Opinião

De centavo em centavo

Os centavos continuam a ser importantes na vida

Foto: Wikipedia | Creative Commons
Hoje em dia quase não é possível comprar algo que valha um centavo

Há um ditado em inglês que diz: “um centavo economizado é um centavo ganho”, facilmente compreensível em qualquer idioma.

Um centavo corresponde a centésima parte da moeda de um país. No caso do Brasil, sendo o real a moeda oficial, adotada em 1º de julho de 1994, e escrito como R$ 1,00, um centésimo de um real é denominado como um centavo de real, ou seja R$ 0,01.

Existem ao menos duas maneiras de se entender como tal ditado é importante em termos de economia. Primeiramente, ao se acrescentar somando um centavo todo dia, por trinta dias, quanto é possível ter ao final?

A resposta é simples: basta somar um centavo com mais um centavo, com mais um centavo... por trinta vezes. Tal conta não é complicada, e pode ser resumida mais ou menos assim: uma vez um centavo é um centavo. Duas vezes um centavo são dois centavos. Três vezes um centavo são três centavos. Quatro vezes um centavo são quatro centavos... Logo, trinta vezes um centavo são trinta centavos. Assim como na tabuada aprendida na escola, é possível perceber que existe a tabuada dos centavos.

Este modo de contar leva em conta um raciocínio dito aritmético. Mais precisamente, tal cálculo leva em consideração uma progressão geométrica, onde ao valor inicial soma-se um mesmo valor repetidas vezes.

Além de contas ditas aritméticas, existem outras possíveis. Uma delas chama-se progressão geométrica, algo que as vezes surpreende pelo modo como o raciocínio é efetuado. Neste caso, começando-se com um centavo, uma outra pergunta que pode ser feita é: quanto se poderia obter ao se dobrar o valor dia a dia por trinta dias?

De outro modo, pode-se tentar efetuar tal conta específica da seguinte forma: ao se acrescentar, dobrando um centavo todo dia, por trinta dias, quanto é possível ter ao final?

A resposta é igualmente simples: basta duplicar um centavo a partir do segundo dia, repetindo o procedimento até atingir trinta dias, algo que pode ser resumido mais ou menos assim: um centavo, dois centavos, quatro centavos, oito centavos, dezesseis centavos, trinta e dois centavos, sessenta e quatro centavos, um real e vinte e oito centavos, dois reais e cinquenta e seis centavos...

Para não se perder nas contas, para cada valor pode-se multiplicar por dois numa calculadora, começando por um centavo, depois dobrando-o, e novamente, de modo sucessivo.

Antes de apresentar o resultado, é preciso dar uma pausa ao fôlego e aos cálculos, pois os valores duplicados aumentam rapidamente com o passar dos dias. Isto é algo notável em termos monetários. O resultado final, por surpreendente, é o seguinte: cinco milhões, trezentos e sessenta e oito mil, setecentos e nove reais e doze centavos.

Tais contas são reais. No entanto, a literatura é repleta de exemplos envolvendo centavos e economia, sendo alguns fictícios. Talvez um dos mais conhecidos refere-se a famosa moedinha número um, de um centavo, o maior tesouro do personagem Tio Patinhas, elaborada pelo cartonista e escritor americano Carl Barks (1901 - 2000), criador do pato mais rico do mundo em 1953, em conto do terceiro volume da revista do próprio personagem de título “The Round Money Bin”. No Brasil, tal estória foi publicada em 1954 na revista do Pato Donald número 141, de título: “Chico Metralha Contra Tio Patinhas”, e depois numa edição especial em capa dura de número 136 da Editora Abril.

Hoje em dia quase não é possível comprar algo que valha um centavo, mas os centavos continuam a ser importantes na vida – ainda mais se o negócio for o de economizá-los.

__________

Marcio Luis Ferreira Nascimento é professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química da UFBA e bolsista do SENAI-CIMATEC