Entrevistas / Política

Salvador terá ônibus circulando 24 horas, garante prefeito ACM Neto

Prefeito concedeu entrevista à Tribuna da Bahia; Confira

Tribuna da Bahia – Prefeito, o senhor tem a política no sangue, no seu DNA. O que mais o fascina na política?
ACM Neto –
Olha, eu posso dizer que, depois de dois anos e quatro meses de mandato, o que realmente me fascina na política é poder mudar a vida das pessoas. Talvez a Prefeitura seja, de todos, o cargo público  que permite ao político, de fato, quando o exerce de maneira correta, mudar a vida das pessoas. Se por um lado você tem uma cobrança direta e diária, às vezes até cobrado por coisas que não são de sua responsabilidade, por outro, as suas decisões têm um impacto, uma consequência, uma capacidade de transformar, de uma maneira muito direta, a vida de cada cidadão. Então, não há outra resposta a não ser constatar que o que me fascina na política e me move na vida pública é poder colocar o meu trabalho a serviço da melhoria da vida das pessoas e saber que a partir de uma ação coordenada, bem planejada e conduzida, pode trazer um resultado efetivo para a sociedade.

Tribuna – O senhor tinha a exata dimensão do que o aguardava ou depois de sentar naquela cadeira não deixou de existir um certo susto?
ACM Neto –
Noção do tamanho do problema, nem eu e nem ninguém tinha. Na verdade a gente tinha um quadro que era conhecido de extrema gravidade, no que se refere à situação financeira do município, as dívidas da cidade, a inadimplência, a impossibilidade de contratar convênios, financiamentos, mas além de tudo isso havia outro aspecto que agravava muito o quadro, que era a falta de confiança na instituição Prefeitura. Essa falta de confiança contaminou, inclusive, muito dos quadros da administração pública. Então, essa necessidade de promover uma virada administrativa talvez tenha sido nosso maior desafio. Hoje, com experiência, eu vejo o equacionamento do equilíbrio fiscal da Prefeitura, que é talvez um dos maiores legados da minha gestão, necessariamente não foi o que exigiu o maior esforço, empenho, não só da minha equipe e de todos que acreditaram nesse projeto. O que mais exigiu empenho foi essa virada administrativa, motivar as pessoas e fazer acreditar que era possível construir, de fato, esse cenário que reposicionasse a Prefeitura como um poder acreditado e legitimado para conduzir a cidade.

Tribuna – Que obra o senhor espera que venha marcar a sua primeira gestão na prefeitura e se ela já foi iniciada ou está na fase de projeto?
ACM Neto –
Acho que seria, absolutamente, injusto eu reduzir o legado de quatro anos a uma obra especificamente. Eu poderia aqui, em cada uma das principais áreas da prefeitura, pontuar um conjunto de intervenções, que, na minha opinião, vão marcar o nosso mandato. Se eu pudesse resumir tudo isso, eu diria que a grande obra é imaterial, que é exatamente essa mudança na expectativa das pessoas com relação à cidade. Esse reposicionamento de Salvador como uma cidade que volta a ser respeitada, inclusive no Brasil, e a voltar a merecer a confiança do seu cidadão. Eu diria que essa é a grande obra que vamos deixar, que é imaterial e fruto de um conjunto de intervenções, que vão das pequenas para as grandes obras. Aí tem uma coisa que é importante registrar. As pessoas às vezes ficam atentas a R$ 1 bilhão que vão se investir no BRT ou mais de R$ 100 milhões na construção de um hospital municipal, mas não levam em consideração o quanto se investe diariamente para garantir que a cidade possa manter uma boa qualidade na sua infraestrutura, no aspecto urbano ou até mesmo nos serviços públicos. Eu chamo atenção para a saúde. Hoje você constrói uma UPA com R$3,5 milhões, não é um grande investimento, mas cada UPA custa à Prefeitura de Salvador, por mês,    R$ 1,5 milhão. Então você vai perguntar: essa é uma grande intervenção? É uma grande intervenção. Para quem mora na região alcançada pela UPA é uma intervenção, às vezes, de muito maior significado do que fazer um corredor de ônibus ou uma linha de metrô.
    
