O consumo de álcool está crescendo, no Brasil. Pior: também está aumentando o número de pessoas que dirige após ingerir bebida alcoólica, como revela o Ministério da Saúde.
Na população em geral o aumento do consumo passou de 18,4% para 20,8% entre 2021 e 2023. Entre pessoas do sexo masculino foi de 25% para 27,3% no período, e entre as mulheres de 12,7% para 15,2%.
A parcela da população que relatou beber e dirigir cresceu de 5,4% para 5,9%. Este aumento foi de 9,7% para 10,1% em pessoas do sexo masculino, e de 1,7% para 2,2% em pessoas do sexo feminino.
O consumo de álcool tem efeitos imediatos e de longo prazo no corpo humano.
Durante o processo de sobriedade, uma série de reações químicas e fisiológicas ocorrem no organismo. A compreensão detalhada dessas mudanças oferece uma perspectiva clara dos impactos do álcool em diferentes épocas de sobriedade: curto prazo (logo após o consumo), médio prazo (horas depois) e longo prazo (dias e semanas após o consumo prolongado).
Metabolismo do álcool no corpo humano
O metabolismo do álcool envolve processos que transformam o etanol, uma substância tóxica, em compostos menos prejudiciais. Estes processos ocorrem principalmente no fígado.
Logo após o consumo, o álcool é rapidamente absorvido pelo estômago e intestino delgado, sendo transportado para a corrente sanguínea. Com isso, a distribuição pelo corpo é eficiente e atinge diversos órgãos, incluindo o cérebro.
Etapas do metabolismo
-- Absorção: Cerca de 20% do álcool é absorvido no estômago, enquanto 80% é absorvido no intestino delgado. Esse processo é rápido, especialmente quando o álcool é consumido em jejum.
-- Distribuição pelo corpo: Uma vez na corrente sanguínea, o álcool circula por vários órgãos, com maior impacto no cérebro, onde desencadeia os efeitos principais, como perda de coordenação motora e alterações no humor.
-- Metabolização hepática: O fígado metaboliza a maior parte do álcool. Inicialmente, a enzima álcool desidrogenase (ADH) transforma o etanol em acetaldeído, um composto altamente tóxico. Posteriormente, outra enzima, chamada acetaldeído desidrogenase, converte o acetaldeído em acetato, que é menos prejudicial e acaba sendo convertido em água e dióxido de carbono.
Eliminação do álcool
-- O álcool é eliminado do corpo principalmente pelo fígado. Uma pequena fração é eliminada pelos pulmões, suor e urina.
-- A taxa de metabolização do álcool é relativamente constante, em torno de 10 a 20 mg/dL por hora, embora fatores como gênero, idade e peso influenciem nesse ritmo.
Efeitos imediatos do consumo de álcool
Os efeitos do álcool no corpo são percebidos em minutos. Esses efeitos variam de acordo com a quantidade de álcool ingerida e o estado de saúde do indivíduo.
Mudanças nos neurotransmissores
-- GABA (Acido Gama-Aminobutírico): O álcool aumenta a atividade do GABA, um neurotransmissor inibitório. Esse efeito provoca uma redução na atividade cerebral, resultando em relaxamento muscular, diminuição da ansiedade e atenuação de reflexos.
-- Glutamato: O álcool inibe o glutamato, neurotransmissor excitatório, reduzindo a eficiência da transmissão de impulsos nervosos. Isso explica a perda de coordenação e as dificuldades na memória durante a intoxicação.
-- Dopamina: O consumo de álcool aumenta os níveis de dopamina no sistema de recompensa do cérebro. Este processo está associado aos sentimentos de prazer e euforia, incentivando o consumo recorrente.
Efeitos fisiológicos no corpo
-- Sistema Cardiovascular: O álcool provoca dilatação dos vasos sanguíneos, resultando em uma diminuição temporária da pressão arterial e uma sensação de calor superficial. Isso explica a face avermelhada em alguns indivíduos após o consumo.
-- Sistema Digestivo: A mucosa do estômago é irritada pelo álcool, o que pode aumentar a produção de ácido gástrico. Como resultado, é comum que o indivíduo sinta desconforto e náuseas.
-- Sistema Urinário: O álcool tem um efeito diurético, estimulando a produção de urina. Isso ocorre pela inibição do hormônio vasopressina, responsável pela retenção de líquidos.
Efeitos de médio prazo
Nas horas que se seguem ao consumo, o corpo entra em um estado de metabolização ativa e reequilíbrio dos sistemas afetados.
Desintoxicação do organismo
-- O fígado continua a converter o acetaldeído em acetato. A presença de acetaldeído é uma das principais causas de sintomas como dor de cabeça e mal-estar.
-- Níveis de glicose: A metabolização do álcool prejudica a liberação de glicose pelo fígado, levando a hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue), o que contribui para a sensação de fraqueza.
Efeitos nos neurotransmissores
-- Reequilíbrio do GABA e Glutamato: A diminuição da atividade do GABA e a retomada do glutamato geram uma fase de hiperatividade cerebral, resultando em sintomas como ansiedade, tremores e insônia.
