Saúde

Guia de saúde: médicos ensinam
a aproveitar o verão sem adoecer

A adoção de hábitos simples pode prevenir doenças frequentes nos dias mais quentes

Foto: Ilustração GPT Imagens IA
A insolação é uma condição grave causada pela exposição excessiva ao sol e calor
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Especialistas alertam para os cuidados com a saúde no verão. Fotoproteção, hidratação, alimentação equilibrada, higiene e proteção dos olhos ajudam a prevenir doenças comuns da estação, como micoses, insolação, conjuntivite e intoxicação alimentar. Medidas simples garantem segurança durante o lazer em dias quentes.

Com o aumento das atividades ao ar livre durante o verão, médicos reforçam a importância de cuidados com a pele, cabelos, olhos, alimentação e hidratação. 

Pele e cabelos: proteção constante e cuidados diários - O verão coincide com o Dezembro Laranja, campanha nacional de conscientização sobre o câncer de pele. A dermatologista Flavia Prevedelo, do Hospital Universitário Cajuru, enfatiza que a fotoproteção deve ser prioridade. A recomendação é usar protetor solar com fator igual ou superior a 30, aplicando a quantidade adequada conforme a “regra dos três dedos” -- uma linha do produto nos dedos indicador, médio e anelar, aplicada no rosto e pescoço.

O filtro solar deve ser reaplicado a cada três horas e sempre após o banho de mar ou piscina. A médica também orienta a não esquecer áreas comumente negligenciadas, como orelhas, nuca, pés e couro cabeludo em pessoas calvas. Além disso, roupas com proteção UV, chapéus de abas largas e guarda-sóis com bloqueio solar são aliados importantes.

Para os cabelos, os principais vilões do verão são o sol, o cloro e o sal do mar, que causam ressecamento e desbotamento da cor. Segundo Flavia, o uso de produtos com proteção térmica e UV, além de máscaras hidratantes semanais, ajuda a manter os fios saudáveis. Umedecer o cabelo com água doce antes do mergulho cria uma barreira que reduz a absorção de agentes agressivos.

Na areia e em locais úmidos, micoses e bicho-geográfico se tornam mais frequentes. “O bicho-geográfico se manifesta como uma lesão linear e coçante na pele. O tratamento é simples, mas precisa de diagnóstico médico”, alerta a dermatologista.

Ambientes úmidos e alimentação inadequada elevam riscos de infecções - O calor e a umidade do verão favorecem a proliferação de vírus, fungos e bactérias, explica a infectologista Camila Ahrens, do Hospital São Marcelino Champagnat. Doenças como micoses, gastroenterites e conjuntivites têm maior incidência no período, mas a prevenção costuma ser simples.

Entre as principais medidas estão manter a pele seca, trocar roupas molhadas assim que possível, usar chinelos em banheiros públicos e vestiários, além de higienizar as mãos frequentemente. Após o banho de mar ou piscina, é recomendável enxaguar o corpo com água doce e secar bem áreas de dobras, como axilas, virilhas e entre os dedos dos pés.

Camila destaca ainda os cuidados com a alimentação. Intoxicações alimentares causadas por bactérias como Salmonella e E. coli são mais comuns no calor. A orientação é evitar alimentos expostos ao sol, mal armazenados ou manipulados sem higiene. “Prefira locais com boas práticas de higiene e evite alimentos com maionese caseira, frutos do mar crus e pratos sem refrigeração adequada”, afirma.

Para reforçar a proteção, o consumo de alimentos probióticos e ricos em fibras pode ajudar a manter a saúde intestinal, enquanto frutas frescas, ricas em água e antioxidantes, são aliadas da imunidade.

Olhos: proteção deve ir além dos óculos escuros - A exposição ocular à luz solar, reflexos da água e da areia pode causar irritações e lesões graves. O oftalmologista Dhiogo Côrrea, do Hospital São Marcelino Champagnat, destaca que a radiação ultravioleta é nociva aos olhos e pode provocar queimaduras na córnea, além de contribuir para o desenvolvimento de pterígio e catarata ao longo dos anos.

Por isso, o uso de óculos com proteção UV comprovada é indispensável. “Óculos falsificados não protegem e podem ser mais prejudiciais que não usar nada”, alerta. Ele também recomenda chapéus com abas largas para ampliar a área de sombra sobre os olhos.

Conjuntivites virais, bacterianas e alérgicas aumentam no verão. Para preveni-las, o oftalmologista aconselha evitar coçar os olhos, lavar as mãos regularmente, não compartilhar toalhas, travesseiros ou maquiagem, e evitar o contato com água contaminada.

No caso de quem usa lentes de contato, o ideal é retirá-las antes de entrar na água. Se isso não for possível, recomenda-se o uso de lentes descartáveis diárias combinadas com óculos de natação bem vedados para reduzir o risco de infecção ocular.

Nutrição e hidratação: moderação e equilíbrio durante as festas - Durante as festas de fim de ano e viagens, é comum o aumento no consumo de alimentos calóricos e bebidas alcoólicas. A nutricionista Marcella Oliveira, do Hospital São Marcelino Champagnat, explica que comer com consciência é a melhor forma de evitar excessos. “Sirva-se em pequenas porções para experimentar diferentes pratos sem exagerar”, recomenda.

