
A pianista Betsy Arakawa (65 anos) e o ator Gene Hackman (95 anos e 2 vezes ganhador do Oscar) foram encontrados mortos dia 26 de fevereiro, na casal do casal, na cidade de Santa Fé, Estados Unidos.
Hackman foi encontrado caído no vestíbulo de entrada da casa, enquanto Arakawa estava no banheiro, próxima a um aquecedor portátil, com frascos de medicamentos para hipertensão e tireoide espalhados nas proximidades.
Um de seus três cães, uma cadela da raça Kelpie australiana chamada Zinna, também foi encontrada morta em uma caixa de transporte no banheiro. Os outros dois cães estavam vivos na propriedade.
As conclusões da polícia são de que Arakawa morreu dia 11 de fevereiro, contaminada por hantavírus, uma doença rara transmitida por roedores. Hackman, que sofria de Alzheimer avançado, possivelmente não percebeu a morte da esposa e, incapaz de buscar ajuda, morreu cerca de uma semana depois por causas naturais relacionadas a problemas cardíacos.
A cachorra morreu de sede e fome.
O hantavírus é um grupo de vírus transmitidos principalmente por roedores silvestres, como ratos e camundongos.
A infecção pode levar a doenças graves em humanos, incluindo a Síndrome Pulmonar por Hantavírus (SPH) e a Febre Hemorrágica com Síndrome Renal (FHSR).
Embora seja considerada uma enfermidade rara, o hantavírus tem uma alta taxa de mortalidade e não possui tratamento específico além de cuidados médicos de suporte.
O vírus foi descoberto na década de 1950, durante a Guerra da Coreia, quando soldados americanos adoeceram com sintomas graves de insuficiência renal e hemorragia. No entanto, só foi identificado com precisão na década de 1970, após estudos com ratos selvagens.
Como o hantavírus é transmitido?
A principal forma de transmissão do hantavírus ocorre através do contato humano com excrementos de roedores infectados. As formas mais comuns incluem:
-- Inalação de partículas de fezes, urina ou saliva de roedores infectados: Quando essas substâncias secam, podem ser dispersas pelo ar e inaladas por humanos. Esse é o principal meio de transmissão da doença.
-- Contato direto com excrementos de ratos infectados: Se uma pessoa toca em superfícies contaminadas e depois leva a mão ao rosto ou à boca, pode se infectar.
-- Mordidas de roedores: Embora seja mais raro, a mordida de um roedor infectado pode transmitir o vírus.
-- Consumo de alimentos ou água contaminada: Alimentos expostos a fezes ou urina de roedores podem conter o vírus e infectar quem os consome.
A doença não é transmitida de pessoa para pessoa. Isso significa que um indivíduo infectado não pode passar o hantavírus para outra pessoa, tornando a prevenção baseada na higiene e no controle de roedores essencial.
Sintomas e evolução da doença
Os sintomas do hantavírus podem variar dependendo da cepa envolvida e da resposta do organismo da pessoa infectada. No caso da Síndrome Pulmonar por Hantavírus (SPH), comum nas Américas, a evolução ocorre em quatro fases principais:
1. Período de Incubação
O vírus pode permanecer incubado no organismo entre 1 a 5 semanas antes de os primeiros sintomas surgirem.
2. Fase prodômica (início dos sintomas)
Os primeiros sintomas são inespecíficos e podem ser confundidos com uma gripe comum:
-- Febre alta (acima de 38°C)
-- Calafrios
-- Dores musculares (mialgia), especialmente nas costas e coxas
-- Fadiga extrema
-- Náusea, vômito e diarreia em alguns casos
3. Fase cardiopulmonar (mais perigosa)
Após alguns dias, a doença pode evoluir para um quadro respiratório grave. Nesta fase, ocorre um acúmulo rápido de líquido nos pulmões, levando a dificuldades respiratórias severas e choque cardiogênico.
Os sintomas incluem:
-- Tosse seca e falta de ar intensa
-- Hipotensão (queda da pressão arterial)
-- Taquicardia (aumento dos batimentos cardíacos)
-- Insuficiência respiratória
Se não tratada rapidamente em um hospital com suporte respiratório, essa fase pode ser fatal.
4. Fase de recuperação
Caso o paciente receba tratamento a tempo e seu organismo consiga combater a infecção, os sintomas respiratórios começam a diminuir.
A recuperação pode levar semanas a meses, dependendo da gravidade do quadro.
Diagnóstico do hantavírus
O diagnóstico do hantavírus pode ser desafiador, pois os sintomas iniciais se assemelham a outras doenças infecciosas. Para confirmar a infecção, os médicos utilizam exames laboratoriais, como:
-- Testes sorológicos (Elisa): Identificam anticorpos contra o hantavírus no sangue.
-- PCR (Reação em Cadeia da Polimerase): Detecta a presença do material genético do vírus.
-- Exames de imagem (radiografia de tórax): Avaliam o acúmulo de líquido nos pulmões.
Dado o rápido agravamento da doença, é essencial que o diagnóstico seja feito o mais cedo possível.
Tratamento e prognóstico
Atualmente, não existe um tratamento antiviral específico para o hantavírus.
O manejo da doença é feito com suporte médico intensivo, incluindo:
-- Suporte respiratório: Pacientes em fase cardiopulmonar muitas vezes precisam de ventilação mecânica.
-- Terapia com fluidos intravenosos: Para evitar choque circulatório e estabilizar a pressão arterial.
-- Uso de corticosteroides: Em alguns casos, pode ajudar a reduzir a inflamação pulmonar.
A taxa de mortalidade da Síndrome Pulmonar por Hantavírus (SPH) pode chegar a 50%, tornando a detecção precoce e o suporte hospitalar fatores críticos para a sobrevivência.
Casos famosos e impacto global do hantavírus
Embora a morte de Betsy Arakawa tenha chamado a atenção mundial, o hantavírus já esteve envolvido em outros surtos preocupantes. Alguns exemplos incluem:
-- 1993 - Surto no Sudoeste dos EUA: Foi um dos primeiros surtos reconhecidos da Síndrome Pulmonar por Hantavírus, com dezenas de mortes registradas.
-- Argentina e Chile - Surto de 2018: Um surto no sul da Argentina e Chile causou múltiplas mortes e foi motivo de alerta na região.
-- Brasil: Casos esporádicos ocorrem em regiões rurais, principalmente no Sul e Sudeste.
Prevenção: como evitar o contato com o hantavírus
A prevenção do hantavírus é baseada principalmente no controle da população de roedores e na higienização de ambientes.
Algumas medidas eficazes incluem:
1. Evitar o contato com roedores
-- Manter alimentos bem armazenados e fora do alcance de ratos.
-- Vedar buracos e frestas em paredes e telhados para impedir a entrada de roedores.
-- Não acumular entulho, madeiras e lixo perto das casas.
2. Limpeza segura de ambientes suspeitos
-- Antes de varrer ou limpar locais onde possa haver fezes de ratos, umedecer o ambiente com solução de água sanitária para evitar a dispersão de partículas pelo ar.
-- Usar luvas e máscaras ao realizar a limpeza de locais infestados.
3. Cuidados em áreas rurais e camping
-- Não dormir diretamente no chão.
-- Evitar armazenar alimentos em locais abertos.
-- Usar barracas bem fechadas para evitar a entrada de roedores.