Tribuna da Bahia - Como o senhor tem visto a crise entre a presidente Dilma e o Congresso Nacional?
Antonio Imbassahy – É uma crise muito forte. Uma desconfiança do Congresso com relação à conduta da presidente e a própria capacidade dela em superar esses desafios. Não apenas a crise na economia, mas, sobretudo, essas denúncias de corrupção que transformam o governo do PT num verdadeiro mar de lama.
TB – O Sr. acredita que o Palácio é refém da Câmara e do Senado, ou apenas do PMDB?
AI - Sem dúvida, quem governa o país hoje é o Congresso, através do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do deputado presidente da Casa, Eduardo Cunha. Então a presidente perdeu completamente a autonomia e as condições para iniciativas de transformação do país.
TB - O Sr. é a favor da ala do PSDB que quer o impeachment, ou prefere ver a presidente sangrar como defendeu o senador Aluisio Nunes?
AI - Impeachment está previsto na Constituição. Isso depende da conduta do governante. O que percebemos é que se vier a ocorrer o impeachment Ele foi construído pela própria presidente Dilma no passado e no presente. De maneira que não tem que se ter nenhum tipo de inibição de debate. É constitucional, absolutamente legal, o Brasil já experimentou um impeachment de Collor. Fato é que tanto a Operação Lava Jato e a CPI estão averiguando se existe alguma má conduta da presidente, alguma atitude ilegal.
TB - Como o Sr. vê o envolvimento, a denúncia contra o tesoureiro do PT? Isso atinge diretamente a cúpula do partido?
AI - Não é o primeiro tesoureiro . O Delúbio Soares já foi condenado pelo mensalão, e esse agora, o segundo tesoureiro, o João Vaccari, é réu do novo escândalo. O Petrolão. Isso é claro que atinge frontalmente o PT, porque são denúncias e comprovações no caso do Delúbio, e indícios fortes no caso de Vaccari, da utilização de dinheiro sujo, propina para abastecer o PT e companheiros.
TB - O senhor enxerga uma saída para essa crise a curto prazo?
AI - Os cenários são imprevisíveis, porque a falta de credibilidade da presidente, a incompetência dela também comprovada... Uma presidente que mentiu durante a campanha eleitoral, enganou a população, traiu os brasileiros, dizia que a economia estava bem e logo em seguida, reeleita, aumentou as taxas de juros... Pagamos a gasolina mais cara do mundo, a conta de energia vai subir este ano, possibilidade de 65% para o consumidor residencial, e 55%para o industrial, a avaliação do câmbio... Enfim, uma presidente que ficou completamente desacreditada. Portanto a crise fica muito mais difícil de ser superada. Mas o Brasil é grande, forte, e encontraremos as soluções.
TB - Como vê a crise da Petrobras e as investigações que estão sendo feitas?
AI - Lamentável imaginar que o governo do PT, especificamente no governo do ex-presidente Lula, tenha instalado dentro da principal empresa brasileira uma organização criminosa para saquear e assaltar. Ninguém gosta de ver a Petrobras nessa situação. A Operação Lava Jato, ao revelar informações, a cada momento vai estarrecendo a população e causando indignação em todos nós.
TB - O Sr., como vice-presidente da CPI da Petrobras, acredita que a Comissão dará resultados concretos ou as investigações que correm na Justiça avançarão mais?
AI - Evidente que a operação está sendo bem conduzida pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. A operação está muito mais avançada nas investigações. Agora a CPI vai cobrir sua tarefa para colaborar com a investigação e vai colocar mais luz nesse escândalo que é uma coisa amazônica. E o importante é que a imprensa acompanhe e a população tenha conhecimento dessa sujeira instalada no governo do PT.
TB - Pela dimensão do escândalo do “Petrolão” e o impacto que está tendo no empresariado, o Sr. acredita que será difícil os empresários manterem relações promíscuas com muitos políticos como está sendo mostrado nessas investigações?
AI - Imaginávamos que o mensalão fosse um divisor de águas para uma boa conduta dos governantes, dos políticos, dos empresários de maneira geral. Mas não foi o que aconteceu. O Petrolão, pela sua dimensão e pela força da própria empresa, não tenho dúvida que vai significar um corte, uma ruptura no comportamento dos governantes brasileiros.
TB - O senhor acredita que essa investigação vai conseguir mudar a forma de fazer política no país?
AI - Acho que sim, até porque não apenas a investigação, como o impulso que está sendo dado à Reforma Política. O fato é que, com a revelação desse escândalo dessa proporção, haverá muito mais cuidado, muito mais atenção, e muito mais atenção dos brasileiros, e isso vai inibir a corrupção, até porque temos confiança na Justiça e no fim da impunidade.
TB - Como avalia essa crise financeira? É possível dimensionar sua extensão?
AI - Ela decorre da competência de uma presidência e de um partido político cujo único propósito é sua manutenção no poder. O país está parado, uma perspectiva de grave recessão, e o ajuste fiscal proposto pela presidente Dilma, de um lado, solicita o sacrifício da população, mas ela não faz seu dever de casa e mantém 39 ministérios, uma grande parte sem nenhum tipo de resultado, e 23 mil cargos de confiança para acomodar companheiros.