Tribuna – Já que falamos de BRT, o que falta para tirar o BRT da Avenida ACM do papel? Qual o entrave?
ACM Neto –
Agora nós estamos aguardando a publicação do orçamento geral da União, que foi aprovado há poucos dias. Há uma expectativa que ele seja publicado ainda esta semana. Uma vez publicado, iremos de imediato licitar a obra do BRT. Uma obra desse tamanho, de mais de R$ 1 bilhão, é muito complexa e não se projeta da noite para o dia. Nós vencemos todas as etapas, como detalhamento do projeto, licenciamento ambiental, alinhamento com a Caixa Econômica Federal, com o Ministério das Cidades, composição das fontes de financiamento. Tudo isso exigiu mais de dois anos de trabalho e de dedicação da Prefeitura. Agora está tudo prontinho e o sinal que nós tivemos do Ministério das Cidades é exatamente que uma vez aprovado o orçamento da União, que já foi, e publicado, que ainda não foi, nós poderemos publicar a licitação do BRT.

Tribuna – E a expectativa com a Nova Lapa? Vai conseguir antecipar o prazo e entregar em meados do ano que vem?
ACM Neto –
A Nova Lapa vai ter duas etapas. Ela tem a primeira que vamos entregar ainda no primeiro trimestre do ano que vem, até o fim de março do ano que vem, que é a estação em si. Toda recuperada, climatizada, com seguranças, escadas rolantes, elevador, com novo aspecto físico, informatizada. Informação para o usuário sobre o tempo do ônibus, como será o transbordo. Então a estação em si vai estar completamente remodelada e modernizada e funcionando com plena qualidade até o fim de março. Aí tem uma segunda etapa que é a implantação de um centro comercial que vai acontecer na Lapa e, digamos, a mudança do aspecto físico completo só vai acontecer quando concluído esse investimento, aí você tem um prazo maior que é 2018, porque o concessionário tem 24 meses para concluir o investimento. Porém, já no começo do ano que vem, quem anda de ônibus em Salvador e passa pela estação da Lapa vai ver uma nova estação funcionando.

Tribuna – Sua gestão conseguiu licitar o sistema de ônibus da cidade. Quando a população vai começar a perceber uma mudança efetiva na prestação do serviço? 
ACM Neto –
 Olha, agora a partir do dia 22 de abril começa a valer um conjunto de regras que foram impostas na nova concessão para a empresa que presta serviço. Uma delas que vai ter impacto direto na melhoria da qualidade do transporte público é a implantação de uma central de operações. A Prefeitura, através de videomonitoramento, vai acompanhar o deslocamento de cada um dos ônibus da cidade de Salvador. Tendo instrumento para fiscalizar cumprimento de horários, quantidade de veículos rodando, informar o cidadão, através do aplicativo no smartphone, e saber quanto tempo vai levar o ônibus para chegar naquela determinada estação ou naquele determinado ponto. Então, além dos letreiros informativos, nos smartphones, o cidadão vai ter informação. Isso significa que ele não precisa esperar mais tanto tempo no ponto de ônibus porque ele terá informação de quando o ônibus vai chegar. Nós já temos hoje, do momento que a concessão foi homologada para cá, mais de 800 ônibus novos rodando na cidade.  É claro que eles oferecem um novo padrão de conforto, acessibilidade, e estamos estudando uma revisão completa das linhas de ônibus da cidade. Quando isso acontecer, somado aos novos modais, BRT, metrô e VLT, que o governo aparentemente vai construir, vamos ter um outro transporte público em Salvador. Essa revisão das linhas vai ser conduzida ao longo de 2015 e 2016 e para valer em 2017. Então são dois anos de estudo, porque isso vai mudar muito a rotina das pessoas, depois há um prazo de informação e acomodação para que em 2017 isso seja implementado. Então, com a implementação da restruturação das linhas, novos veículos rodando, informação à disposição do cidadão sobre onde ele pega o ônibus e que horas ele chega, com um sistema mais completo pelo funcionamento do metrô, BRT e VLT, eu não tenho dúvidas de que, em um horizonte de três, quatro anos, o sistema do transporte público de Salvador vai dar passos extremamente largos para uma melhoria efetiva da sua qualidade.

