Brasil

Seca no Pantanal é a maior registrada nos últimos 40 anos

A análise é baseada na Coleção 10 de mapas de cobertura e uso da terra do MapBiomas

Leia Mais Rápido
O Pantanal registrou a pior seca dos últimos 40 anos, com perda de 75% das áreas alagadas. A degradação no Planalto da Bacia do Alto Paraguai, incluindo desmatamento e avanço da agropecuária, afeta diretamente o regime hídrico do bioma, agravando os efeitos da seca e comprometendo o vigor da vegetação nativa e das pastagens.

O Pantanal atravessa o período mais seco desde 1985, segundo levantamento do MapBiomas. De 1,6 milhão de hectares alagados ao ano na década de 1980, o bioma passou a registrar apenas 460 mil hectares entre 2014 e 2024 -- uma redução de 75%. A seca de 2024 foi a mais severa de toda a série histórica.

A análise, baseada na Coleção 10 de mapas de cobertura e uso da terra do MapBiomas, mostra que, além da diminuição expressiva das áreas alagadas, as grandes cheias tornaram-se menos intensas. A última, em 2018, foi 22% mais seca que a de 1988. Os dados revelam uma tendência de secas mais severas e cheias menos volumosas a cada década.

As mudanças na dinâmica hídrica do Pantanal estão ligadas a alterações no Planalto da Bacia do Alto Paraguai (BAP), região onde nascem os rios que alimentam o bioma. A BAP abrange 36 milhões de hectares, sendo 48% em Mato Grosso e 52% em Mato Grosso do Sul. O Pantanal corresponde à Planície, enquanto o Planalto é composto majoritariamente pelo Cerrado (83%) e parcialmente pela Amazônia (17%).

Entre 1985 e 2024, o Planalto perdeu 5,2 milhões de hectares de vegetação nativa -- queda de 72% para 46% em Mato Grosso e de 59% para 36% em Mato Grosso do Sul. No mesmo período, a agricultura expandiu-se 3,8 vezes, totalizando 1,4 milhão de hectares, com a soja representando 80% dessa área. A pastagem avançou sobre 4,4 milhões de hectares, intensificando a ocupação antrópica.

Segundo Eduardo Reis Rosa, coordenador da equipe Pantanal do MapBiomas, a variação nas chuvas e a perda de cobertura vegetal no Planalto interferem diretamente no volume de água que chega à Planície. Em 1985, 33% da região já tinha uso antrópico; em 2024, essa proporção subiu para quase 60%.

A qualidade das pastagens no Planalto também preocupa. Em 2024, 63% delas apresentavam baixo ou médio vigor vegetativo. No trecho amazônico do Planalto, 52% das pastagens tinham baixo vigor e 40% médio vigor. No Cerrado, os percentuais foram de 14% e 41%, respectivamente.

Na Planície Pantaneira, também houve redução da vegetação natural: de 96% para 84% entre 1985 e 2024. Essa perda corresponde a 1,7 milhão de hectares -- 0,7 milhão em Mato Grosso e 1,1 milhão em Mato Grosso do Sul. A pastagem cresceu de 563 mil hectares para 2,2 milhões no mesmo intervalo, ocupando áreas antes preservadas.

Em 2024, 85% das pastagens da Planície apresentavam baixo ou médio vigor. A mineração, embora ainda pouco expressiva em área, foi a atividade que mais cresceu proporcionalmente na última década, com aumento de 60%.

Em toda a Bacia do Alto Paraguai, a área destinada à agropecuária passou de 21% para 40% entre 1985 e 2024. Ao todo, 7,5 milhões de hectares de vegetação nativa foram convertidos. Desse total, 84% das áreas agropecuárias estão no Planalto e 16% na Planície.

Análise por décadas detalha a dinâmica na Planície e no Planalto:

-- 1985–1994: A maior conversão de formação savânica para pastagem  ocorreu nesta década. A pastagem dobrou a área existente (592 mil hectares). Foram convertidos 341 mil hectares de formação savânica, 166 mil hectares de formação florestal, 57 mil hectares de vegetação campestre e 28 mil hectares de campo alagado. O Planalto perdeu 12% de sua vegetação nativa (2,6 milhões de hectares).

-- 1995–2004: O desmatamento avançou para o interior do bioma Pantanal, com perda de 527 mil hectares de vegetação nativa, o que representa perda de 3% da vegetação nativa no bioma. No Planalto, a perda de vegetação nativa foi de 9%. 

-- 2005–2014: Foi observado pela primeira vez a redução da frequência de alagamentos e o adensamento lenhoso, com 350 mil hectares de formações savânicas se expandindo sobre campos e pastagens. As perdas de vegetação nativa proporcional, na Planície e no Planalto, foram de 1,5% em cada região.

-- 2015–2024: A década mais seca, com a redução de 1,2 milhão de hectares (em relação à primeira década) na área anual que permanece alagada na Planície. Nesta última década, a Planície Pantaneira perdeu mais vegetação nativa (450 mil hectares) do que o Planalto, que mantém, em 2024, 42% de áreas naturais, enquanto o Pantanal tem 84% do bioma com áreas naturais.