“O brasileiro é muito caipira. Não aceita os projetos inovadores que propomos, mas fica deslumbrado com o que chega de fora”. A indignação é do arquiteto Carlos Bratke, responsável por mais de 60 dos prédios empresariais construídos na região da avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, considerada um dos grandes centros empresariais de São Paulo.
Desde o início dos anos 1970, quando o bairro do Brooklin ainda nem fazia parte do mapa econômico da cidade, o profissional vem imprimindo sua assinatura e ousadia à região, com prédios que abusam de formas e recortes inusitados, vidros espelhados e novos materiais.
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São dele, por exemplo, os projetos do Plaza Centenário (carinhosamente apelidado de Robocop) e Bolsa de Imóveis, na marginal do rio Pinheiros.
Dos primeiros a terem fachada revestida por placas de alumínio fosco, os edifícios foram alvo de críticas e debates nas décadas de 80 e 90, provando que o novo nem sempre é bem aceito pela clientela.
“A inovação, aqui, é vista com muita estranheza”, diz ele, que atribui a isso a falta de ousadia dos arquitetos brasileiros. “Na maioria dos casos isso é culpa dos clientes, que não nos permitem criar”, completa.
Filho do consagrado arquiteto modernista, Oswaldo Bratke – responsável pelo início da urbanização do bairro do Morumbi –, Carlos começou a se envolver com a região da Berrini quando, junto com o irmão Roberto, dono da construtora Bratke Collet, buscava um lugar de fácil acesso e baixo custo para construir prédios comerciais.
A resposta surgiu em uma grande área de terrenos alagadiços entre a Hípica Paulista e a Marginal do Pinheiros. Descrente da lucratividade do negócio, Roberto não embarcou de início na aposta e Carlos resolveu buscar a ajuda do pai para dar início à empreitada.
As primeiras construções, como a do edifício Urca e o Brasil Interpart, surgiram repletas de influências modernistas dos anos 60, com brises, torres laterais e muito concreto.
Admirador de Frank Gehry e Lino Revi, além dos trabalhos de seu próprio pai, não havia como ser diferente. O brutalismo dos grandes volumes e do concreto aparente extrapolou a região Sul e ganhou corpo com a assinatura de Bratke em outras partes de São Paulo, como na avenida Paulista e no Alto de Pinheiros.
“Ele é um dos profissionais mais criativos da minha geração. O modernismo paulista contribuiu em sua carreira no sentido de promover a experimentação. Bratke conseguiu traduzir a ideia em uma arquitetura contemporânea bela e instigante”, afirma Tito Livio Frascino, arquiteto e ex-diretor da EMURB (Empresa de Urbanização de São Paulo).
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