Tribuna – Um gargalo na melhoria do transporte é a questão do acesso ao transporte noturno. Nada avançou quanto a isso?
ACM Neto –
Temos uma surpresa para os próximos dias sobre isso. Existe essa reivindicação do transporte 24 horas, nós estamos acabando de afinar com os concessionários, e nos próximos dias a Prefeitura vai anunciar, com toda a publicidade necessária, uma medida que vai avançar muito na oferta do transporte 24 horas. Eu não posso antecipar porque existem detalhes que estão sendo ultimados, porém é uma decisão que já está tomada. Não esquecendo que nós implantamos o Domingo é Meia, que não existia em Salvador, e o Bilhete Único, que é o maior ganho em termos de uma medida que poderia ser tomada em benefício do usuário, da economicidade de quem anda de ônibus. 

Tribuna – E a orla? A prioridade passa a ser o Rio Vermelho, prefeito?
ACM Neto –
Na verdade já entregamos um trecho da Boca do Rio, Barra, São Tomé de Paripe, Tubarão e a primeira etapa da Ribeira. Este ano vamos inaugurar a segunda etapa da Ribeira, Piatã e Itapuã e Jardim de Alá e o primeiro trecho da segunda etapa da Barra. Estamos dando a ordem de serviço, que vai acontecer a partir da próxima semana. A empresa já está mobilizada, vamos começar a obra do Rio Vermelho, que, de todas as obras da orla, é a mais complexa e desafiadora, por ser uma área de passagem e grande fluxo de automóvel, pedestre. Vamos ter restrições durante o período da obra. Eu, pessoalmente, discuti o ‘faziamento’ dessa obra para gerar o mínimo de restrição possível, mas vai ter. Tanto que vamos trabalhar com muita comunicação, informando as mudanças, mas desde já eu começo a pedir paciência e compreensão das pessoas, pois haverá uma inevitável consequência de piorar o trânsito no período da obra, mas vamos ter  alguns meses sofrendo com situação de piora no trânsito, mas teremos, definitivamente, uma obra de uma dimensão extraordinária para o Rio Vermelho. Com algumas entregas já feitas, com outras que serão feitas em 2015 e outras que serão entregues em 2016.

Tribuna – A Pituba também está no planejamento de intervenção na orla pela prefeitura?
ACM Neto –
Nossa intervenção no Rio Vermelho vai até a Amaralina.  De Amaralina até o Jardim de Alá é um trecho que ficou sob responsabilidade do governo do Estado, que começou a fazer algumas intervenções, na minha opinião, ainda tímidas. Mas há uma sinalização, inclusive isso foi objeto de debate interno aqui na Prefeitura, que agora naquela área a intervenção será mais expressiva. Na verdade esse é, hoje, o único trecho de orla que ficou de responsabilidade deles. Do Jardim de Alá adiante, volta a ser da Prefeitura.

Tribuna – O que fazer para avançar na área da Educação e qual o principal gargalo para que a população perceba uma mudança no setor?
ACM Neto –
Vamos lançar agora em maio nosso novo programa de educação e vamos ter ações estruturantes na área. A educação vai ser a agenda prioritária da Prefeitura nesses dois anos. As mudanças que fiz foram exatamente para dar esse choque na gestão educacional da Prefeitura, levando para lá o Guilherme Bellintani, fazendo uma revisão completa da estrutura da administração da Secretaria Municipal de Educação. Nós, este ano, já vamos ter muitas entregas importantes na questão das obras físicas. Agora entre abril e maio vão faltar dias da semana para inaugurar escolas que foram reformadas. Ao todo são mais 80 escolas que foram totalmente recuperadas pela Prefeitura. Nunca houve uma quantidade tão grande de reformas. Este ano começa a construção do centro de formação integral. Cada centro desse orçado em mais ou menos R$ 15 milhões, o que vai expandir de maneira extraordinária a educação em tempo integral. Vamos construir, os projetos estão concluídos e as licitações serão publicadas agora. Serão 40 centros de educação infantil para a gente expandir o número de vagas nas creches e pré-escolas, que talvez hoje seja um dos maiores dramas sociais. Não ficamos parados, lançamos o Primeiro Passo. Depois do lançamento e feito o primeiro pagamento, o número de famílias que se cadastram vem aumentando progressivamente. Nós esperamos chegar a oito mil famílias inscritas no Primeiro Passo. Então a assistência à primeira infantil é uma preocupação fundamental. Já estamos fazendo um programa de regularização de fluxo, em parceria com o instituto Airton Sena, que já deu certo em diversos municípios e estados brasileiros e agora vem para cá. Temos valorizado o professor e este ano a gente começa a implementação do plano de cargos e vencimentos, que foi aprovado por mim depois de 20 anjos de espera. Então, é uma enormidade de coisas que vão acontecer na educação nos próximos anos. Eu não tenho dúvida que essa será a grande vitrine do nosso governo nos anos de 2015 e 2016.

