
O conclave mais longo da história da Igreja Católica ocorreu em 1268, na cidade de Viterbo, Itália, e durou exatos dois anos, nove meses e dois dias.
O impasse entre os cardeais e as pressões políticas externas resultaram em um processo inédito que transformou para sempre a forma de escolha do Sumo Pontífice.
Após a morte do Papa Clemente IV em 1268, a Igreja Católica mergulhou em um longo período de incerteza. Na época, a cristandade vivia um momento crítico, dividido por disputas territoriais e conflitos de poder entre facções italianas e francesas. A necessidade de um novo líder espiritual era urgente, mas a escolha se mostrou uma tarefa árdua.
Clemente IV morreu em 29 de novembro de 1268, deixando a cadeira de São Pedro vaga em um momento delicado. Sem um líder claro, a Igreja se viu à mercê de influências políticas dos monarcas europeus, principalmente Carlos de Anjou, rei de Nápoles e Sicília, e partidários do Sacro Império Romano-Germânico.
O conclave teve início em dezembro de 1268, na cidade de Viterbo, que se tornaria um dos principais centros papais da época. Diferente dos conclaves modernos, onde os cardeais ficam reclusos, o processo então era mais livre, permitindo contatos externos e pressões políticas.
Nas primeiras semanas, os cardeais não chegaram a um consenso, divididos entre facções pró-francesas e pró-germânicas. A falta de unidade refletia a própria fragmentação da Europa naquele período.
Conforme os meses se arrastavam, a população de Viterbo começou a se impacientar. A cidade, então sob o comando do Capitão do Povo, Raniero Gatti, adotou medidas drásticas para forçar uma decisão.
O fechamento do palácio
Em 1270, cansados da demora, os habitantes trancaram os cardeais no Palácio Papal, removendo o telhado para expô-los às intempéries. Além disso, passaram a racionar alimentos, numa tentativa de pressionar os eclesiásticos a chegar a um consenso.
A falta de comida e as condições insalubres transformaram o conclave em uma verdadeira provação física e espiritual. Alguns cardeais adoeceram, mas a tática acabou surtindo efeito: após quase três anos de impasse, um nome começou a ganhar força.
Finalmente, em 1º de setembro de 1271, os cardeais elegeram o então arcediago de Liège, Teobaldo Visconti, que não estava presente no conclave e era considerado uma escolha neutra. Ele tomou posse como Papa Gregório X, encerrando o conclave mais longo da história.
Ao assumir o papado, Gregório X decretou reformas significativas para evitar futuras disputas prolongadas. No Concílio de Lyon II, em 1274, ele instituiu regras que obrigavam o isolamento total dos cardeais e a redução gradual de alimentação caso não houvesse eleição rápida — dando origem às bases do conclave moderno.
Impactos históricos
O conclave de Viterbo marcou profundamente a estrutura da Igreja. A partir dali, as eleições papais tornaram-se mais controladas e isoladas, preservando a autonomia e evitando interferências políticas diretas.
Gregório X tornou-se um papa reformista, focado na reorganização interna da Igreja e no fortalecimento do poder espiritual sobre as disputas temporais. Seu legado foi consolidado na forma moderna do conclave que, desde então, é realizado em regime de clausura.
Esse evento histórico é lembrado como um divisor de águas na política eclesiástica. O conclave mais longo da história da Igreja Católica consolidou a prática de isolamento dos cardeais e estabeleceu diretrizes que preservam até hoje a independência do processo de escolha papal.
O conclave de Viterbo demonstrou que a interferência externa pode paralisar o processo eletivo da Igreja, reforçando a necessidade de garantir um ambiente livre de pressões políticas.
A longa espera, marcada por tensões e medidas extremas, consolidou a importância do isolamento dos cardeais, garantindo que a eleição de um novo papa seja conduzida sob a inspiração do Espírito Santo e longe de influências seculares.