Manter uma rotina de alimentação equilibrada ao longo do dia ajuda a evitar compulsões à noite. A especialista também orienta sobre a importância da hidratação: a ingestão diária ideal é de cerca de 35 ml de água por quilo de peso corporal, com acréscimos nos dias mais quentes ou durante a prática de atividades físicas.

Para quem consome bebidas alcoólicas, intercalar cada dose com um copo de água reduz os efeitos da desidratação. Além disso, incluir frutas ricas em água, como melancia, abacaxi e laranja, ajuda na reposição de líquidos e minerais.

Marcella ressalta que um dia de celebração não deve ser motivo para culpa. “Aproveite os momentos, mas volte à rotina alimentar no dia seguinte, priorizando alimentos leves e naturais”, orienta.

Calor excessivo: atenção aos sinais do corpo e horários de exposição - Segundo o clínico Ricardo Gullit, dos hospitais Cajuru e São Marcelino Champagnat, as altas temperaturas favorecem quadros como insolação, desidratação e exaustão pelo calor. A insolação é a forma mais grave, caracterizada por febre elevada, pele seca e quente, dor de cabeça intensa, náuseas, confusão mental e desmaios.

A desidratação apresenta sintomas como sede intensa, boca seca, tontura e urina escura ou em menor volume. Já a exaustão por calor causa suor excessivo, cansaço, fraqueza muscular e cãibras. “Esses quadros podem surgir rapidamente, por isso é essencial reconhecer os primeiros sinais”, alerta Gullit.

O médico recomenda evitar exposição ao sol entre 10h e 16h, horários de maior incidência de radiação UV. Atividades físicas ao ar livre devem ser realizadas em períodos mais frescos, com pausas em locais sombreados e consumo constante de água.

Crianças e idosos merecem atenção redobrada, pois têm menor capacidade de adaptação térmica e podem não perceber ou comunicar os sintomas com facilidade. Vestimentas leves, uso de bonés, ventilação dos ambientes e alimentação rica em líquidos e frutas são medidas eficazes para todos os grupos.

Os riscos que vem com o verão

As altas temperaturas, a maior exposição ao sol e as mudanças na rotina tornam o verão um período de maior risco para diversos problemas de saúde. Autoridades sanitárias e entidades médicas alertam que, embora a estação seja associada ao lazer e às atividades ao ar livre, ela também favorece o surgimento de doenças que podem ser evitadas com cuidados simples e informação adequada.

De acordo com orientações do Ministério da Saúde, o calor intenso aumenta significativamente o risco de desidratação, especialmente entre crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas. A perda excessiva de líquidos e sais minerais pode provocar queda de pressão, tonturas, confusão mental e, em casos mais graves, levar à exaustão térmica e ao golpe de calor, uma emergência médica caracterizada por elevação acentuada da temperatura corporal.

A exposição solar prolongada é outro fator de preocupação. A Sociedade Brasileira de Dermatologia alerta que a radiação ultravioleta é mais intensa no verão, elevando o risco de queimaduras solares, envelhecimento precoce da pele e câncer cutâneo. O uso regular de protetor solar, roupas adequadas, chapéus e a busca por sombra nos horários de maior incidência solar são medidas essenciais de prevenção.

O período também favorece infecções gastrointestinais. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o calor acelera a proliferação de microrganismos em alimentos e bebidas, aumentando o risco de intoxicações alimentares. Alimentos mal refrigerados, água contaminada e práticas inadequadas de higiene estão entre as principais causas de diarreias, vômitos e infecções intestinais comuns nesta época do ano.

Além disso, o verão cria condições propícias para a disseminação de doenças transmitidas por vetores, como dengue, zika e chikungunya. A combinação de calor e chuvas favorece a reprodução do mosquito Aedes aegypti. A eliminação de água parada e a atenção aos sintomas iniciais, como febre, dor no corpo e mal-estar, continuam sendo estratégias centrais para reduzir impactos dessas enfermidades.

Especialistas também chamam atenção para problemas oftalmológicos e respiratórios. A exposição prolongada à luz solar sem proteção adequada pode causar irritações e lesões nos olhos, enquanto mudanças bruscas de temperatura, como a alternância entre calor externo e ambientes com ar-condicionado, podem agravar quadros de rinite, sinusite e crises asmáticas.

A Organização Mundial da Saúde reforça que a prevenção é o principal caminho para reduzir os riscos do verão. Hidratação constante, alimentação segura, proteção solar, atenção aos sinais do corpo e cuidados com o ambiente doméstico são medidas acessíveis e eficazes.

Em um cenário de temperaturas cada vez mais elevadas, especialistas destacam que o verão deixou de ser apenas uma estação de lazer para se tornar também um período que exige vigilância e responsabilidade individual e coletiva. Informação de qualidade e hábitos preventivos continuam sendo os aliados mais eficazes para atravessar a estação com saúde e segurança.