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Brasileiros gastam R$ 30 bilhões por mês com as casas de apostas

Confira 10 motivos para evitar as apostas online

Foto: Google FX IA
Os apostadores perdem dinheiro a longo prazo
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Mesmo após a regulamentação das apostas online, brasileiros continuam destinando até R$ 30 bilhões mensais às bets. O Banco Central, sem poder de fiscalização, monitora dados para prevenir lavagem de dinheiro. A CPI das Bets apura impactos sociais e possíveis vínculos com o crime organizado.

A regulamentação das apostas online não inibiu o interesse do brasileiro pelos jogos de azar. De janeiro a março, os apostadores destinaram até R$ 30 bilhões por mês às bets, disse o secretário-executivo do Banco Central (BC), Rogério Lucca. Ele e o presidente do órgão, Gabriel Galípolo, falaram à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets do Senado.

Segundo Lucca, em 2024, quando o mercado ainda não estava regulado, o BC tinha estimado em torno de R$ 20 bilhões por mês o fluxo gasto com apostas eletrônicas. Com a atualização dos dados após a regulação, que entrou em vigor em 1º de janeiro, o BC constatou que o valor ficou um pouco superior, entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões.

“A gente chegou à época [no ano passado] a um valor médio mensal de R$ 20 bilhões de fluxo para esses sites. Durante este ano, de janeiro a março, o valor que a gente acompanha para efeito de atividade gira em torno de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões por mês, ratificando o que a gente tinha estimado no fim do ano passado”, disse Lucca.

O acompanhamento tornou-se mais efetivo após as bets legalizadas serem obrigadas a registrar uma conta bancária com uma Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) específica. O BC esclareceu que os dados são apenas para consumo interno e não serão divulgados periodicamente.

Quase todo o valor gasto é distribuído aos ganhadores, mas os números divergem entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Segundo Galípolo, a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), ligada à Fazenda, tem registrado retorno de 93% a 94% do valor desembolsado pelos apostadores em prêmios. Em relatório preliminar divulgado no ano passado, o BC tinha calculado em 85% o retorno médio em prêmios.

Sem poder de fiscalização

O presidente do BC esclareceu que o órgão pode apenas compilar estatísticas e não tem competência legal para fiscalizar, supervisionar ou aplicar sanções, como o bloqueio de transações de bets não autorizadas a funcionar no Brasil. Ele esclareceu que a autoridade monetária só pode tomar essas medidas caso seja notificada pela SPA.

"A Secretaria de Prêmios de Apostas é quem define a bet que está autorizada ou não. O Banco Central, uma vez informado pela SPA, vai dizer para a instituição financeira: 'você tem aí empresas para observar nos seus procedimentos e, a partir de agora, não autorizar mais.' Não é o Banco Central que interrompe uma transação. A partir daí, é a própria instituição financeira que interrompe”, explicou Galípolo.

O presidente do BC esclareceu que, além da elaboração de estatísticas, o trabalho do BC em relação às bets resume-se à prevenção à lavagem de dinheiro e ao combate ao terrorismo, atividade para a qual a autoridade monetária tem competência legal. Nesses casos, as instituições financeiras têm de avisar o BC, que repassa as movimentações suspeitas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ao Ministério Público e à Polícia Federal.

Sigilo bancário

Apesar do pedido de vários senadores, Galípolo informou que, por causa das obrigações legais para proteger os dados pessoais e o sigilo bancário, o BC não pode bloquear o Pix de apostadores que recebem o Bolsa Família. Segundo ele, o órgão também não tem poder para bloquear as chaves Pix das bets que recebem os recursos do programa social.

Na primeira semana como presidente do BC, Galípolo tinha se comprometido a colaborar com o Tribunal de Contas da União (TCU) e a fornecer informações sobre o Pix de beneficiários do Bolsa Família que apostam em bets.

O único dado que o presidente do BC adiantou foi o de que apostadores online têm risco de crédito (chances de dar calote em empréstimos) bastante superior ao dos não apostadores. Segundo Galípolo, os bancos já percebem o risco maior e cobram juros mais altos desses clientes.

Galípolo e o técnico do BC prestaram depoimento a convite do presidente da comissão, senador Dr. Hiran (PP-RR). Instalada em novembro no Senado, a CPI das Bets pretende investigar o impacto das apostas eletrônicas no orçamento das famílias brasileiras e no sistema financeiro, além da possível associação com organizações criminosas. A relatora é a senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), autora do requerimento da CPI.

10 motivos para evitar as apostas online

1

Alto risco de prejuízo financeiro - A maior parte dos apostadores perde dinheiro a longo prazo. As plataformas são desenhadas com algoritmos e estatísticas que favorecem a “casa”, ou seja, os sites de apostas.

2

Potencial para vício - O fácil acesso e a gratificação imediata podem levar ao desenvolvimento de dependência comportamental, com consequências graves para a saúde mental, relacionamentos e vida profissional.

3

Ilusão de controle e sorte - Jogadores frequentemente acreditam que podem desenvolver estratégias infalíveis, mas as apostas são baseadas, em grande parte, no acaso. Essa falsa sensação de controle pode levar à repetição de perdas.

4

Efeitos negativos na saúde mental - A ansiedade, a frustração e a depressão são comuns entre apostadores frequentes, especialmente após perdas significativas ou longas sequências negativas.

5

Problemas familiares e sociais - Conflitos com cônjuges, filhos e amigos são comuns quando o vício em apostas interfere nas responsabilidades cotidianas, no orçamento familiar ou gera dívidas.

6

Risco de endividamento - Apostadores compulsivos muitas vezes recorrem a empréstimos, uso de cartões de crédito ou venda de bens para continuar apostando, o que pode levar ao superendividamento.

7

Exposição a fraudes e golpes - Nem todas as plataformas de apostas são regulamentadas. Muitas operam fora da legalidade e podem roubar dados pessoais, bancários ou não pagar os prêmios prometidos.

8

Falta de regulamentação eficaz - Mesmo nos países onde as apostas são permitidas, como no Brasil, a fiscalização pode ser falha, o que deixa o usuário vulnerável a práticas abusivas.

9

Falsa promessa de enriquecimento - Muitos sites vendem a ideia de que é possível "ganhar a vida" com apostas, o que raramente corresponde à realidade. Isso alimenta ilusões e expectativas irreais.

10

Impacto negativo na produtividade - O tempo gasto com apostas pode afetar o desempenho no trabalho ou nos estudos, pois há perda de foco, energia e capacidade de concentração, especialmente quando a mente está ocupada com perdas ou apostas futuras.