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João Leão promete diálogo e recursos

Veja entrevista à Tribuna

Com a missão de dirigir a Secretaria de Planejamento do Estado (Seplan), o vice- governador João Leão (PP) admite os desafios que o estado deve enfrentar no ano de 2015, primeiro do mandato do governador Rui Costa (PT), mas diz que “com muita criatividade, capacidade, planejamento, é possível realizar grandes projetos e trazer recursos para a Bahia.

Ele lembra também a ajuda que a presidente Dilma Rousseff(PT), mesmo enfrentando um governo em crise financeira, deve oferecer ao estado, onde obteve uma “vitória estrondosa”.

Líder do PP baiano, Leão diz que o partido já foi contemplado com duas secretarias e quatro empresas no governo.

Segundo ele, Rui já apaziguou os ânimos da base, diante dos anseios pelo segundo escalão. 

Tribuna da Bahia - De deputado federal a vice-governador. O que muda na vida de João Leão?
João Leão - Isso realmente mudou muito. Eu nunca esperei um dia na minha vida ser vice-governador, muito menos governador. Eu sempre tive um sonho de querer servir à população da Bahia. Minha vida foi ser prefeito de Lauro de Freitas, deputado federal, secretário estadual de Infraestrutura do governo Wagner, e fiz uma série de realizações, mas chegar a ser vice, eu realmente não imaginava. Quando o governador Jaques Wagner (PT), junto com Rui Costa (PT), me convidou para participar da chapa, eu me senti lisonjeado. Junto a Otto Alencar (PSD) fizemos um trio vitorioso. Foi muito sucesso, mas com muita labuta, muita luta, pé na estrada, comendo poeira e sal como o próprio Wagner diz.

Tribuna - A vitória de Rui pegou muita gente de surpresa. Inclusive, dentro do PT e da própria base aliada. Como vê a tentativa de aproximação daqueles que agora se aproximam de olho em espaços e poder?
Leão – Olha, primeiro que para mim não foi surpresa. Eu desde o início quando entrei pra vice eu dizia que nós iríamos ganhar no primeiro turno. Eu colocava no meu facebook: O Ibope não passou por aqui. As pesquisas nos davam com 8% e 46% para Paulo Souto, e eu questionava, colocando no facebook que o Ibope não mostrava a realidade. Rodamos essa Bahia inteira. Então para mim nós ganharmos no primeiro turno não foi surpresa. Ninguém acreditava, a imprensa mesmo não acreditava. Nós pregávamos isso na mídia, nos palanques, e todo mundo ficava sem acreditar. Só quem acreditava éramos eu, Rui, Otto e Wagner. Terminamos chegando ao final com o Ibope baixando a cabeça. Então deram empate e quando se abriu às urnas nós tivemos 54% contra 33% de Paulo Souto. Nós esperávamos isso. Na véspera da eleição nós nos abraçamos e dissemos: - Olha, gente, nós vamos ganhar essa zorra no primeiro turno. Vocês podem ir para casa dormir.  No dia da votação, quando caminhávamos em Salvador, sentíamos o entusiasmo na cidade. Quanto à aproximação daqueles que não acreditavam, isso é natural. Na política isso é natural e acho que temos que governar para todos. Nós não vamos governar só para uma determinada ala da Bahia, mas para 100% dos baianos. Nós vamos unir como nos unimos agora, aprovando o orçamento na Assembleia Legislativa. Eu tenho certeza que Rui Costa, João Leão querem um governo para todos os baianos.

Tribuna - Como viu as críticas sobre a composição do secretariado de Rui? Sobretudo a manutenção de quadros da gestão Wagner muito criticados, como o Osvaldo Barreto na Educação?
Leão - Eu não vejo isso. Nós ganhamos defendendo o governo Wagner. A população da Bahia, na nossa eleição, quando nos elegeu, ela aprovou o governo Wagner. Nós dissemos que íamos ser uma continuidade melhorada. Wagner fez o alicerce e nós íamos levantar as paredes e cobrir a casa. O nosso objetivo era o de melhorar o governo, aquilo que havia sido feito, e vamos melhorar.

Tribuna - Rui fez boas escolhas?
Leão - Eu acho que sim. O nível do secretariado é excelente. Eu defendo aqui todos os meus colegas secretários e acho que vamos mostrar à Bahia uma equipe coesa e que sabe e vai realizar, com Rui sendo maestro. Agora mesmo nesses poucos dias teremos reunião com o governador, trazendo para a Secretaria de Planejamento os eixos básicos do nosso programa de governo. Vamos sentar com os técnicos e faremos um PPA novo. Eu levei a minha vida inteira fazendo orçamento na União, e agora sou responsável pelo orçamento, pelo PPA e LDO do governo Rui. Quero ouvir o governador, a sociedade, as comunidades organizadas, os territórios e regiões da Bahia para colocarmos no PPA aquilo que a população quer, como fizemos no Programa de Governo Participativo (PGP) na campanha.