TB - Como avalia o ajuste fiscal que a presidente tenta negociar e aprovar com o Congresso?
AI - É um ajuste rudimentar que não tem começo, início, meio e fim. Os brasileiros não sabem quais serão os resultados. Ademais também o próprio PT que governa o País não tem convicção em relação a essa proposta. Vamos aguardar que a CUT manifeste seu apoio a esse ajuste para que o PSDB possa também se manifestar.
TB - Como viu os protestos que aconteceram em março? Eles vão continuar com força?
AI - Sem dúvida nenhuma vai prosseguir, até porque, como a presidente indignou os brasileiros com suas mentiras durante a campanha, e agora com essa crise econômica intensa, e os escândalos de corrupção, não só da Petrobras, mas em outras organizações como BNDES, o setor elétrico, aeroportos... Isso traz a movimentação espontânea da população, que mostra, evidentemente, o descontentamento e a indignação.
TB - A oposição saiu forte das urnas, o Sr. acredita que Aécio Neves personifica um desejo de mudança existente no País?
AI - Nós vivemos uma situação interessante. Em que a presidente Dilma que ganhou as eleições não pode sair às ruas. E Aécio Neves também não pode sair às ruas. Só que com situações diferentes. A presidente é vaiada e Aécio é aplaudido.
TB - Sobre a questão da fusão do DEM. Existe um espaço entre o DEM e o PSDB ou interesses não convergem entre as siglas?
AI - Isso nunca foi considerado. O DEM tem história e autonomia e realiza grande trabalho em prol da sociedade brasileira, mas não há nenhum tipo de entendimento de fusão entre o PSDB e o DEM, embora sejamos parceiros e tenhamos boas convergências, nas próximas eleições.
TB - Como o PSDB vai se comportar na eleição de 2016 em Salvador? O apoio a Neto era automático?
AI - Não existe apoio automático. O que existe é o reconhecimento do PSDB à bela gestão que Neto está realizando. E tudo isso estimula o entendimento, mas tudo tem seu tempo, e vamos tomar a decisão.
TB - O PSDB tem força para buscar a indicação de um possível vice?
AI - O que interessa ao PSDB é um projeto que coloque a cidade onde ela sempre mereceu estar. Lamentavelmente, nos últimos anos – não agora com o prefeito ACM Neto, ao contrário, ele faz trabalho de recuperação rigorosa da cidade –, mas a cidade passou por situação muito desagradável e merece estar sempre em primeiro lugar. E é isso que vai prevalecer nas decisões do PSDB.
TB - Como avalia o governo de Neto? Qual principal erro e acerto?
AI - O governo, no conjunto de sua obra, é acertado de uma maneira muito forte. Não há dúvida que o prefeito realiza uma grande administração. Claro que tem sempre dificuldade, de natureza financeira, de administração e composição de equipe, mas é uma coisa que toda administração enfrenta, o prefeito tem feito tudo isso com muita capacidade e talento.
TB - Como um ex-prefeito bem avaliado, qual você considera o maior trunfo de Neto que ele deverá utilizar em 2016?
AI - O prestígio político de um governante depende dos resultados da administração. O prefeito, seguindo nessa direção, evidentemente que chega numa posição muito boa para as eleições de 2016. O que temos que fazer é apoiar toda iniciativa que ele tem tomado para recuperar a cidade.
TB - Como avalia o começo do governo de Rui Costa?
AI - É difícil fazer uma avaliação, tá muito no início, é muito pouco para fazer essa avaliação. Dar mais um pouco de tempo e desejar sorte. Ninguém vai querer que ele seja mal-sucedido. Queremos que ele seja bem-sucedido. Evidentemente que ele herdou uma situação muito ruim, muito desfavorável, e espero que ele supere os obstáculos para que a Bahia fique também numa boa posição. O fato é que a Bahia, nos últimos oito anos, perdeu tino político no cenário nacional e perdeu posição na economia regional. No Nordeste ficamos assistindo, até há pouco, a Ceará e outros estados avançarem enquanto a Bahia estava estagnada.
TB - Concorda com setores da oposição no estado de que o governo Rui começou muito mais político do que cuidando da gestão da Bahia?
AI - Acho que é muito prematuro fazer uma avaliação dessa natureza. São 90 dias que o governador está governando. Dá tempo ao tempo para fazermos avaliação mais responsável e mais consistente.
TB - Qual o maior desafio do seu mandato para 2015?
AI - Acho que vai ser esse trabalho que estamos realizando na CPI. Tem que ter muita moderação, muita determinação, porque existem forças que querem que a CPI avance e outras que não querem. Minha posição será de manter o rumo, a CPI não pode ser politizada, partidarizada de debate político. Ela tem que contribuir com a força que tem no Congresso Nacional, e com a investigação que a Lava Jato vem fazendo. Se conseguirmos fazer boa conjugação desses interesses, evidentemente que o Brasil vai apoiar a CPI ao ver os resultados.
Colaboraram Fernanda Chagas e Hieros Vasconcelos Rego.