Tribuna – Não dá para falar na cidade sem tocar numa ferida que está exposta, que é o Aeroclube. Quando aquela área vai ter uma solução?
ACM Neto –
A obra do parque já está em estágio de execução e vai ser entregue no começo do ano que vem. Vai ser um dos maiores ou o maior parque público litorâneo do Brasil. E a obra do shopping aguarda ainda a adequação dos padrões urbanísticos. Estamos fazendo vários estudos, isso, inclusive, foi uma demanda do Ministério Público. Já existe o concessionário definido, o projeto aprovado e o que nós estamos, agora, é burilando esse projeto. Eu não posso desconsiderar o momento econômico que o país vive, e a gente tem conversado com a concessionária sobre isso, porque não me interessa ter ali um novo elefante branco, não acontecerá, mas o que é mais importante, que são as contrapartidas do concessionário para o poder público, e a principal contrapartida é a implementação do parque. A obra está avançando e até o começo do ano ela estará entregue à cidade de Salvador.

Tribuna – Como viabilizar tanta obra e tanto projeto com um cenário de crise nacional como essa? Qual está sendo a fórmula para ajustar investimentos e finanças municipais?      
ACM Neto –
Nós fizemos o dever de casa. Temos que fazer isso no começo do governo. Fiz um ajuste fiscal, equilibrei as contas da Prefeitura, revi despesas, cortei desperdícios, melhorei a qualidade do gasto público municipal e também trabalhei para elevar as receitas. Esse equilíbrio fiscal nos permitiu que virássemos 2014 para 2015 com mais de R$ 1 bilhão em caixa, coisa que numa existiu na história de Salvador. É claro que essa economicidade nos permite enfrentar um ano de crise econômica sem prejudicar os serviços púbicos e o plano de investimento que foi traçado. Além disso, trabalhamos muito nesses dois anos para que Salvador voltasse a ter condições de contratar operações de crédito, agora estamos contratando a primeira depois de 12 anos com o BNDES. Temos uma segunda operação em estágio bem avançado na área de turismo, que é o Prodetur, um financiamento importante que a Prefeitura vai tomar, ao todo serão    US$ 100 milhões. E temos uma terceira operação, essa sim a mais significativa das três, com o Banco Mundial. Nós fizemos na semana retrasada a defesa dessa operação na Confiex, no Ministério do Planejamento, o Banco Mundial já avançou os detalhes todos. Com operação de US$ 400 milhões  para a área de educação, saúde e ação social. Claro que essas operações de crédito dependem da autorização do governo federal, e a gente torce. Eu já conversei com o ministro da Fazenda que os municípios que fizeram o dever de casa e têm capacidade de endividamento e pagamento não podem ser prejudicados pela crise. Nós estamos buscando financiamento, mas estamos dando garantia de pagar. 

Tribuna da Bahia – Vamos para a política. Como anda a relação do senhor com o governador Rui Costa?
ACM Neto –
Sem dúvida é uma relação que melhorou muito da eleição para cá. Eu, desde o primeiro momento, disse que não queria alimentar divergências. A eleição nos colocou em palanques opostos, mas depois o resultado dele nos colocava em missões complementares. Eu como prefeito e ele como governador temos que colocar em primeiro lugar os interesses da cidade e os mais elevados projetos para Salvador. Acho que, fruto de uma visão bastante consciente e madura dos dois, essa relação foi aperfeiçoada, tivemos um encontro de trabalho muito produtivo na Governadoria que depois se desdobrou em ações conjuntas. Até mesmo o contencioso judicial que existia foi eliminado em ambas as partes, em todas as esferas. E realmente eu acho que é bom para a cidade que prefeito e governador não andem brigando. E temos muitos desafios pela frente que vão exigir diálogo, talvez o mais importante dele seja o metrô. A Prefeitura não só tem o compromisso de viabilizar como se sente parte fundamental da decisão que foi tomada, até então, que permite que o metrô hoje seja uma realidade bem mais próxima do que foi há anos atrás. O metrô vai sair, os grandes projetos vão sair e no que depender de mim essa parceria sempre vai estar preservada porque é o interesse da cidade em primeiro lugar.