Tribuna - Qual ou quais as duas áreas mais sensíveis e que exigirão mais empenho por parte do senhor e do governador Rui?
Leão – Todas as áreas para nós serão sensíveis. Nós queremos melhorar no governo todas as áreas, seja na educação, na segurança pública, na saúde. O governador puxou para si a responsabilidade da Saúde, da Educação e da Segurança Pública. Rui diz que quando for viajar vai visitar escolas, hospitais e áreas de quartel de segurança pública.

Tribuna - O que aconteceu nos governos Wagner que não deve ser repetido por Rui?
Leão – Olha, eu não vejo nada. Eu vejo que nós devemos caminhar para frente. Acho que o governo Wagner foi bom. O nosso governo será de continuidade ao governo Wagner e nós vamos continuar melhorando os serviços, aqueles trabalhos que não foram executados. Quando nós vamos à região Nordeste, e eu dizia sempre na região de Irecê: - Quero ver esse povo ter coragem de vim aqui pedir um voto. Aquela região estava abandonada, não tinha estrada, não tinha educação, segurança e o governo Wagner melhorou muito. Agora nós precisamos complementar o trabalho não só na região de Irecê como em toda a Bahia.

Tribuna - O senhor é o secretário de Planejamento da Bahia, mas muitos dizem que o senhor não possui intimidade com o setor. Como pretende conduzir o trabalho à frente da pasta?
Leão – Com muita humildade, ouvindo muito os nossos técnicos. Eu encontrei aqui uma equipe técnica de primeiríssima qualidade. Ouvindo a população, o setor organizado da sociedade, e ter junto com o governador Rui Costa a capacidade de juntar isso e fazer com que tenhamos um bom orçamento, um bom PPA, e uma boa LDO, planejando o estado para os próximos 20 anos.  O objetivo nosso é esse planejar o estado para os próximos 20 anos. O estado da Bahia tem um problema que é a renda per capita. Quando pegamos aquilo que o estado arrecada e dividimos pela população, a renda está lá em baixo. O que queremos é aumentar a renda per capita, a receita da população para que se aumente a arrecadação.

Tribuna - Quais devem ser os principais pilares da sua gestão? De que forma enxerga o planejamento do estado?
Leão – Nós vamos ter uma coisa muito interessante que é ouvir a sociedade. Vamos ouvir a Federação das Indústrias, Federação do Comércio, as universidades, ouvir os prefeitos, vereadores, lideranças municipais, o povo de uma maneira em geral. O meu pai dizia: - Você tem uma boca e dois ouvidos. Por isso é muito importante você ouvir e tomar a decisão, em função daquilo que lhe chega.

Tribuna – Muito foi falado que o senhor atuará para atrair recursos da União para a Bahia. Diante disso, a Secretaria de Planejamento vai assumir essa postura e de que forma o senhor vai ajudar?
Leão – A Secretaria de Planejamento tinha uma superintendência voltada aos convênios que cuidava disso, e na nova repactuação foi transferida para a Secretaria da Fazenda (Sefaz). O que estou querendo? Estou querendo participar junto com a Fazenda. O meu objetivo é trazer recursos para a Bahia, recursos nacionais e internacionais, correr atrás do dinheiro, mas não só o dinheiro público. Correr atrás do empresariado, aproveitar a Secretaria de Indústria e Comércio e todas as secretarias, de olho também no recurso internacional. O ano de 2015 promete ser difícil, mas com criatividade, capacidade, planejamento, com ética, com moral, nós vamos ter condições de trazer muitas coisas novas para a Bahia.

Tribuna – Quais as três prioridades para a Secretaria já para 2015?
Leão – A Secretaria de Planejamento primeiro tem algumas responsabilidades. Vamos ter que abrir o orçamento dessas novas secretarias que foram criadas, segundo vem o Plano Plurianual – PPA. O governador Rui Costa vem à Secretaria e vamos ter uma reunião com os técnicos para definir a linha de ação que vamos     tomar.

Tribuna – Quais devem ser os três projetos mais difíceis de serem concretizados e que o senhor vai se debruçar pessoalmente para tentar viabilizá-los?
Leão – Não são três, mas 43. Estamos com a Ferrovia Oeste–Leste, projeto que está sendo implantado, e temos problema com o Porto. Nós temos que imediatamente viabilizar esse Porto para ver se em 2015, 2016 nós estaremos com ele. Esse Porto leva três anos e meio em construção. Queremos que antes do final do governo, nós estejamos inaugurando a Ferrovia. Com isso vamos tirar as carretas das estradas, melhorar e baixar os custos dos transportes para os produtores do Oeste da Bahia, levar o desenvolvimento para o Sul da Bahia. Vamos criar os Polos, CDs na região, os centros industriais também  na região de Jequié, de Barreiras, de Feira, Itabuna, Juazeiro. Aí por outro lado temos a Ponte Salvador-Itaparica, que é um novo caminho para as regiões, principalmente para o Recôncavo.

