O ator Jackson Costa comemora 30 anos de carreira com o espetáculo Jackson Costa 30 Anos de Arte, Arte e Arte, que estreia logo mais, às 20h, no Teatro Castro Alves, Campo Grande.
A peça, que mistura poesia, música e teatro, com projeções audiovisuais e fotográficas, foi montada pelo próprio ator, que contou detalhes da montagem à Tribuna da Bahia e sobre sua carreira.
Os ingressos custam R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
Tribuna da Bahia: Jackson Costa 30 Anos de Arte, Arte e Arte comemora seus 30 anos de carreira. Por que quis compor este espetáculo?
Jackson Costa: Na verdade, eu venho escrevendo um espetáculo com poemas para celebrar os meus trinta anos de profissão. Mas não tive tempo, ainda, de ensaiá-lo, porque fui solicitado por outras pessoas para participar de projetos delas, e o meu, momentaneamente, deixou de ser prioridade. Os chamados são mais urgentes. Não sou muito afeito a me celebrar, mas nesses trinta anos, passei por dificuldades inerentes à minha profissão, vivi e vivo tantos desafios e alegrias, que me ajudam a crescer como pessoa e como artista, que resolvi agradecer à Deus e aos meus colegas e amigos de teatro, pela oportunidade de me desenvolver criativamente. Não penso em me homenagear, e sim celebrar homenageando os meus colegas, porque sem eles eu nada seria.
TB: A montagem mistura poesia, música e teatro, com projeções audiovisuais e fotográficas. Como foi fazer algo tão dinâmico?
JC: Sou filho, no teatro, de Mário Gusmão, um artista multimídia, que me ensinou que não há fronteiras entre as artes. E ele tinha bastante talento para fazer espetáculos nesse sentido. Então, comecei com ele há trinta anos e alguns meses trilhando esse caminho. Fernando Guerreiro é outro diretor que navega muito bem nesse mar de possibilidades, através da união das linguagens. Então, me sinto hoje, como no começo.
TB: Você gosta de inovar?
JC: Vou lhe responder, fazendo minhas as palavras do saudoso poeta João de Barros, que nos deixou recentemente, enviadas a poucos pela minha diretora Mira Silva, no programa Aprovado: “A maior riqueza do homem é sua incompletude/ Nesse ponto sou abastado/ Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito/ Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde/ Que vai lá fora, que aponta lápis,/ Que vê a uva etc. etc/ Perdoai/ Mas eu preciso ser outros/ Eu penso renovar o homem usando borboletas”. Não é querer fazer algo novo na arte. É saber quem eu sou. A busca vem me inteirando. Um dia me completo.
TB: Uma reflexão sobre a aventura poética das palavras. É esse o objetivo da peça?
JC: Cabe esse seu olhar. Se a palavra se aventura na fala, na música, na pintura e até mesmo no pensamento, é nela que me aventuro em todos os momentos.
TB: O grupo Los Catedrásticos também participa da montagem. Como será essa apresentação?
JC: Los Catedrásticos faz uma aventura no universo das palavras. É o grupo que trabalhei e trabalho a mais tempo. Faremos algumas intervenções com pérolas das letras de músicas baianas.
TB: Los Catedrásticos foi formado, originalmente, por você. Considera que o grupo foi um marco na sua carreira? Por quê?
JC: Nós trouxemos um olhar revelador sobre a cultura de massa. Tiramos o véu que cobria as palavras ditas por vários artistas da música baiana. Se você critica uma coisa, é uma coisa, mas se você faz com que esse coisa se exponha de forma auto crítica, é outra coisa. Los Catedrásticos é essa outra coisa. O teatro tem que ser revelador das coisas.
TB: Além de ator, você também é cantor, poeta, dramaturgo e diretor. Como é ter tantas atribuições?
JC: Ser ator me possibilita todas essas faces. Sem o teatro não sei o que eu seria. Todo ser humano precisa de remédio para sua cura. Essas atribuições são os meus remédios. Outro dia a minha amiga e grande atriz Andréa Elia, me mandou um texto que foi apresentado a ela a 20 anos pelo professor Saja, dizendo que na cidade de Epidauros, na Grécia, os médicos nos seus receituários, além de remédios e fórmulas, receitavam peças de teatro para os seus pacientes. Essas atribuições que você fala, sevem não só para a minha vaidade, mas também e principalmente, para me curar dela.
TB: De todas essas qualificações, qual a que você se identifica mais?
JC: Todas me levam para a poesia. E como diz Fernando Pessoa: “ser poeta não é uma ambição minha, é a minha maneira de estar sozinho.” Dizem que sou poeta, e eu não escrevo poesia. Quem sabe um dia...
TB: Já passou muito “perrengue” durante esses anos. Tem algum inesquecível?
JC: Vários! Teatro sem perrengue ainda é utopia. Vou te falar de um: quando meus filhos eram crianças, quisemos, eu e Yolanda que eles estudassem na escola Via Magia. Fomos conversar com Ruy Cesar, idealizador junto com sua esposa Rô Reis, para que ele desse um abatimento na mensalidade dos dois mais velhos. Ele do alto da sua magnitude e generosidade, acolheu o nosso pedido de imediato. Durante o tempo que nossos filhos estudaram na Via Magia, nossos três filhos, porque depois entrou o mais novo, nós passamos por perrengues financeiros. Chegamos a atrasar alguns meses. Sofríamos muito por isso, mas nunca tivemos uma única cobrança de Ruy ou de Rô. Umas vezes com atraso e outras não, sempre pagamos as mensalidades. Mas o que meus filhos aprenderam naquelacasa e o gesto de Ruy e Rô, não há dinheiro que pague. A Via Magia é responsável por grande parte do desenvolvimento da capacidade criativa de nossos filhos Cauê, Léo e Tom, além de qualidades morais aprendidas, também, ali naquela escola. Ruy continua vivo na educação dos meus filhos. Não há como esquecer, esse perrengue me trouxe essa grande lição. Saudades de Ruy Cesar!
TB: O que mudo durante esse tempo?
JC: Tudo mudou. A vida muda, as pessoas mudam, eu venho mudando... Venho buscando melhorar.
TB: E o Aprovado? Se considera um educador?
JC: Só se for de mim mesmo. A TV Bahia está de parabéns por fazer um programa como o Aprovado, que mostra para o povo da Bahia o potencial que ele tem. A riqueza cultural, os valores históricos, a importância de cultivarmos esses valores. A importância da educação na formação da cultura de um povo. Precisamos saber disso e praticar.
TB: Tem alguma novidade para 2015?
JC: Darei prioridade ao meu monólogo.