
É o que revela estudo realizado pela Unifesp-Universidade Federal de São Paulo e Uniad-Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas.
Segundo o estudo, 25,9% da população brasileira já apostaram ao longo da vida e 17,6% apostaram em 2024.
As plataformas digitais, conhecidas como “bets” já são a segunda modalidade de jogos mais utilizada no país, respondendo por 32,1% - quase um terço – dos apostadores. Em números absolutos, são 9,13 milhões de brasileiros que utilizam plataformas online para jogos.
Mais de um terço (38,4%) dos brasileiros que apostaram no último ano foram considerados em situação de risco ou já são considerados jogadores problemáticos, segundo a escala PGSI (em inglês, Problem Gambling Severity Index) instrumento utilizado no estudo e que identifica critérios diagnósticos do Transtorno de Jogo, patologia reconhecida pelo Manual Diagnóstico de Transtornos Psiquiátricos.
Os dados apontaram ainda que 4,4% (IC95%: 2,8-6,8) do total de apostadores possivelmente já desenvolveram o transtorno de jogo, o que equivale a 0,8% da população brasileira.
Grupos vulneráveis
Ainda que a proporção de apostadores seja menor entre adolescentes (10,5%), eles tem maiores chances de desenvolver problemas. Entre dos adolescentes.
Mais da metade dos apostadores com idade entre 14 e 17 anos já tem indicação de jogo de risco ou problemático (55,2%, 95%CI: 29,6–61,0) comparado a maior do que os 37,7% entre os adultos (IC95%: 32,8- 42,8).
Os usuários das “bets”(plataformas online) também estão mais propensos a desenvolver problemas, com chances quadruplicadas (OR: 4,02; IC95%: 2,83-5,72 ajustado por sexo) de desenvolver o chamado Transtorno de Jogo.
Entre esses apostadores a proporção de indivíduos com indicação de risco ou problema chega a 66,8% (IC95%: 59,0-73,9), contra 26,8% (IC95%:22,0-32,1) entre os apostadores que não usam essa modalidade de apostas.
Apostadores com renda mensal inferior a um salário-mínimo também estão em maior risco de apresentar problemas. Mais da metade dos apostadores desse estrato da população já apresentam indicação de jogo de risco ou problemático (52,8%, IC95%: 46,1–59,4, ante 21,1% (IC95%: 13,2–32,1) entre os apostadores com renda superior a dois salários-mínimos.
“Os dados do levantamento evidenciam a crescente popularidade dos jogos de apostas no Brasil, impulsionada pelas plataformas online. Além disso, o envolvimento precoce de adolescentes e os altos índices de problemas entre usuários de bets e a relação entre vulnerabilidade socioeconômica e o maior risco de transtorno de jogo reforçam a urgência de políticas públicas que protejam a saúde mental da população”, afirma o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor-titular da Unifesp, diretor da Uniad e presidente da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina).
Segundo ele, é fundamental que, diante do cenário identificado, os gestores do SUS (Sistema Único de Saúde) apresentem modelos eficazes de tratamento de apostadores de risco ou diagnosticados com transtorno de jogo. O diretor da Uniad também alerta para a necessidade de medidas de prevenção por meio de políticas públicas regulatórias.
8 recomendações para apostadores
Converse com alguém - Se você acha que as apostas podem estar se tornando um problema, busque ajuda. Falar com alguém fora da situação pode ajudar a encontrar soluções. Organizações como os Jogadores Anônimos (JA) ou Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e Drogas que oferecem suporte.
Reflita sobre suas motivações para jogar - Identifique os motivos pelos quais você aposta. Apostar não deve ser um hábito compulsivo ou uma maneira de resolver problemas financeiros. Não use o jogo como estratégia para sair de dívidas ou ganhar dinheiro rapidamente.
Monitore sua atividade de jogo - Acompanhe com que frequência e quanto dinheiro você está gastando.
Busque informação de qualidade - Informe-se sobre os riscos reais das apostas, as probabilidades de perda e os mecanismos de manipulação empregados pelas plataformas. Conhecimento é uma ferramenta poderosa de proteção.
Defina limites de gasto - Estabeleça um limite de quanto pode gastar em apostas e, em nehuma hipótese, ultrapasse esse valor.
Faça pausas entre as apostas - Tire intervalos regulares para evitar sobrecarga e dependência. Bloqueios temporários em contas de jogo podem ser usados para manter clareza mental e controle financeiro.
Proteja suas informações pessoais - Nunca compartilhe seus dados pessoais ou bancários com terceiros para abrir contas de jogos. Isso pode expô-lo a riscos como roubo de identidade, fraude ou até envolvimento em atividades criminosas
Evite o uso de álcool ou estimulantes durante o jogo - Evite consumir álcool ou outras substâncias durante a prática de apostas, pois isso pode comprometer o julgamento e favorecer decisões impulsivas.
10 motivos para evitar as apostas online
Alto risco de prejuízo financeiro - A maior parte dos apostadores perde dinheiro a longo prazo. As plataformas são desenhadas com algoritmos e estatísticas que favorecem a “casa”, ou seja, os sites de apostas.
Potencial para vício - O fácil acesso e a gratificação imediata podem levar ao desenvolvimento de dependência comportamental, com consequências graves para a saúde mental, relacionamentos e vida profissional.
Ilusão de controle e sorte - Jogadores frequentemente acreditam que podem desenvolver estratégias infalíveis, mas as apostas são baseadas, em grande parte, no acaso. Essa falsa sensação de controle pode levar à repetição de perdas.
Efeitos negativos na saúde mental - A ansiedade, a frustração e a depressão são comuns entre apostadores frequentes, especialmente após perdas significativas ou longas sequências negativas.
Problemas familiares e sociais - Conflitos com cônjuges, filhos e amigos são comuns quando o vício em apostas interfere nas responsabilidades cotidianas, no orçamento familiar ou gera dívidas.
Risco de endividamento - Apostadores compulsivos muitas vezes recorrem a empréstimos, uso de cartões de crédito ou venda de bens para continuar apostando, o que pode levar ao superendividamento.