ele não estava cumprindo o compromisso com o povo. Foi assim quando Geddel largou o governo da presidente Dilma, que chegou a pedir publicamente que demitisse ele. Foi assim quando saiu do ministério, que poderia ter ficado para concorrer ao governo do estado. Sempre abrimos mão de cargo em função de cargos políticos. Então, nada a ver com barganha.
Tribuna - A corrupção sempre esteve entranhada na política do Brasil e casos sempre aconteceram desde os Anões do Orçamento, Mensalão, Petrolão... Ela cresceu ou ficou mais transparente?
Lúcio - Olha a corrupção não existe só na política do Brasil, existe a nível mundial, e não é somente na política. Em outros setores também, independentemente de política ou não. Agora, logicamente, quando você não tem o combate efetivo dessa corrupção com punição dos culpados, você tem um sentimento de impunidade. Então ela tende a aumentar. Aqui no Brasil, nos últimos 12 anos que foram governados pelo PT, ela aumentou muito. E por que aumentou? Porque, na verdade, o PT aparelhou o Estado para um projeto de poder, então, em nome do poder, eles achavam que não importavam os meios, mas sim o fim. E usou essa tese de Maquiavel muito fortemente. Então, em nome de manter o PT no poder com aquele discurso que todos conhecem, da Bolívia, da Venezuela, de que tudo estava sendo feito em prol do povo e quem criticasse era porque era a elite. Então, terminou favorecendo muito a corrupção, que hoje no Brasil é sistêmica. Você liga no Jornal Nacional, de dois em dois dias é uma operação da Polícia Federal. Hoje, a instituição que mais trabalha no Brasil é a Polícia Federal combatendo casos de corrupção.
Tribuna - Em raríssimos casos, um trabalhador brasileiro consegue uma evolução patrimonial que um político consegue após oito, dez anos de mandato. Por que políticos registram esse tipo de elevação patrimonial?
Lúcio - É preciso tomar muito cuidado porque o que desperta a população e para a imprensa são aqueles casos isolados que têm destaques. Se você contar nos dedos, são poucos políticos que roubaram muito a ponto de se tornarem milionários. Isso é a mesma coisa que um jogador de futebol. Todo mundo quer ser jogador de futebol porque Ronaldinho ganha bem, Neymar ganha bem, mas se pegar nos dedos, são poucos jogadores de futebol que ganham muito bem. Muitos jogadores de futebol estão na miséria, ganhando muitas vezes mínimo e etc. Isso ocorre com tudo, médicos são poucos que chegam a ser estrelas. A maioria está indo para o interior com três, quatro, cinco empregos. Na política é a mesma coisa. Você tem efetivamente políticos desonestos que se aproveitam da situação para aumentar numa velocidade... a Receita Federal finge que ele declarou e ele finge que está declarando. É impossível, com salário de parlamentar, fazer um patrimônio crescer dois mil ou três mil por cento.
Tribuna - O vice-presidente da República, Michel Temer, em uma cidade de muros baixos como Brasília, onde tudo se sabe, nunca soube de falcatruas na Petrobras? O senhor já teve algum tipo de conversa com ele?
Lúcio - Falcatrua na Petrobras, para saber, tem que ter investigação, tem que ter provas. O vice-presidente não é policial, não é investigador. Essa história de boato todo mundo ouviu falar. Quem falar que não ouviu dizer nada sobre a Petrobras está mentindo. Houve o zumbido de que tinha esquema na Petrobras, mas não sabia como funcionava, ninguém pode sair denunciando. A mesma coisa da imprensa. Eu tenho certeza que a imprensa sempre ouviu falar que tinha esquema na Petrobras. Até aqui na Bahia sempre ouve isso, sempre tinha conversa de Sérgio Gabrielli, do PT, pegar cargos importantes, isso de ouvi dizer. O Michel ouviu dizer, eu ouvi dizer, você ouviu dizer. Todos ouviram dizer. Agora, provar é que é complicado, você não pode sair dizendo ‘tem roubo lá’, você estranha. Estranha como é que obras demoram tanto de ocorrer, como você tem aditivo de obras toda hora, isso não é normal, não acontece na iniciativa privada. Agora, daí a provar, você tem que ter um juiz como tem o Sérgio Moro, que está imbuído de passar o Brasil a limpo e efetivamente investigar, independentemente de coloração partidária e de nível de autoridade, pode ser ex-presidente, deputado, empresário, com investigação tratando todos de maneira igual, querendo simplesmente a punição dos culpados. Aí você começa a ter efetivamente prova para dizer que fulano roubou, é corrupto, é culpado, o resto ficam sempre naquele imaginário como você disse, políticos. Bastou ser político, todos são ladrões, todos têm esses defeitos todos. Na verdade, o povo esquece que todos são cidadãos. Tem gente que se elegeu agora para deputado, e antes ele era o quê? Era sindicalista, médico... Não quer dizer que a pessoa chegou lá, e ser político é ladrão, até porque você não nasce político, você se torna político, e política você faz no dia a dia.
