Tribuna - O senhor começa a sua gestão com a casa mais arrumada qual. Vai ser seu primeiro ato quando for empossado?
Rui Costa - O primeiro ato exatamente, eu sei que a imprensa trabalha com fatos simbólicos, mas ainda não posso dizer. Contudo, posso afirmar é que entre as primeiras preocupações estarão à área de saúde, educação e segurança pública. São as três primeiras audiências com os quais eu vou despachar com seus respectivos secretários, pois eu considero essas três são as que requerem medidas mais emergenciais. A saúde e segurança, pois implicam em salvar vidas e a educação em função do ano escolar e as alterações que possam acontecer devem ser tomadas logo no mês de janeiro.
Tribuna - O que o senhor lutou para fazer nestes quatro ou oito anos de governo, não conseguiu e acha que agora é o momento de tentar deslanchar?
Rui Costa - Eu diria que em todas as áreas tivermos enormes avanços e por isso eu reafirmava a minha confiança em ganhar a eleição, pois o comparativo era muito favorável ao período de Wagner e, portanto, eu entendo que o que vamos fazer, primeiro, é o que disse na campanha: modernizar o estado, no quesito de gestão e de condições para atração de novos investimentos, mais empregos e oportunidades. Tenho sempre um foco de que nós ampliamos o número de universidades e escolas técnicas e essas pessoas vão se formar muitas ao longo dos próximos quatro anos e elas vão querer trabalhar nas áreas em que foram formados e devemos criar condições para que a Bahia gere essas oportunidades.
Tribuna - O endividamento do estado lhe assusta?
Rui Costa - Não me assusta, pois eu conheço os números e os dados. O que me preocupa é a questão previdenciária em função de que em 2015 iremos retirar do orçamento algo em torno de R$ 2,5 bilhões para cobrir a aposentadoria. O endividamento do estado está até em uma situação confortável comparado com ouros estados da União. Eu espero que o Congresso Nacional resolva, tanto a questão previdenciária dos estados junto com o governo federal, como também resolva a questão do financiamento da saúde.
Tribuna - O senhor esteve com a presidente Dilma. Foi o primeiro governador a estar com ela. O senhor acha que as portas do Planalto vão estar abertas para Bahia?
Rui Costa - Não tenho dúvida disso. Ela tem um carinho enorme pela Bahia, já foi mais do que Lula pode ser: foi a presidente que mais investiu na Bahia nas últimas décadas. Tanto tenho convicção de que por intermédio dela, eu encontrei as portas abertas para apresentar os projetos nossos já a partir de 2015.
Tribuna - Qual o perfil do secretariado? Mais técnico? Mais político? Uma fusão das duas?
Rui Costa - Não tem mágica. Em alguns casos vai tá mais dentro do perfil e outros um pouco mais fora, mas o perfil que eu busco é um técnico com a noção clara da política ou se quiser o contrário um perfil político com consistência técnica da área que vai trabalhar. Eu não colocarei estranho nenhum. Ou seja: pessoas que não conheçam nada de sua área de atuação eu não indicarei para as respectivas pastas. A pessoa tem que ter algum grau de aproximação e conhecimento dessa área para poder desempenhar a função.
Tribuna - Quem do atual governo o senhor considera que fez um bom trabalho, é uma referência e pode ser avaliado como nome para continuar na gestão?
Rui Costa - Tem muitos nomes. Não necessariamente quem não ficar, não significa uma nota de aprovação ou reprovação. Tem pessoas boas e qualificadas que podem não ficar por diversos fatores. Seja porque elas próprias têm interesse de ir para outras atividades profissionais e ir para iniciativa privada, seja porque eu quero fazer um revezamento, porque eu acho que isso ajuda a colocar desafios novos para a equipe. Veja bem, determinadas áreas que já estão há muito tempo com a mesma direção pode levar algum grau de acomodação e quando você troca os dirigentes daquela área cria novos desafios para toda equipe. Nós faremos uma conversa política com partidos e não, necessariamente, terá manutenção dessa ou daquela pasta dos partidos que fizeram indicação hoje. Pode ou não ter alterações e isso implica em ter nomes novos pra várias pastas...
Tribuna - A primeira reunião com Conselho Político, já como Rui Costa eleito governador, vai ser nessa ou na próxima sexta-feira?
Rui Costa - Nem nessa, nem na outra. Eu não criei Conselho Político, eu criei Conselho de Transição. Essa semana já fiz reuniões com eles, pois minha música é correria. Eles vão trabalhar durante duas semanas e após o retorno delas eu vou reunir com eles de novo e recolher sugestões que eles fizeram sobre a estrutura e a questão do orçamento e aí iniciar as conversas com as pessoas e tomar uma decisão.
Tribuna - Sobre Salvador, como fica o relacionamento com a cidade e com o prefeito?
