Entrevistas / Política

Para Benito Gama, "O Planalto e a presidente estão fragilizados"

Tribuna da Bahia - Como está o processo de fusão com o Democratas, temos alguma definição?
Benito Gama –
Olhe, dois partidos médios como o PTB e o DEM, que individualmente têm boa bancada federal, e bom número de prefeitos, vereadores e deputados estaduais, realmente, somados indica que se transformará num grande partido. Essas conversas começaram há pouco tempo e estão avançando.  Evidentemente que na questão política tem que ter construção permanente. As coisas estão caminhando bem no entendimento, ainda que tenhamos outros estados a ser ultrapassados, mas tudo indica que, se continuar como está, as coisas vão chegar a um lugar, um determinador comum positivo, mas ainda é cedo para dizer se acontecerá ou não. Mas que as coisas estão evoluindo, sim.

Tribuna - Há prazos?
Benito -
O prazo não é nem questão da vontade dos dois partidos. É imposição do calendário eleitoral. Então, como temos um prazo de filiação, tendo ou não a fusão, 30 de setembro é um prazo fatal. Precisamos resolver isso pelo menos até junho porque, acontecendo a fusão, teríamos que trabalhar três meses na direção de filiações. E não acontecendo também teremos os dois partidos para construir a eleição de prefeitos. Junho é um prazo razoável para concluir esse trabalho.

Tribuna - Existem integrantes do PTB na Bahia, como Edvaldo Brito e Jonival Lucas, que questionam essa fusão, e não veem nada de proveitoso na relação DEM e PTB. Como o senhor vê isso? Está havendo resistência por aqui?
Benito -
Não diria resistência, mas nós realmente precisamos conversar, porque na Bahia é um caso atípico. Apoiamos o governador Rui Costa na eleição e a nível nacional o partido apoiou Aécio. Então, há uma dubiedade. No caso da Bahia, vamos conversar com o Jonival e com Antônio Brito e ver como vamos ficar. Não dá pra ficar em duas canoas. Temos que tomar uma decisão. Esse caso não é só da Bahia. Temos vários estados com o mesmo perfil de apoiar o governador e a nível nacional ser oposição. Pernambuco, por exemplo, o Armando Monteiro é oposição de Pernambuco e é do governo a nível federal. O Mendonça Filho, que é o líder do Democratas na Câmara, é oposição a Dilma e é governo em Pernambuco. Estamos buscando uma solução e sem dúvida alguma, como todos são interessados num projeto político maior, vamos continuar conversando. Não é resistência, é busca de entendimento.

Tribuna - Existe risco de crise interna?
Benito -
Na Bahia, não. A nível nacional também não. Na Bahia o relacionamento é muito bom tanto com Jonival como com Brito.
 
Tribuna - O PTB mostrou a possibilidade de lançar candidatura a prefeito em Salvador em 2016. Uma fusão inviabilizaria isso porque Neto é candidato à reeleição?
Benito -
Essa é uma hipótese, e falar sobre hipóteses não é muito bom, mas tendo a fusão nosso candidato seria ACM Neto.  O PTB tem chance de ter candidato. Será Neto ou outro, caso não tenha a fusão.

Tribuna – E a relação com o prefeito ACM Neto, como está?
Benito -
Muito boa a relação com ele. Sempre foi.

Tribuna - De que lado vocês pretendem ficar, de ACM Neto ou de Rui Costa, já que há exigência de exclusividade do PT estadual?
Benito - 
Seguramente vai ter posição, mas ainda é muito cedo para decidir porque até então não houve a fusão.

Tribuna - Na Bahia, vocês indicaram o presidente da Conder, órgão importante e estratégico no desenvolvimento do Estado. E tem também o secretário Erico Mendonça, que ficou no Turismo, no lugar de Bellintani, com o aval do PTB. Essa questão de apoio duplo será resolvida?
Benito -
A nível municipal não temos nenhuma função na Prefeitura de Salvador. Agora a nível estadual, o presidente da Conder é do PTB e o partido incorpora como indicado dele. Mas acontecendo a fusão, temos que sentar... e preciso conversar previamente com o governador para ele não obter essa informação pela imprensa. Tem que ser algo civilizado, para mostrar os prós e os contras. É uma hipótese que pode acontecer daqui a dois meses. E não vamos ser antiéticos nesse processo.