Tribuna - Pela estreita ligação que tem com o Planalto e com a presidente Dilma, hoje sendo o seu coordenador político, o vice-presidente não seria um avalista desse governo do PT, pelo menos aos olhos da população do país?
Lúcio - Não creio que a população entenda dessa forma porque o PT sempre demonstrou aos aliados que ele faz é apenas para tirar vantagem para ele. Por exemplo, o PMDB só serve no tempo da eleição para que possa dar o tempo de televisão para que possa dar os palanques estaduais. Depois, na hora de governar, o PT quer governar sozinho. O PMDB não era chamado para nada, não participava das políticas econômicas, não participava de nada. Como é que nós do PMDB, Michel e etc, poderíamos ser culpados pela situação atual que o país se encontra, se não éramos chamados para nada? O PMDB nunca teve ministérios fortes que participassem ativamente da elaboração e implantação de políticas públicas porque isso é do feitio do PT. Você vê aqui na Bahia como todo mundo reclama. O PCdoB, grande aliado dele, o PV era grande aliado, mas nunca apoiava um candidato desse partido, queria sempre o apoio para seus candidatos, sempre achando acima do bem e do mal. A população sabe que o PMDB não tem, apesar de fazer parte da chapa, a responsabilidade. A única responsabilidade que tem é na eleição, mas na formulação do governo, de políticas públicas e de implantação não tem nenhuma. Nós temos consciência disso e aí você pergunta ‘mas agora está como articulador político’, por que isso? Mas nós não podemos dar as costas para a população. O crime já foi cometido, é um fato, a crise existe, o desemprego tá aí, falta de crédito, você está vendo a desindustrialização do nosso país, você pode simplesmente dizer ‘não vou ajudar’, então não somos responsáveis pela crise, mas somos responsáveis, todos os partidos, a ajudar o país a sair dela.
Tribuna - O PMDB é o partido que controla a Câmara, o Senado e articulação política do governo. O país e o Palácio do Planalto são reféns da agenda do partido?
Lúcio - Não, não são. O Planalto, e da mesma forma o PT, eles ficaram reféns deles mesmos a partir do momento que se isolaram, sem fazer nenhum tipo de coordenação com setores da sociedade, se achando donos dos movimentos sociais, dar as costas para imprensa quando a imprensa faz qualquer crítica que era do ponto de vista pessoal porque não gosta deles e não apenas está noticiando os fatos. Esse isolamento do PT, essa maneira de se achar melhor do que os outros é que levou ele a esse isolamento. A presidência da Câmara e do Senado é uma instituição. O que o PMDB defendeu durante a campanha para presidente é a independência do Legislativo, e está sendo importante, não é questão de ser refém ou não. A Câmara e o Senado passam a pautar as questões políticas. E por quê? Porque o governo está enfraquecido. Isso é um ditado que diz: governo fraco, Legislativo forte. Governo forte, Legislativo fraco, o que está ocorrendo é que o governo não está tendo condição de impor perante o Legislativo. E o Legislativo, logicamente, até porque o poder não tem vácuo, então o Legislativo ocupou esse espaço, mas não no sentido de dizer que é refém. E não está tendo isso. Ela continua com 39 ministérios, o Legislativo quer que ela acabe com tantos ministérios. Continua com milhares de cargos de confiança, um cabide de emprego aparelhando a máquina pública com petistas.
Tribuna - É a favor ou contra o impeachment da presidente Dilma e quais os riscos de uma medida dessa para o país?
Lúcio - Eu sou contra porque não vejo razões para o impeachment. Falta ainda, como diz no jargão político, o batom na cueca. Na época de Collor tiveram aquelas denúncias todas, mas o que estimulou o impeachment foi o Fiat Elba, quando pegou comprando com dinheiro público de corrupção, então ainda houve esse batom na cueca.
Se fosse parlamentarismo, já teria terminado o governo dela. Porque aí você afasta e coloca um novo primeiro- ministro.
Tribuna - A gente está vendo uma colcha de retalhos sendo costurada no Congresso Nacional. O que vai sair da reforma política de lá e na sua visão o que seria uma reforma ideal?
Lúcio - De reforma política não vai sair quase nada, não se mudou nada. O que se mudou foi para pior efetivamente. Foi perfumaria, mudar data de posse da presidente, mas se manteve tudo como estava. Para mim, a reforma ideal seria manter como está acabando com as coligações. Hoje, são as coligações que dão o desvio de tudo, quando você tem as coligações, você tem venda de partido político, você tem partido político sem condições de eleger parlamentar por causa do voto proporcional. Eu até votei a favor do voto do distritão, porque de todos ali era o que se aproximava mais do que eu imagino.
Tribuna - A presidente Dilma está envolvida na crise do Petrolão, crise política com o Congresso, crises energética, hídrica e o pior, a crise de confiança da população. Ela vai conseguir sair desse cenário?