Tribuna – Quem é mais fácil de lidar na construção da relação institucional, Rui ou Wagner?
ACM Neto –
São pessoas de personalidades e estilos diferentes. Wagner é um cara que dava muita importância para conversas políticas. Já Rui dá muita importância para os temas da administração, da gestão. Então o peso das conversas de um e de outro tem essa diferença, que é próprio do estilo de cada. Mas eu diria que a possibilidade de conviver é tão boa quanto, não tem por que ser diferente. 

Tribuna – O senhor se identifica mais com o estilo de qual dos dois?
ACM Neto –
Eu não tenho que ter preferências e nem estabelecer escolhas. Eu coloco a minha função institucional em primeiro plano e entendo exatamente as obrigações que ela me impõe e procuro, sempre da minha parte procurarei, ter uma excelente relação com o governador. Respeito a posição que ele ocupa e jamais haverá nenhum tipo de questão partidária, pelo menos no que se refere à minha postura, comprometer essa relação.

Tribuna – Há muita celeuma em relação à liberação do metrô da Paralela. O que de fato está acontecendo e o que falta?
ACM Neto –
Você há de convir que o metrô é uma obra complexa. A gente já pode sentir, por exemplo, as restrições de trânsito em função das obras que avançam do Acesso Norte em direção ao Iguatemi pela Avenida Antônio Carlos Magalhães. Qual é a minha preocupação central? É o plano de trânsito.  Eu estou pronto para dar um alvará provisório e permitir o início das obras da linha 2, tão logo a questão do trânsito esteja resolvida. Eu tenho uma preocupação com quem mora no entorno, e avaliei toda aquela comunidade de Pernambués, Saramandaia. Existe um contingente população muito grande no entorno e estou muito preocupado com a fluidez da cidade numa área que é, hoje, a principal via de trânsito que é a Paralela. Existe um aspecto que é o urbanístico. O canteiro central da Paralela é um parque linear e é claro que todo cuidado tem que ser tomado para isso. Nós estamos mobilizados através da fundação Mário Leal Ferreira para chegar a um entendimento para saber onde será colocado o metrô no canteiro central e que providências devem ser tomadas a título de paisagismo para mitigar o impacto urbanístico do metro na Paralela. Só que a primeira preocupação é o impacto no trânsito e na vida das pessoas que moram no entorno da Paralela. Uma vez isso superado, nós estaremos prontos para dar o alvará provisório, porque o canteiro central pertence à Prefeitura. Mas isso não será empecilho. O ponto central é o impacto no trânsito e a questão da vizinhança.

Tribuna – Mas o senhor admitiu agora há pouco que no Rio Vermelho vai haver impactos no trânsito.
ACM Neto –
Claro, e vai haver lá (Paralela) também. Estamos fazendo todo um trabalho para mitigar. No Rio Vermelho eu retardei essa obra quase um ano por causa dos estados e para mitigar. Impacto vai haver. A obra do metrô já trouxe, o BRT vai trazer, não tem jeito. Mas eu não posso parar a cidade. Essa é a preocupação. Veja que esses cuidados são fundamentais. Agora tivemos, recentemente, um episódio, cujas responsabilidades não foram conclusivamente apontadas, mas que fez uma parte da cidade ficar sem água por causa da obra do metrô.