Tribuna - Teme perder o comando da Conder, já que é um órgão importante?
Benito -
Não. Apoiamos Wagner em 2006, em 2010 e agora Rui Costa. E evidentemente que participamos do governo hoje. Esse é um fato novo. Você mudando as coisas... tudo tem causa e efeito. Se mudou a causa tem que desconsiderar o efeito.  Se tiver qualquer problema, e ainda está cedo para dizer, a solução virá naturalmente.
 
Tribuna - Como o senhor, como deputado federal, tem visto de perto a crise que a presidente Dilma esta enfrentando com o Congresso Nacional? Qual sua avaliação?
Benito -
Olhe, eu vejo o seguinte, o Planalto e a presidente estão fragilizados. Eu vejo uma distância muito grande entre a presidente Dilma e o Congresso. A interlocução não existe e então as negociações são pontuais, e isso não é bom para a presidente, nem pro Congresso, e nem pro Brasil. É urgente que a presidente busque entendimento com o governo, para que Executivo e Legislativo se articulem. Vamos precisar muito dessa união para tirar o Brasil da crise econômica que está instalada e enraizada. Hoje o relacionamento entre o governo e o Congresso é muito ruim, mas evidentemente que temos condições de fazer articulações e buscar uma saída. Até porque nossa obrigação não é de dificultar... é de criar soluções.

Tribuna - O que fazer para contornar esse tensionamento que é tão grande entre a base, no Congresso, e o Planalto?
Benito -
A questão maior é que no Congresso as lideranças formais é que cuidam de todas essas questões. Lá no Congresso existem lideranças formais instaladas. No governo ainda não existe nem formais nem informais do ponto de vista de negociação política, para que faça esse diálogo. A própria presidente só conversa com os lideres na época de crise. Claro que ela tem as pessoas que ouve politicamente, e não vou dar opinião sobre isso. Mas falta, do lado do governo, articuladores mais comprometidos e racionais, comprometidos com a solução do problema.

Tribuna - Como o senhor vê essa crise envolvendo a Petrobras?
Benito -
Isso é uma vergonha. Você tem a maior estatal do mundo, que foi saqueada por pessoas, empresas e políticos, e isso não pode ficar assim. Não há como fechar os olhos para essa questão. É preciso apurar a fundo, identificar os envolvidos. Saber quem são os responsáveis e punir. Não há mistério, não há dizer que é partido A, B, ou C. Temos que pedir apuração e punição.

Tribuna - Como o senhor vê essa crise econômica que o país está passando? É possível prever a profundidade dela?
Benito -
Essa crise não nasceu agora. Foi construída ao longo do passado, dos últimos dois anos, por equívocos profundos na política econômica e de gastos do governo. O governo foi muito além do que podia ir, gastou muito e muito mal. Este é o fato. E agora para consertar precisa ter choque duro e drástico que o ministro Joaquim Levy está fazendo. Mas o desmando fiscal que tem no Brasil é realmente imperdoável. Não é por acaso, não é de agora. É sim uma construção preparada ou por incompetência, ou muita incompetência de pessoas que trabalharam na equipe econômica no governo da presidente Dilma.

Tribuna - Concorda com a tese da oposição de que a presidente Dilma praticou estelionato eleitoral ao defender bandeiras na campanha que são totalmente diferentes das que estão sendo postas em prática agora?
Benito -
Não. Eu não diria estelionato, que é uma palavra forte, mas, evidentemente, que as coisas que ela falava... ou estava mal informada ou agora está sendo obrigada a fazer tudo ao contrário. Não diria estelionato. Penso que essas promessas, infelizmente, o povo acreditou, e não acontecem na prática.