Lúcio - Eu creio que não. Lamentavelmente, vai ser um governo que vai chegar ao seu fim aos trancos e barrancos, cada hora a presidente perdendo mais sua autoridade, se transformando mais em uma grande avestruz com esse comportamento que já está tendo que é enfiar a cabeça no buraco a ponto de a única agenda positiva da presidente ser andar de bicicleta. Uma vez vá lá, é notícia. A segunda ainda vai, mas da terceira em diante ninguém quer saber dela andando de bicicleta, pelo amor de Deus. A preocupação é que nós estamos nos tornando um país do caranguejo, estamos andando para trás. E quando se anda para trás, é muito difícil recuperar. O Brasil de hoje está voltando para o Brasil de dez anos atrás em tudo. É só você ver. O que o país deseja ser? Se industrializar, sair do setor primário para o setor terciário, o Brasil está fazendo o movimento contrário. Lá atrás já passamos por isso. Todos os países se desenvolveram quando teve revolução industrial. Agora não, quem está mantendo o Brasil são as comodities agrícolas e os parques industriais se acabando. Para recuperar isso é muito difícil, enquanto outros países vão largar da linha de largada, o Brasil está sendo penalizado pelo PT, pela presidente Dilma e vai largar lá atrás da linha de partida.
Tribuna - Empreiteiros não tinham sido presos como atualmente. Eles terão dificuldades de irrigar novos caixas 2 e qual perfil do político que vai ser eleito a partir de agora?
Lúcio - Na época do Mensalão, quem irrigava os caixas 2 eram agências de publicidades, veio o Petrolão e quem irrigava eram as empresas construtoras. Então se não houver um investimento em educação e combate à corrupção efetiva com punição, daqui a pouco vai surgir outra coisa para irrigar caixa 2 de campanha política. O que me anima muito nisso é justamente o perfil do novo político. O político está sendo obrigado a mudar para um perfil que seja em consonância total com a sociedade. A população através das redes sociais, de mais acesso às informações, e está cobrando efetivamente do político. Aquele que virar as costas para opinião pública é um homem de mandato só. O político hoje tem que saber que o povo quer um político para ficar e dar resultado. O povo quer um político para defender seus direitos e que ele possa cobrar, ligar, mandar um recado no Twitter, deixando de lado as ofensas, que isso não é bom em nada, mas cobrar com rigor do político fazer as críticas necessárias. Esse é o novo perfil do político, que efetivamente esteja próximo, mas não é próximo fingindo que vai fazer e faz outra coisa não. É ouvir e colocar em pratica aquilo que está ouvindo da sociedade, e as redes sociais estão tendo um papel importante. A população está acompanhando seu voto, está cobrando. Eu acho que a tendência é melhorar muito.
Tribuna - O PT vai ter muita dificuldade tanto aqui em Salvador quanto no restante do país?
Lúcio - Com toda certeza, e as pesquisas mostram isso. Na última pesquisa que circulou em Brasília, a Dilma estava com 8% de aprovação, menos dos dois dígitos. Vamos pegar o caso da Bahia, por exemplo, ninguém tem dúvida de que a eleição do ex-governador e do atual governador foi fruto da eleição nacional. A nacional puxava os governadores daqueles candidatos, em função de serem muito fortes no PT por causa da questão da Bolsa Família e isso e aquilo. Se há um desgaste do projeto do PT nacional, isso reflete diretamente nos estados se municípios. A ponto de o governador Rui Costa ser vaiado no congresso de petistas. Veja a que ponto chegou o PT, o governador do estado vaiado e na mesma solenidade, mesmo que não presente, o tesoureiro Vaccari, que está preso, aplaudido. Por aí você tira como é que está o PT. Vão ter os candidatos procurando outras legendas para se candidatarem em função do desgaste. Aqueles que ficarem no PT vão ter dificuldades e não se elegerão porque não têm mais discurso, o cristal quebrou, o encanto quebrou, povo está sofrendo agora na pele que aquilo que se dizia: quando a economia vai bem, tudo são flores. Depois do mensalão, o PT ainda ganhou muitas eleições, não diminuiu tanto. Porque o povo está trocando de carro e tendo crédito fácil, a inflação com relativo controle, não tinha esse desemprego todo. Agora não. Está sentindo na pele, no seu bolso. Quem tinha seu filho na escola, porque tinha o Fies na universidade, não está tendo mais. Acabou o sonho de ter um filho doutor, com nível superior. Aquele que tinha Bolsa Família e se mantinha com o programa, a inflação está comendo tudo isso. A conta de luz come tudo isso. Imagine uma pessoa que ganhe cem reais, mas tem a casinha dela para pagar a conta de energia que passou de quinze para trinta reais. Só isso já comeu tudo.
Colaboraram: Aparecido Silva e Fernanda Chagas