Tribuna – E como viabilizar a construção da Ponte que muitas pessoas não acreditam?
Leão – Não será fácil, mas nós vamos lutar com todas as nossas forças. Vamos ter que trazer para aqui recursos internacionais para isso. Trazer o governo federal para participar com o governo do estado. Vamos ter que mexer imediatamente nisso. Já estamos com o projeto de viabilidade econômica, estamos com ele maduro. Os secretários Walter Pinheiro e José Sérgio Gabrielli deixaram realmente o projeto pronto e vamos atrás dos recursos. 

Tribuna - A montagem do segundo escalão. Como está a disputa dos cargos? Quais cargos o PP pleiteia?
Leão – O PP não pleiteia mais nada. Nós temos a Secretaria de Planejamento, a Secretaria de Recursos Hídricos, mais quatro empresas do governo. A cota do PP está atendida e vamos agora trabalhar para ajudar o governador Rui Costa.

Tribuna – De que forma o governador vai apaziguar os ânimos na base?
Leão – Já apaziguou. Todos os partidos estão apaziguados Isso é historicamente e não é no Brasil, não é só na Bahia, mas é no mundo – aqueles que participam da campanha eleitoral, obviamente, participam do governo. Isso é legal, é moral, é sério, é honesto, é decente e é direito. 

Tribuna - Qual foi o legado deixado por José Sérgio Gabrielli? O que ele deixou que o senhor vai aproveitar e melhorar a partir de agora?
Leão – Olha, Sérgio é muito organizado, é um técnico excepcional. Ele teve uma história aqui. Antes de Sérgio teve Walter Pinheiro. Grandes figuras da Bahia passaram por essa cadeira. Tivemos aqui Waldeck Ornellas, Armando Avena, Ronald Lobato, o deputado Carreira, Zezéu Ribeiro, o fundador da Sudene, ...

Tribuna – Como vai ser a relação do PP com o governo ACM Neto? Como se dará?
Leão – O Partido Progressista está alinhado com o governo Rui Costa, com o Partido dos Trabalhadores, tanto é que sou vice-governador. O alinhamento nosso é com o governador Rui Costa.

Tribuna – Mas haverá algum tipo de diálogo?
Leão – Diálogo na política você tem com todos. Até eu vou dialogar aqui com o prefeito ACM Neto e o governador Rui Costa também terá. Agora é um diálogo institucional, administrativo.  Agora diálogo político? Política tem lado, e o nosso lado é uma parceria com o Partido dos Trabalhadores.

Tribuna – O que fazer para ajudar Salvador nos gargalos que ela tem hoje? Como o governo estadual irá atuar nisso?
Leão – Nós estamos fazendo alguns estudos em Salvador, então quero deixar para falar nisso mais pra frente. O governador Rui Costa tem muito interesse em atender e agradecer a bela votação que ele e a presidente Dilma tiveram em Salvador. Nós temos grande interesse em Salvador, aí é uma política do governador, e nós estaremos aqui na Secretaria de Planejamento para ajudar a cumprir.

Tribuna – Há uma expectativa de cenário financeiro muito difícil no governo federal este ano. Como pretendem dar fôlego para o orçamento do estado, já que cresceu 40% confiando em recursos federais?
Leão – Nós temos uma série de convênios firmados que vamos ter que administrar. Agora mesmo eu estarei indo com o governador na próxima semana para uma audiência com o ministro das Cidades e outra com o ministro da Integração, onde vamos discutir as intervenções na Bahia e em Salvador. Estamos com o metrô andando aí e nós recebemos um presente no final de ano que foi uma parcela de R$250 milhões que era do governo federal, a fundo perdido, que já foi depositado. A coisa quando se dialoga e conversa, ela acontece. Outra coisa importante que nós temos,  a presidente Dilma sabe disso, foi a sua vitória estrondosa na Bahia. Quando essas coisas batem no coração, então nós vemos que há um jeitinho de resolver.

Tribuna – O que a população pode esperar do secretário de Planejamento e vice–governador João Leão?
Leão – Muito trabalho, muita luta, seriedade, honestidade, muito diálogo com a população, com os setores organizados da sociedade, com todos os setores, com os deputados, vereadores de Salvador, com a classe política e empresarial. Vão ter realmente um João Leão que muitas pessoas não conhecem. Quando estou fazendo uma coisa, eu brigo e faço guerra por aquilo que eu quero executar e fazer. Não esqueço nunca que no dia em que cheguei a Santa Maria da Vitória que eu disse que iria fazer uma passarela ligando Santa Maria a São Félix do Coribe do outro, o dono de uma pousada disse: - Hum, esse é mais um. E eu perguntei: - Mais um o que meu amigo?  E ele disse: - Não, porque aqui o governador Antonio Carlos Magalhães prometeu, o ex-senador prometeu, o outro ex-governador prometeu, o ex não sei o que prometeu, todo mundo prometeu e nunca foi feito. Eu retruquei: - Mas eu vou fazer meu amigo. E está lá. Se você vê é uma obra de arte no sertão da Bahia, um cartão-postal que está servindo às populações das duas cidades.

Colaborou: Fernanda Chagas e Lílian Machado