Tribuna – Como avalia o governo de Dilma. Esse cenário de crise pode dificultar as ações do governo federal, já que se percebe uma paralisia na economia do país?
Benito -
O nó que foi dado, ele realmente foi muito grande e forte. Voluntária ou involuntariamente, vamos ter muita dificuldade. A questão é internacional, tem relações das exportações e importações, que criam desequilíbrio de preços relativos. É um problema tão complexo que precisa de discussões complexas também. Não tem uma solução simples. Temos que juntar, penso, até em um governo de união, para tocar a economia do país.

Tribuna – O senhor foi o relator da CPI que gerou impeachment do ex-presidente Collor. Existe cenário de impeachment para a presidente Dilma ou ainda é cedo para falar sobre o assunto?
Benito -
Sinceramente, não vejo nenhuma razão para o impeachment da presidente agora. Não há um fato, não há nada. Você não pode julgar uma pessoa por uma crise de governo e impopularidade que possa ser momentânea. Se toda vez que for entrar em crise, você pede um impeachment, você está fazendo um desservico ao Brasil. Não vejo razões. Pode até ser que aconteça. O impeachment é questão de fatos e não vejo fatos que levem ao pedido.

Tribuna - Como avalia as manifestações desse domingo?
Benito –
Esse foi um movimento comandado não por partidos, mas por um sentimento de indignação e o desejo de fortalecer a democracia em todo o país. Que belo exemplo dá o povo brasileiro. Essas são manifestações legítimas. Protesto forte, grande e com paz, com repercussão internacional. O mundo também de olho no Brasil. Um país que já mostrou a sua força e poderá mostrar ainda mais. Este também é um momento para reflexão.

Tribuna - Como avalia o começo do governo de Rui Costa?
Benito -
Ao contrário da presidente, avalio como muito positivo. Não o governo, mas o governador em si. O próprio governador tem demonstrado que está no caminho certo e de que está com vontade política muito grande de acertar, e tem acertado. São três meses ainda, mas é cedo para julgar. Mas ao contrário do governo da presidente, a gente vê que Rui está no caminho certo, ainda devagar por causa da crise, mas no caminho certo.

Tribuna - Acredita que a forma como o prefeito ACM Neto está trabalhando por Salvador vai dar tranquilidade para ele conduzir o processo de sua reeleição?
Benito -
Salvador é a cidade onde moro, você mora, e vemos no dia a dia que a cidade tem um comando, tem ações positivas. É uma cidade com grandes problemas, mas você sente que a cidade tem melhorado muito. Começamos a voltar a ter orgulho de Salvador. Isso não é de política, de governo ou de oposição, mas o soteropolitano tem voltado a ter o amor pela cidade. Vejo que ele esta fazendo um governo realmente de vanguarda, com bons propósitos, e assim como Rui, penso que Neto está muito bem avaliado e suas ações foram extremamente suficientes par fazer uma avaliação do que pode acontecer nos próximos dois anos.

Tribuna - Qual o maior desafio do seu mandato, agora que retornou ao Congresso Nacional?
Benito -
Olhe, maior desafio que temos, e eu me incorporo nele, é a questão das reformas. O Brasil precisa passar por uma reforma ampla e consistente. Há 12 anos ele não passa. Reformas estruturais são reformas profundas, não são coisas fáceis. O maior desafio que tenho hoje, e estou trabalhando por isso, é fazer reformas estruturantes na previdência, para garantir aposentadoria decente para as pessoas, a reforma política. Consegui construir um grupo no Congresso para fazer as reformas que o Brasil precisa. Você tendo boas leis e boa estrutura constitucional, qualquer pessoa que chega pode aplicar isso bem. A reforma política está avançando. Vamos ter, até junho, julho, uma reforma política, que não será a mais completa, mais com avanços significativos, e isso está ganhando muita força. Acabar com a reeleição, e o financiamento de campanha, que é uma questão não somente do Brasil, mas de todo o mundo.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Hieros Vasconcelos Rego