Fred Souza Garcete, Guarani Kaiowá de 15 anos da Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, foi encontrado morto na manhã dessa segunda-feira (23 de setembro) na rodovia MS-384, entre a aldeia Campestre, fica localizada na TI, e a área urbana do município de Antônio João (MS).
Segundo relatos dos indígenas, o jovem estava na aldeia Bananal e de madrugada retornaria de moto para sua casa, na aldeia Campestre, também localizada na TI Nhanderu Marangatu.
Foi neste trajeto que Fred foi encontrado, já sem vida. Segundo os indígenas que encontraram o corpo do jovem, ele apresentava ferimentos na cabeça e uma “perfuração” abaixo do ouvido.
Testemunhas afirmaram terem visto uma caminhonete Hilux na cor branca parar no local onde o corpo depois foi encontrado. Este local fica próximo à retomada Piquiri, uma das dez que integram a TI Nhanderu Marangatu.
A Polícia Civil realizou perícia e atribuiu a causa da morte do jovem a um traumatismo craniano decorrente de um acidente de trânsito. Os indígenas, no entanto, contestam a versão policial, dada a ausência da moto no local e de indícios que denotem uma colisão com outro veículo.
“Diante do contexto que estamos enfrentando, a gente suspeita que ele foi assassinado a mando de fazendeiros da região”, considerou um membro da comunidade.
A morte de Fred se dá dois dias após o enterro de Neri Ramos da Silva, assassinado na última semana (18) com um tiro de arma de fogo durante operação da Polícia Militar (PM). O crime também ocorreu na Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu, em Antônio João (MS), em meio a uma investida policial contra a comunidade Guarani Kaiowá que havia retomado a fazenda Barra, sobreposta à área indígena.
Quase uma semana antes da morte de Neri, a comunidade já havia sido alvo de um ataque da Polícia Militar, que deixou três pessoas feridas. Uma decisão da Justiça Federal de Ponta Porã agravou ainda mais a situação ao autorizar a atuação da PM na proteção à propriedade privada, legitimando a violência contra a comunidade Guarani Kaiowá.
No sábado (21), o corpo de Neri retornou à TI Nhanderu Marangatu após passar por necropsia em Dourados (MS). O exame foi realizado por uma equipe da Polícia Federal enviada de Brasília e acompanhada por um antropólogo do Ministério Público Federal (MPF).
No mesmo dia, foi realizado um ato no local onde Neri foi morto. Estiveram presentes, membros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).