Rui Costa - Com a cidade de Salvador é o melhor possível, pois sou apaixonado por ela e pelos três milhões de baianos que moram aqui e com os prefeitos todos, sem exceção, inclusive o da capital que terei uma relação profissional, que espero que seja a mais frutífera possível em que os projetos que interessam ao município e dos estados para o município possam fluir com maior rapidez e agilidade. É isso que espero e vou trabalhar para tal. A eleição já acabou, eu já desci do palanque e, portanto, não vou ficar remoendo problemas antigos da campanha durante o meu mandato.
Tribuna - Dizem que o senhor é bom pra delegar e melhor ainda para cobrar os resultados. Será assim com seus auxiliares a partir de agora?
Rui Costa - Eu tenho ritmo de trabalho muito forte e quem me conhece de muitos anos sabe disso. Eu de fato cobro e vou cobrar mais ainda, pois nós temos um prazo. Perceba: eu fui eleito para quatro anos e, às vezes, não só no governo, mas também em outras oportunidades, mesmo na iniciativa privada quando eu trabalhei, as pessoas parecem ter noção de que tem a vida inteira para concluir aquele trabalho e não tem. Você tem cumprir prazos em qualquer lugar. No governo mais ainda. Eu tenho um contrato, esse de agora, com o povo, que dura quatro anos. Eu prometi fazer as entregas, eu disse que iria entregar sete hospitais, que iria fazer 300 escolas em tempo integral... O maior responsável para cumprir isso sou eu e eu escolho os assessores. Portanto, a população não cobrará dos meus assessores, mas de mim. Por isso cabe a mim cobrar.
Tribuna - O que vai diferenciar seu governo do de Jaques Wagner?
Rui Costa - O conteúdo é o mesmo, por exemplo, a prioridade pela igualdade social, a levar o desenvolvimento ao interior, melhor a infraestrutura, priorizar saúde e educação. Obviamente que o governo ganha um perfil a partir das características pessoais de cada um. Vamos comparar com um jornal: um editor, mesmo que a linha editorial de um jornal seja padrão e definida por seus gestores, pode mudar linhas e detalhes a partir do perfil dele. O governo é o mesmo. Eu tenho uma característica, o governador tem um determinado perfil e em muitos aspectos somos diferentes. Eu diria que o que mais marca é que eu gosto de conhecer os detalhes. Eu delego, monitoro e confiro o resultado.
Tribuna - Esse traço da personalidade de gestão de cobrar e acompanhar vai mudar na relação que pretende ter com o eleitorado e com a população da Bahia?
Rui Costa - Cada um tem sua característica. Se o governador tivesse direito a um terceiro mandato, ele próprio faria diferente do que fez no primeiro e no segundo e é assim na vida da gente. Na medida que vamos amadurecendo na nossa atividade, vamos fazendo, cada dia, melhor. Vou buscar ter um mandato mais próximo da população. Eu pretendo ir mais na rua, viajar muito, despachar junto com outros secretários nas regiões do estado e pretendo fazer balanços de segurança nas regiões do estado com os responsáveis de segurança naquela região... acho que é natural que o governo chegue perto da população e preste conta, dos avanços e dificuldades. Acredito que várias áreas, o sucesso de um programa de governo, dependem muito do envolvimento da população. É um conceito de povo, pois a cidade mais limpa, não é aquela que o prefeito mais varre, mas é aquela em que a população menos joga lixo na rua. Isso é no governo também.
Tribuna - O que a gente consegue colocar como prioridade do governo que Rui Costa vai persistir no primeiro ano de mandato?
Rui Costa - Saúde, educação e segurança. Vou acompanhar todas áreas, como disse, mas eu diria que essas três serão de obsessão minha. Primeiro saúde porque é a área que toca mais fundo no coração das pessoas. Qual o motivo? Mudou o perfil demográfico da população e hoje todo mundo tem um idoso na família e com isso a questão de saúde, que sempre foi prioridade, se tornou absolutamente relevante e é emergencial, pois cada um de nós gosta de perder um ente querido. Na educação, eu tenho um convicção de que para, de fato, construir uma democracia e promover uma mobilidade social, o pilar fundamental é a educação. Sem ela não chegaremos a lugar nenhum.
Tribuna - Quatro grandes projetos: Porto Sul, Ferrovia Oeste Leste, Ponte Salvador Itaparica e Metrô. Qual a sua expectativa dessas quatro obras?
Rui Costa - Eu colocaria um quinto tópico que é a transposição do eixo sul do rio São Francisco que vai pegar água de Juazeiro até barragem de São José do Jacuípe e eu pretendo, se possível, inaugurá-lo completamente.
pois ainda não tenho todos os detalhes. Sei dos elementos básicos, mas quero ver todos formato econômico e financeiro, pois no meu entender eu quero viabilizar a ponte mas quero viabilizá-la com a parceira público privada onde a maior parte do recurso vem da iniciativa privada. Eu não acredito que o poder público tem capacidade sozinho de construir, pois o estado com certeza não tem.
