Cidade

Crescimento do tráfico em Simões Filho assusta população

Com 125 mil habitantes, Simões Filho, localizado na Região Metropolitana de Salvador, vive o medo.  Os moradores trocaram a paz que tinham ao bater papo com vizinhos na porta de casa, enquanto as crianças se divertiam brincando na rua, para ficarem enclausurados dentro de casa. O quadro é consequencia, segundo moradores, do crescimento do tráfico de drogas. 


“Simões Filho hoje virou reduto de marginais. Tem chegado gente estranha para residir aqui. Muitos são fugitivos da polícia, outros começam a traficar e não temos mais a segurança que tínhamos anos atrás. Nossos filhos são obrigados a brincar dentro de casa e, quando chega a noite, não saímos mais de casa com medo mesmo”, disse o comerciante João dos Santos Dias, residente no bairro de Pitanguinha há mais de 35 anos. 
 
Com o crescimento do tráfico de drogas, os homicídios também aumentaram, o que rendeu ao município o título de o mais violento do Brasil, numa pesquisa divulgada pelo Instituto Sangari, com base em informações dos Ministérios da Justiça e da Saúde, publicadas no final do ano passado. No Hospital Eduardo Alencar, localizado na cidade, muitos são os casos de pessoas que dão entrada, desde vítimas de acidente de carro aos que sofreram tentativas de homicídio.

O delegado titular da 22ª Delegacia, que atende Simões Filhos e região, Antônio Fernando do Carmo, salientou que, das entradas das vítimas no hospital, nem sempre os casos são registrados na cidade. O delegado ainda disse que violência na localidade é, em sua maioria, decorrente da disputa pelo poder do tráfico de drogas.

E para combater isso, a região conta apenas com cinco policiais civis que fazem parte do Serviço de Investigação, além de dois delegados, contando com o titular. “Mesmo diante dessas deficiências, estamos sempre trabalhando, buscando identificar os locais mais violentos e fazer ações policiais, tirando traficantes de circulação. É um trabalho árduo, como enxugar gelo, mas nunca deixamos de cumprir com nossos deveres”, salientou o delegado.
 
Ano passado, foram registrados 74 assassinatos. Em comparação a 2010, houve uma redução de quase 15%. Mas este ano, a situação na cidade é complicada, pois nas estatísticas da polícia, a região já soma 34 execuções, sendo quase o dobro do ano passado. O delegado atribui as mortes ao crescimento do tráfico. “Sem dúvidas, a maioria desses assassinatos está ligada às disputas pelas bocas-de-fumo”.

Nas escolas e nas comunidades mais carentes e perigosas, os policiais distribuem panfletos orientando os pais sobre os riscos do tráfico de drogas, e, com isso, os agentes têm obtido retorno da comunidade com ligações, denunciando ações de traficantes. 
 
Faltam policiais
 
O delegado apontou os bairros mais perigosos como sendo o Ponto Parada, Pitanguinha, Cristo Rey, Jardim Renatão, Santo Antônio do Rio das Pedras, Mapele, Palmares, CIA I e CIA III. Estes últimos eram áreas, responsáveis da 8ª Delegacia, mas, agora, fazem parte de Simões Filho

“Toda essa região do CIA e Santo Antônio são tidas como lugares de desova humana. São locais de difícil acesso, onde o mato toma conta das estradas e são lá, os locais escolhidos para deixarem as vítimas de violência. Então, além do problema que temos aqui na cidade, ainda temos que atender a esses casos”, ressaltou o delegado Fernando.
 
Dois são os nomes dos traficantes mais destemidos da cidade e que já estão na mira da polícia. O primeiro é Erivaldo de Jesus Sobral, mais conhecido como “Magaiver”. Ele é traficante e homicida e fugiu da polícia quando se tratava no Hospital Geral do Estado (HGE). O segundo é Júnior do Gueto. O delegado ressaltou que ele é cantor e faz festas para o povo. No entanto, Júnior do Gueto comanda o tráfico de drogas na região do Renatão, além de homicídio. 
 
Segundo o delegado, Júnior é acusado de ser o mandante do assassinato do radialista Laércio de Souza, ocorrido ano passado. “Temos vários mandados de prisões aqui na delegacia, mas faltam policiais para cumprir essas prisões”, disse Fernando, acrescentando que os agentes trabalham em parceria com os policiais militares o que vem surtindo efeito com diminuição da violência. Outro fator preocupante, segundo o delegado, é a infiltração de ex-policiais em atos criminosos.  (SB)