
Além de aguçar os sentidos, a casca brilhante e de coloração escura da jabuticaba concentra substâncias antioxidantes e anti-inflamatórias que estão por trás de impactos positivos no controle do apetite e nas funções cognitivas, conforme aponta artigo publicado no periódico Food Research International.
O trabalho foi realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior paulista, liderado pelo engenheiro de alimentos Mário Maróstica, em parceria com equipe da Universidade de Lund, na Suécia.
Para chegar aos resultados, 19 participantes consumiram, por quatro semanas, uma preparação especial feita a partir da casca da jabuticaba. Exames de sangue realizados ao longo do estudo mostraram redução de marcadores inflamatórios, como a interleucina-6, indicando um possível efeito anti-inflamatório.
Além disso, questionários padronizados aplicados para avaliar memória e raciocínio apontaram melhora na cognição cerca de 15 minutos após a ingestão do preparado. Também foi aplicado um teste que envolve perguntas e respostas para medir a saciedade.
Observou-se que a ingestão da fruta pode ajudar a regular a fome. "O apetite é influenciado por muitas variáveis e estudos anteriores indicam que a fruta modula a produção de hormônios, como o GLP-1, o que pode explicar o efeito", afirma Maróstica.
Já sobre a ação na cognição, outros trabalhos demonstraram que as substâncias vindas da casca do fruto favorecem o metabolismo da insulina, o que colabora para o funcionamento do cérebro.
Sinergia de compostos
Ao longo de 17 anos estudando a jabuticaba, o pesquisador da Unicamp comprovou que fruta também é potente contra a síndrome metabólica – distúrbio marcado pelo acúmulo de gordura abdominal, taxas elevadas de glicose, alterações nos níveis de colesterol e triglicérides, além de hipertensão arterial. “Entre as substâncias responsáveis por tais benefícios, destacam-se as antocianinas”, afirma.
Trata-se de um grupo de pigmentos, da família dos fenólicos, que coleciona evidências sobre feitos em prol da saúde. O termo vem do grego: anthos significa flor e kyanos, azul. Acredita-se que flores como as hortênsias e as quaresmeiras tenham servido de inspiração. Na natureza, as antocianinas servem como uma espécie de escudo, protegendo dos raios solares, das variações climáticas, entre outras intempéries.
No nosso organismo, ajudam a neutralizar os radicais livres, moléculas desemparelhadas acusadas de danificar as células. Não à toa, são associadas à redução do risco de males cardiovasculares e doenças degenerativas, caso do Alzheimer. Inclusive, a boa fama das berries — que incluem frutas como cereja, framboesa, amora, mirtilo e morango — se deve, em partes, à presença desses pigmentos.
Mas a jabuticaba fornece outros compostos bioativos, caso da quercetina, das catequinas e dos taninos. “Contém sais minerais como o magnésio, o potássio e o fósforo”, acrescenta a nutricionista Isis Avelino, do Einstein Hospital Israelita. Somam-se ainda as fibras, que zelam pela microbiota intestinal, favorecendo o equilíbrio entre bactérias e outros micro-organismos que habitam a região.
Todos esses componentes atuam em sinergia em prol da saúde, e se concentram, sobretudo, na parte externa do fruto, isto é, na casca. Entretanto, como ela é grossa e bastante fibrosa, muita gente a dispensa.
Como tirar proveito
“Uma estratégia para aproveitar toda a riqueza é preparar sucos”, ensina a nutricionista. É importante não demorar para consumi-lo, porque com o passar do tempo o sabor tende a se alterar. Molhos, compotas e geleias também são bem-vindos.
Outra dica é fazer um tipo de farinha, após assar a casca no forno e bater no liquidificador. “Dá para incrementar pães, biscoitos, bolos e até salpicar em saladas de frutas e iogurtes”, sugere Avelino. O ideal é caprichar na higienização das cascas e dar preferência às versões orgânicas.
Infelizmente, a jabuticaba não é encontrada em todos os meses do ano. O tempo de colheita costuma ir de setembro a novembro. Vale aproveitar a sazonalidade, conceito que está em alta e promove alimentos mais frescos e baratos. “Ao acrescentar a fruta no cardápio, há a valorização de um ingrediente nativo, o que enaltece a cultura alimentar brasileira e a nossa biodiversidade”, observa a especialista do Einstein. Sem esquecer, claro, de todos os ganhos nutricionais.