-- Queda na Dopamina: O aumento temporário da dopamina é seguido por uma queda brusca, o que pode desencadear sentimentos de tristeza e apatia. Esta queda contribui para a sensação de “ressaca emocional”.
Sintomas de ressaca
-- Desidratação: A produção aumentada de urina leva à perda significativa de líquidos e eletrólitos, causando dor de cabeça e boca seca.
-- Irritação Gástrica: A irritação da mucosa do estômago e a elevação do ácido gástrico provocam náusea e vômito.
-- Inflamação Sistâmica: A exposição ao acetaldeído gera inflamação, intensificando os sintomas de mal-estar.
Dias ou semanas de sobriedade
Com a cessão prolongada do consumo de álcool, o corpo e o cérebro iniciam um processo complexo de recuperação e adaptação.
Recuperação do sistema nervoso central
-- Restabelecimento dos Neurotransmissores: O cérebro busca restaurar o equilíbrio entre os sistemas de GABA e glutamato. No período inicial de abstinência, ocorre uma hiperexcitabilidade, que pode resultar em ansiedade e insônia. Com o tempo, os receptores retornam a um estado de funcionamento normal.
-- Neuroplasticidade: A exposição crônica ao álcool reduz a capacidade de adaptação do cérebro. A sobriedade permite um processo de neuroplasticidade, onde o cérebro recupera parte de sua capacidade de se reorganizar e formar novas conexões neurais.
Recuperação do fígado
-- Regeneração Hepática: O fígado possui uma grande capacidade de regeneração. Após semanas de sobriedade, é possível observar redução na esteatose hepática (acúmulo de gordura no fígado). Em casos de consumo crônico e danos severos, como cirrose, essa recuperação é limitada.
-- Estresse Oxidativo: O acetaldeído e outros metabólitos geram estresse oxidativo no fígado, contribuindo para lesões hepáticas. A abstinência reduz a produção dessas substâncias e promove a recuperação celular.
Sistema Imunológico e bem-estar físico
-- Melhora do Sistema Imunológico: O consumo crônico de álcool suprime a resposta imunológica. Após algumas semanas de sobriedade, há uma recuperação gradual da função imune, aumentando a capacidade do organismo de combater infecções.
-- Sono e Ritmo Circadiano: O álcool afeta os ciclos de sono, especialmente a fase REM, que é crucial para o descanso mental. A abstinência melhora a qualidade do sono, embora possa levar semanas para que um padrão normal seja reestabelecido.
Desafios psicológicos na sobriedade prolongada
-- Sintomas de abstinência prolongada: Para indivíduos que eram bebedores crônicos, os sintomas de abstinência podem persistir por semanas. Tremores, ansiedade, irritabilidade e dificuldades de concentração são comuns. Esses sintomas resultam da necessidade do cérebro de reestabelecer seus sistemas de neurotransmissão.
-- Estabilização emocional: A dopamina é um dos principais elementos do sistema de recompensa, e sua produção é reduzida após o consumo crônico de álcool. A sobriedade permite uma recuperação gradual desses sistemas, o que ajuda a estabilizar o humor e a melhorar o bem-estar emocional.
10 dicas para deixar de tomar bebida alcoólica
Estabeleça metas claras: Defina metas realistas e atingíveis para reduzir ou eliminar o consumo de álcool. Ter objetivos claros ajuda a manter o foco no processo de sobriedade.
Busque suporte: Procure apoio de amigos, familiares ou grupos de ajuda, como o Alcoólicos Anônimos (AA). O apoio social é fundamental para lidar com os desafios da abstinência.
Evite gatilhos: Identifique e evite situações que possam desencadear o desejo de beber, como festas, locais específicos ou momentos de estresse.
Pratique atividades físicas: Exercícios físicos ajudam a reduzir o estresse, melhorar o humor e aumentar os níveis de dopamina, aliviando a vontade de consumir álcool.
Estabeleça novos hobbies: Encontre atividades que possam substituir o tempo dedicado ao álcool, como aprender um instrumento musical, praticar esportes ou hobbies criativos.
Procure ajuda profissional: Psicólogos e terapeutas podem oferecer técnicas de enfrentamento para lidar com a vontade de beber e com os sintomas de abstinência.
Mantenha a hidratação: Beber água em abundância ajuda a reduzir a sensação de ressaca e facilita o processo de desintoxicação do organismo.
Estabeleça uma rotina de sono saudável: Dormir bem é essencial para a recuperação física e mental. Evitar estimulantes e criar um ambiente propício ao sono podem ajudar na qualidade do descanso.
Registre seu progresso: Manter um diário ou registrar os dias de sobriedade pode ser motivador e ajudar a perceber os avanços ao longo do tempo.
Seja paciente consigo mesmo: A recuperação é um processo que leva tempo. Reconhecer as pequenas vitórias e ter paciência com eventuais recaídas faz parte do caminho para a sobriedade.