Tribuna – O Democratas deu um sinal claro que está pronto para fundir com o PTB, mas o PTB pediu mais tempo para confirmar. Como está esse processo? Houve algum desgaste?
ACM Neto –
Primeiro, não é verdade que o PTB pediu mais tempo. Eu tenho acompanhado essas conversas, claro que com distância porque não estou em Brasília, mas o PTB, na direção nacional, já decidiu que quer a fusão. A direção nacional do Democratas se reuniu na semana passada e decidiu por 21 a 4 que quer a fusão, mas estabeleceu condições. Então existe condições de lado a lado para que a fusão possa acontecer. Isso possa por dois aspectos. Um é a concussão do entendimento nos estados e a definição do alinhamento programático nacional. Nós, do Democratas, estabelecemos como premissa que esse partido tem que ter uma linha preponderante de oposição. Então, ninguém pode pensar em fazer a leitura que esse movimento é para se aproximar com o governo ou para aderir ao PT. O novo partido terá duas alternativas: ou apresentar candidato próprio à Presidência da República em 2018 ou fazer alianças, como pode ser com um dos candidatos que se colocar, porém jamais com o PT. A única proibição é de aliança com o PT. Então, nós estamos em fase de planejamento disso, há uma compreensão de que esse processo precisa estar concluído até junho. Para isso os dois partidos precisarão fazer convenção nacional, as duas convenções precisam aprovar, depois das aprovações produz a fusão jurídica, encaminha para o TSE, que tem até dois meses para decidir. Então, até junho isso terá que ser concluído, se não for concluído até junho, não haverá fusão. É simples.

Tribuna – A morte prematura de Eduardo Campos deixou um vazio na renovação da política nacional. Pensando em 2018, a gente tem Cid Gomes se colocando como candidato, tem a Marina, tem o Aécio que se consolida e o desgaste natural do PT. Qual o cenário que o senhor vê em 2018?
ACM Neto –
Eu acho prematuro falar de 2018. Tem muita coisa para acontecer. Imagine se alguém poderia imaginar em 2011 o que poderia acontecer em 2014. Em 2011, Aécio ainda não era candidato a presidente, Eduardo Campos não era candidato, muito menos ninguém imaginava que ele iria falecer. Marina era candidata a presidente, depois deixou de ser e acabou sendo. O governo vinha com muita força, depois chegou na eleição mais fraco e a disputa foi apertada. Então, três anos e meio na política é muito tempo. Muita coisa pode mudar. Ninguém hoje tem bola de cristal para fazer qualquer prognóstico. O que eu posso com alguma segurança afirmar é que eu acho que o ciclo do PT está se encerrando. O que eu acredito firmemente é que em 2018 trará uma alternância do poder no plano federal, com uma derrota do poder, isso é o que eu acredito. Pode até não acontecer, mas é o que eu acredito. Porque ele vai encerrar um ciclo com muita fadiga. Agora, quem serão as peças, quem serão os nomes, isso não posso dizer.

Tribuna – Esse ciclo pode se antecipar com o impeachment da presidente Dilma?
ACM Neto –
Eu não credito no impeachment da presidente Dilma. Acho que para isso acontecer, três condições têm que se reunir ao mesmo tempo. De um lado, uma vontade majoritária e contundente da sociedade; do outro, um fato jurídico incontestável; e, finalmente, um ambiente político no Congresso que caminhasse nessa direção. Hoje eu não vejo essa hipótese. Falar em impeachment é mais especular. Existe um segmento que tem um desejo de impeachment que é legítimo. Não condeno quem fala no assunto, mas me recuso a falar porque ele não vai acontecer. O governo vai enfrentar sucessivas crises e dificuldades no campo econômico, político, por causa de um modelo que faliu e o PT não tem mais condições de romper com esse modelo, por que foi ele que sustentou o PT no poder e fez com que ele ganhasse quatro eleições. Ele precisa ter uma base parlamentar no parâmetro da troca de cargos, pressão de deputados, favores aqui e acolá. A essência é isso. É lotear uma empresa pública como a Petrobrás, dividir entre os partidos políticos e saqueá-la. 

Tribuna – Acredita que a presidente Dilma vai conseguir reverter essa onda de crises que degasta o governo, degasta o PT? Acredita que a fadiga do partido vai ficar mais evidente a partir de agora?
ACM Neto –
Eu repito, o PT caminha para cumprir o seu último mandato à frente do governo federal. Não vejo grande espaço de grandes recuperações políticas no governo. Porque eles estão pagando o preço por todos os erros que cometeram. Acho que o cenário de 2018 vai ser de clara alternância de poder, mas também não vejo o governo cair por impeachment. Hoje, possa ser que surjam novos fatos, aconteçam novos episódios, mas hoje eu não vejo.

