Coração da boemia, em Salvador, o bairro do Rio Vermelho é, também – pelo espírito de liberdade que paira no local –, o point das comemorações de resultados eleitorais, quando militantes, notadamente de esquerda, deslocam-se para festejar ali a vitória política nas urnas. O certo é que a vida noturna e cultural em Salvador – com uma infinidade de shows ao vivo – concentra no “Red River” (denominação carinhosa, em inglês, que o local ganhou há alguns anos) o atrativo de dezenas de bares, pub, confrarias, restaurantes, churrascarias e pizzarias.
Pode-se afirmar que, ali, à noite, como em nenhum outro local da cidade, o céu tem mais estrelas. Tudo parece ter começado com o Bar do Deolindo, onde a atração etílica de “batidas” (esse drinque à baiana) tornou-se no início dos anos 70 um ponto de convergência para a romaria de soteropolitanos. Desde então, a opção do variado e dinâmico comércio do lugar passou a abrigar uma profusão de bares e botecos para os mais variados gostos. Há, ainda, obras de arte – como as de Bel Borba e Mestre Didi, grafites e esculturas em ferro – ampliando os limites estéticos do bairro.
As mais tradicionais baianas – Dinha, Cira, Regina e mesmo Rita – logo instalariam ali os seus tabuleiros de acarajés, ampliando o leque de alternativas, concorridíssimas, diga-se, para se degustar o sabor e aroma da Bahia. Mas nem só do etílico e da culinária vive o universo do Rio Vermelho. Já estamos, por exemplo, como cronometrou o casal Antonio de Jesus Oliveira e Maria Rita, “na contagem regressiva” para a Festa de Iemanjá, dia 2 de fevereiro, quando todos os caminhos levam à praia do bairro onde acontece a oferenda à orixá rainha do mar. A festividade é organizada pela Colônia de Pescadores, outro point bem demarcado no cenário do bairro, próximo à Igreja de Santana e à velha capela, também dedicada à Senhora Santana e construída no século XIX.
Oliveira e Rita revelaram ter se conhecido na pracinha da Dinha, no Largo de Santana, onde dá para perceber, como ele próprio sugere, “o quanto a paquera corre solta”. Mas isso, segundo o casal, “já faz 15 anos, foi exatamente em janeiro de 2000”. Desde então, “sempre estamos passando aqui para comer um acarajé e tomar uma cervejinha”. O mundo parece dar voltas na curva da Paciência, trecho marcante também pela praia do Buracão. Para Romeu Alves, “aqui é um point quase religioso para curtir uma praia sossegado, andar sobre pedras e desfrutar o pôr do sol”. O amigo, Ribeiro, concorda e acrescenta: “Como aqui não é tão disputado, dá para relaxar sem maiores problemas”.
Mas nem tudo é tranquilidade no bairro quando o assunto é o tráfego pelas principais e estreitas vias do local, caso das ruas Oswaldo Cruz e Odilon Santos. Nesse sentido, permita-se o trocadilho, dá para esgotar a paciência de tantos quantos seguem, seja no sentido Centro, seja pela Avenida Oceânica em direção aos bairros de Amaralina, Pituba ou para a Orla como um todo. Mas em se tratando de ruas, o bairro abriga, ainda, a característica de homenagear seus logradouros com o nome de cidades do interior do estado. Na Alagoinhas, por exemplo, está localizada a Casa Museu Jorge Amado, onde viveram os escritores Zélia e Jorge Amado, recentemente restaurada pela Prefeitura e aberta para visitação pública. Entre outras ruas, estão localizadas no Rio Vermelho a Caetité, Itabuna, Ilhéus, além da Fonte do Boi, outro point concorrido.
Alguns dos principais hotéis cinco estrelas e pousadas de excelência de Salvador; lojas de decorações, galerias de arte, shopping, também estão concentrados ali. Outro importante point do bairro é o Largo da Mariquita, onde está situado o Mercado do Rio Vermelho (também conhecido como Mercado do Peixe), onde funcionou a feira livre do lugar, embora já haja bastante tempo. O rio que corre no bairro na verdade é o Lucaia, margeando a Avenida Juracy Magalhães Júnior. Próximo à foz do Lucaia, existe uma estação de tratamento de esgotos domésticos da Embasa, onde resíduos sólidos e partículas em suspensão são separadas do efluente final, que é lançado a 3,4 quilômetros da costa pelo emissário submarino do Rio Vermelho, evitando a contaminação da praia.
Bairro ganhará intervenção urbana sob custo de R$ 70 mi
Nesta quarta-feira, 14, conforme previsto em edital, será definida a licitação para intervenções urbanas promovidas pela Prefeitura no bairro com a escolha da empresa responsável por tocar as obras que, de acordo com a Fundação Mário Teixeira Leal, terão início em março e sob um custo de R$ 70 milhões, recursos da Municipalidade.
As obras estão divididas em três etapas. A primeira, compreendendo o trecho entre o Largo de Santana (Dinha) e o Largo da Mariquita (Cira), enquanto a segunda se estenderá da praia da Paciência até o Largo de Santana; e a terceira, do Largo da Mariquita ao Quartel de Amaralina. Ao todo, a intervenção ocorrerá numa extensão de 2,3 km e uma área total de 141 mil m². O prazo para que as intervenções sejam concluídas é de 28 meses, isto é, em julho de 2017.
Conforme a Sucop (Superintendência de Conservação e Obras Públicas) está previsto que a primeira etapa tem que ser concluída em outubro de 2016. “Mas não será necessário terminar a primeira etapa para começarmos a segunda e a terceira”, estipula a presidente da Fundação Mário Teixeira Leal, Tânia Scorfield. Ela, contudo, não precisou o início das etapas seguintes.
Os custos do projeto também mais do que dobraram: no ano passado, estipulava-se um valor entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões.
O que alterou significativamente o montante a ser aplicado na obra, de acordo com a Fundação, foi a decisão de promover o enterramento de toda a rede elétrica da área litorânea do bairro, o que implicou em uma planilha bem mais custosa para os cofres públicos: “Só o orçamento da Coelba foi de R$ 24 milhões”, diz Scorfield.