Tribuna - Temos uma expectativa de um cenário de crise muito grande para o ano que vem, como o senhor pretende lidar com essa expectativa de arrocho financeiro por conta do cenário mundial e deve impactar, inclusive, no país?
Rui Costa - Meu cenário é mais otimista que o seu. Tenho cenário diferente. Eu vejo que a economia americana, grande economia no mundo, junto com a chinesa, ela vem lentamente se recuperando. Ela paulatinamente vai retomando seu ritmo. A economia europeia também vai em passos não largos e curtos e há, aos poucos, a redução do desemprego na região. Eu tenho visão otimista em relação ao ano que vem, pois teremos um desempenho superior na economia, no crescimento superior ao desse ano e espero que junto com isso teremos uma reforma tributária e vou trabalhar para isso, para que haja uma distribuição equitativa dos tributos entre o governo federal, estado e município.
Tribuna - O senhor argumentou que, dentro da relação com o prefeito ACM Neto, o palanque já foi desarmado, o prefeito e o secretário da Fazenda dizem que não receberam um real do governo do Estado e muito pouco do governo federal. Como pretende lidar com essa relação de investimento e da parceria através de projetos com a cidade?
Rui Costa - A primeira coisa é tratar, primeiro administrativamente os entes e menos com a imprensa. Na medida em que você tratou, ainda com os entes, se eu tenho algum problema com o município, se eu coloco primeiro isso na imprensa, ao invés de tratar logo com o responsável, eu dificulto a solução do problema ao invés de facilitar. O que eu pretendo fazer, primeiro, é esgotar a relação dos problemas de forma administrativa e evitar fazer isso uma arena política. Na medida que colocamos na imprensa, priorizamos a questão política e damos quase que um não para a solução. Eu sou muito adepto do ditado que diz que quem fazer procura um jeito, quem não quer fazer procura uma desculpa. Quando você primeiro procura a imprensa, tá procurando desculpa ou argumento e não tá procurando um jeito de resolver.
Tribuna - Qual vai ser o perfil do governo Rui Costa e como quer ser visto pela população nos próximos quatro anos?
Rui Costa - O perfil será o que minha música dizia na campanha: correria, muita simplicidade, tenho vida simples, vim de origem simples e mesmo após eleito o povo me vê por todos os lugares onde geralmente sempre freqüentei. Serei um governador presente junto a população. Quando eu voltar dos descanso eu já marquei um sambão e uma feijoada lá na Liberdade, pra reencontrar os amigos. Fui nos dois dias de votação, abracei e beijei muita gente, mas não foi o suficiente, ainda não comemorei com eles. E muitos deles lá disseram para mim: “Aqui, você e sua família, há muito tempo, viraram referência para muitos jovens”.
Tribuna - Wagner como ministro da Casa Civil deverá lhe ajudar bastante...
Rui Costa - Eu acho que ele vai me ajudar em qualquer lugar em que ele estiver. Pelo simples fato da nossa amizade existir já ajuda bastante.
Tribuna - Qual a mensagem que você deixa a população e como vai até a demanda dos mais ricos e das pessoas mais pobres?
Rui Costa - Olhe, governamos para todos. Quando estamos fazendo obra de mobilidade em Salvador, nós estamos fazendo para beneficiar a população pobre que não pode ficar presa dentro do ônibus lotado, abrindo corredores de tráfegos entre bairros populares, como também as pessoas que têm melhores condições de vidas, para quem vai montar um shopping, uma loja, quem vai montar um posto de gasolina... enfim, a mesma obra beneficia a toda cidade. Se eu puxo água do Rio São Francisco para a barragem eu beneficio milhares de pequenos produtores, mas também teremos grandes produtores que vão utilizar daquela água para produzir e empregar. Enfim, uma ação de governo amplificada e insisto nisto, pois há uma equivoco de algumas pessoas que não estudaram economia e não se atentam as relações econômicas quando até falam mal de programas de cunho social como o Bolsa Família. Olha o exemplo: quando você distribui o Bolsa Família a uma cidade no interior, não é só os pobres que se beneficiam, mas o dono da loja de eletrodoméstico passou a vender mais, o dono do supermercado passou a vender mais, o dono do posto de combustível passou a vender mais, o dono da padaria passou a vender mais... isso é um ciclo que gira para os dois lados. O comerciante, que não é uma pessoa diretamente beneficiada pelo Bolsa Família, indiretamente é. Conheço uma de Vitória da Conquista, que tem uma loja de material de construção, que é muito resistente aos programas sociais e votou no adversário por conta disso aí questionei: antes de ter o Bolsa Família, quantas lojas vocês tinha aqui? Uma! E quantas você tem hoje? Várias filiais em vários bairros e vendendo 20 vezes mais. Que obsessão por ser contra os projetos é essa?