Tribuna – O trabalho feito até agora o tranquiliza a chegar fortalecido à sua sucessão, em 2016?
ACM Neto –
Eu sou um dos sujeitos mais intranquilos que eu conheço. Me cobro muito mais do que qualquer morador de Salvador. Nunca me dou por satisfeito por mais que reconheça que a cidade está bem, que as coisas estão melhorando, mas sempre há muito o que se fazer. Não acredito em eleição ganha de véspera, não acredito em candidato vitorioso que esteja deitado em uma rede tomando brisa. Eu não estou pensando em 2016. A eleição de 2016 é consequência. Sempre isso esteve muito claro na minha cabeça. Não estou pensando nela, não decidi que sou candidato, que vou disputar. Se não estou pensando em 2016, muito menos em 2018.

Tribuna – Mas muita gente está pensando em quem vai ser o seu vice. Como vai conseguir administrar essa disputa de partidos e aliados, que almejam esse espaço?
ACM Neto –
É bom frisar que eu tenho uma vice no meu primeiro mandato, que é a professora Célia. Então, por respeito a ela, eu não poderia nem estar discutindo esse assunto agora. Segundo, aí eu volto para as surpresas da política, quando nós disputamos as eleições em 2012, a vinda de Célia para a chapa foi uma grande novidade. Ela não apareceria em nenhuma das bolsas de aposta anterior ao momento da escolha. A política traz mudanças de contextos com muita velocidade. Esse é um assunto que está fora da minha preocupação. Primeiro eu vou ter que decidir se vou ser candidato. Depois eu vou ter que analisar o contexto político, as expectativas partidárias e montar uma chapa, mas isso está muito distante. 

Tribuna – O governador Rui Costa, quando assumiu, delimitou o campo político muito claramente e exigiu coerência dos aliados. Isso, de alguma forma, vai repercutir nas próximas eleições?
ACM Neto –
Eu confesso que não sei. Acho que pelo menos do ponto de vista da nossa relação, eu até já frisei isso, o momento hoje pelo menos é diferente do que era no começo de janeiro. Eu não sei como as coisas vão estar no ano que vem. Qual vai ser a postura do governador na eleição municipal. Não cabe a mim conjecturar quem serão os candidatos no campo da oposição, se serão um ou se serão vários. Muitos menos a escola do candidato. Eu tenho que fazer o meu trabalho, cumprir meu mandato, honrar o voto que tive. Tudo isso é consequência. Em 2012 eu fui candidato e ganhei a eleição com o meu partido e mais quatro. O meu principal adversário tinha 15. Então o que determina a vitória eleitoral não é se você tem cinco, 10 ou 15 partidos e sim a vontade do cidadão. E há uma variável que a gente ainda não pode considerar nesse momento, que é a reforma política. As regras do ano que vem não sejam as regras de hoje, por conta das mudanças que possam acontecer, e eu espero, particularmente, que aconteçam. 

Tribuna  – Como vê esse escândalo da Petrobras, já que ele respinga diretamente em empresas e empresários baianos?
ACM Neto –
É assustador ver que a maior empresa do Brasil foi tomada de assalto, não há outro termo para classificar. É o maior escândalo de corrupção da história do país e pode ser um dos maiores do mundo inteiro pelos volumes movimentados. É lamentável que a Petrobras, uma empresa tão estratégica para o país, tenha passado por tudo isso, até porque tem milhares de pessoas, cidadãos comuns que são acionistas da Petrobras e vêm sendo prejudicados por essa crise toda. O que eu espero, honestamente, é uma coisa só: que a impunidade não prevaleça. Qual é a grande lição do Mensalão e agora com o Petrolão? É que empresários vão para a cadeia, políticos vão para a cadeia, coisa que no Brasil não se via no passado. E essa quebra de paradigma aconteceu com o Mensalão. Então isso vai melhorando as instituições e a política. Eu não posso acreditar que as eleições de 2016 vão ser iguais às de 2014. Não vai ser mais a mesma coisa. Eu não posso acreditar que financiamento de campanha vai se dar de maneira tão irresponsável como se deu até então. Ou que as relações entre privado e público continuarão tão promíscuas. Eu acho que isso tudo vai trazer mudanças substantivas, com impactos no futuro do país.

