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Salvador veste azul e branco para um dia inteiro de festa no mar

Porque hoje é dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá

Foto: Betto Jr.
A festa na praia do Rio Vermelho
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A Festa de Iemanjá, realizada anualmente em 2 de fevereiro no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, celebra a Rainha do Mar com ritos religiosos, música e cultura. O evento reúne milhares de fiéis e turistas, inclui oferendas ao mar e conta com apoio logístico para segurança e limpeza da região.

Todos os anos, no dia 2 de fevereiro, milhares de fiéis, turistas e curiosos se reúnem no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, para homenagear Iemanjá, a divindade afro-brasileira conhecida como a Rainha do Mar.

A festa, que mistura fé, tradição e cultura, é uma das celebrações mais emblemáticas do sincretismo religioso no Brasil e atrai devotos do Candomblé, da Umbanda e até mesmo do catolicismo.

O evento, que remonta ao início do século XX, cresceu ao longo das décadas e hoje se consolidou como uma das maiores festas populares do Brasil, sendo reconhecido como Patrimônio Cultural de Salvador.

A celebração combina ritos religiosos, música, arte e manifestações culturais, tornando-se um espetáculo único para os visitantes.

Na mitologia iorubá, Iemanjá (Yem?já ou Yemoja) é um orixá das águas e considerada a mãe de muitos outros orixás. Seu nome vem do iorubá "Yèyé omo ejá", que significa "Mãe cujos filhos são peixes".

Ela é representada como uma figura feminina, geralmente vestida de azul e branco, e com longos cabelos negros. Na Umbanda, é sincretizada com Nossa Senhora dos Navegantes, reforçando a associação com a proteção dos pescadores e navegantes.

O epicentro das homenagens a Iemanjá acontece no bairro Rio Vermelho, um dos mais boêmios e culturais de Salvador.

Segurança aquática e limpeza

Para garantir a segurança de banhistas e fiéis que estarão na praia do Rio Vermelho neste domingo, a Coordenadoria de Salvamento Marítimo de Salvador (Salvamar) colocou um efetivo de 14 homens no local do evento, duas motos aquáticas e uma embarcação, para apoiar desde a saída dos barcos até a entrega do presente de Iemanjá, que é colocado nas águas pelos salva-vidas.

Um veículo do órgão também será responsável pelo deslocamento da imagem do orixá até o local da festividade.

A Limpurb disponibilizou 50 agentes e quatro equipamentos para a limpeza da região e seu entorno. No encerramento do evento, 200 funcionários e 23 equipamentos atuarão no bairro para fazer a limpeza da festa, com os serviços de lavagem de vias, coleta e varrição.

Como chegar ao local da festa:

-- De ônibus: Diversas linhas de transporte público circulam pelo bairro, principalmente saindo do centro da cidade e da região da Barra.

-- De carro ou aplicativo: O acesso pode ser complicado devido à grande movimentação no dia da festa. O ideal é estacionar em locais mais afastados e seguir a pé.

-- De bicicleta ou a pé: Para quem está hospedado nas proximidades, essa pode ser uma opção mais prática.

O bairro se transforma durante a festa, com ruas lotadas, barracas de comida típica e apresentações culturais.

O ponto alto da celebração é a entrega das oferendas a Iemanjá. No dia 2 de fevereiro, os devotos levam seus presentes até o Casa de Iemanjá, um espaço dedicado à preparação dos presentes, localizado na Rua da Paciência.

Foto: Heide Lacerda
Flores para a Rainha do Mar
Flores para a Rainha do Mar

O que os fiéis oferecem?

-- Flores, principalmente rosas brancas e palmas.

-- Perfumes, espelhos e pentes (itens associados à vaidade e ao poder feminino de Iemanjá).

-- Joias e bijuterias.

-- Peixes e frutos do mar, em oferendas mais tradicionais.

Esses itens são colocados em balaios e levados ao mar em pequenas embarcações. Os devotos acreditam que, se as oferendas forem levadas pelas águas, significa que Iemanjá as aceitou. Caso retornem à praia, pode ser um sinal de que algo precisa ser revisto na vida da pessoa.

Principais símbolos de Iemanjá:

-- Cores: Azul-claro e branco
-- Símbolos: Conchas, estrelas-do-mar e espelhos
-- Saudação: "Odoyá!" (significa "Salve, mãe das águas!")
-- Elementos associados: O mar, os rios e a maternidade.

A origem da festa

A tradição da Festa de Iemanjá em Salvador começou em 1923, quando um grupo de pescadores da Colônia de Pesca do Rio Vermelho passou a oferecer presentes à divindade em agradecimento pelo sucesso na pesca e para pedir proteção no mar.

Na tradição afro-brasileira, Iemanjá é uma orixá associada à água salgada, aos mares e aos oceanos. Sua origem remonta à religião iorubá, trazida ao Brasil pelos africanos escravizados.

No Candomblé, Iemanjá é considerada a mãe de todos os orixás, símbolo da fertilidade, maternidade e proteção.

Com o passar do tempo, a celebração cresceu e ultrapassou os limites da comunidade pesqueira, tornando-se uma festa de grande porte, atraindo milhares de pessoas de diferentes religiões e origens culturais.

Hoje, a festa reúne não apenas devotos, mas também turistas, artistas e pesquisadores interessados no sincretismo religioso e na riqueza das manifestações populares da Bahia.

Iemanjá nas artes

A grandiosidade e a beleza da Festa de Iemanjá serviram de inspiração para diversos artistas ao longo dos anos.

Vários compositores brasileiros dedicaram canções à Rainha do Mar. Entre os destaques estão:

-- "Oração a Mãe Menininha" (Dorival Caymmi)
-- "É D'Oxum" (Gerônimo e Vevé Calazans)
-- "Rainha do Mar" (Caymmi)

Escritores como Jorge Amado retrataram a importância de Iemanjá na cultura baiana. No romance "Mar Morto", o autor descreve a relação dos pescadores com a orixá.

Vários artistas plásticos representaram Iemanjá em suas obras. Em Salvador, a icônica estátua de Iemanjá na Praia do Rio Vermelho se tornou um símbolo da cidade.

Curiosidades 

-- Ritual à meia-noite: Muitos devotos vão ao mar na noite anterior para pedir proteção e fazer seus pedidos em silêncio.

-- Mistura de religiões: Apesar de ser uma celebração de origem africana, a festa recebe fiéis de diversas crenças, incluindo católicos.

-- Tradição de vestir azul e branco: Muitos participantes usam roupas nessas cores em homenagem à orixá.

-- Festival de gastronomia: Durante o evento, barracas vendem pratos típicos como acarajé, abará, caruru e vatapá.

-- A festa já inspirou novelas e filmes, incluindo obras da teledramaturgia brasileira.

O que fazer além de ir à festa?

Quem visita Salvador para a Festa de Iemanjá pode aproveitar para conhecer outras atrações no Rio Vermelho:

-- Casa de Jorge Amado e Zélia Gattai, um espaço cultural dedicado ao casal de escritores.

-- Mercado do Peixe, tradicional ponto gastronômico da cidade.

-- Bares e restaurantes à beira-mar, ideais para provar a culinária baiana.