Tribuna – O que fazer para que o país não sofra com tantos impactos por conta das ‘maracutaias’ que aconteceram na Petrobras? 
ACM Neto –
Geralmente a primeira resposta que alguém dá é: precisamos de uma reforma política. Realmente nós precisamos de uma reforma. Isso é uma coisa real. A campanha no Brasil não pode custar o que ela custa hoje. Essas dezenas de milhões de reais para prefeito, govenador, presidente, senador. Não pode custar isso. O mecanismo de controle do Poder Judiciário, principalmente da Justiça Eleitoral, durante o processo eleitoral, tem que ser reforçado. Não dá para conviver com essa quantidade absurda de partidos. O Brasil conviver com mais de 30 partidos, isso é um absurdo. Partidos que às vezes só existem para mercantilizar tempo na televisão. Não dá. Porém não venha me justificar roubalheira com financiamento público de campanha ou com regras de um sistema político que não são perfeitas. Uma coisa não justifica outra. Roubalheira é roubalheira. É falta de caráter, falta de escrúpulos, falta de espírito público. O caminho para que o Brasil posso estar mais protegido na frente são dois, na minha opinião. Um que depende de uma ação imediata, que é reforma política, e outro que depende de um ação permanente com resultados em médio e longo prazo, que é de se investir em educação.
Tribuna – O que acredita que vai ser possível fazer com relação a essa questão da preparação das próximas eleições sobre o viés de financiamento? Muitos falam em financiamento público de campanha, mas os partidos não já são financiados com o dinheiro público? 
ACM Neto –
Eu sou contra o financiamento público. Não resolve. Financiamento público sem voto em lista não resolve. Vai ser caixa 2 à vontade, vai ser mais um tributo a ser formado. Eu sou a favor do financiamento privado, com limites rigorosos de doação, seja da pessoa física ou da pessoa jurídica. De maneira que você não vai tornar o eleito refém ou dependente de uma corporação, de uma empresa ou de um grupo empresarial. Defendo que crie-se no Brasil urgentemente mecanismo de doação pela internet, que ainda não existe nenhum eficaz, que permita pulverização. Nos Estados Unidos, um candidato a presidente tem mais de um milhão de doadores. Aqui, se o cidadão quer doar R$ 20 ele não tem como, porque é uma burocracia tão grande e ele não doa. Então você tem que ter mecanismo para facilitar a doação, pela pessoa física, pulverizar essa doação e pôr um limite rigoroso para pessoa jurídica e física. Dar transparência, fiscalização da Justiça Eleitoral, e tudo isso só vai funcionar se houver uma decisão drástica de redução dos itens que compõem uma campanha política. Por exemplo, televisão. Quanto custa contratar uma equipe de marketing? Milhões de reais porque os recursos são infinitos. Tem gente que vai buscar diretores de cinema. Se você disser: olha, agora a campanha vai ser assim: o sujeito vai para a televisão e vai ter que falar com o eleitor e apresentar suas propostas. Você vai evitar a possibilidade de todo esse requinte, você barateia. Tem que tirar os insumos que encarecem a campanha. Porque se não tirar, você vai limitar o financiamento, mas vai continuar com a despesa lá em cima. Aí é perigoso porque o caixa 2 vai rolar solto.

Tribuna – Como viu a prisão do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto?
ACM Neto -
 Estarrecido, porque o PT não aprende. O ex-tesoureiro do PT foi pra cadeia, Delúbio Soares, o atual na cadeia, João Vaccari Neto. O PT não aprende. Realmente é uma coisa estarrecedora. Não pode haver pior exemplo político para o Brasil do que as práticas que foram conduzidas pelo PT, especialmente pelos seus operadores.

Tribuna – Acredita que essas investigações vão atingir o ex-presidente Lula?
ACM Neto –
Não sei. Não tenho elementos e não gostaria de especular sobre isso.

Colaboraram: Daniela Pereira e Fernanda Chagas