Saúde

HPV: 20 anos sem se manifestar

Ele é o principal fator de risco para que uma mulher desenvolva câncer do colo uterino

Uma transmissão que ocorre de forma silenciosa e que pode levar até 20 anos para se manifestar. O HPV - sigla em inglês para Papilomavírus Humano (Human Papiloma Virus - HPV) - é a principal causa do câncer do colo de útero nas mulheres — o terceiro tumor mais frequente na população feminina.

O vírus, que é chamado de “papilomovirus humano”, é a infecção sexualmente transmissível mais comum atualmente, segundo a ginecologista e especialista em reprodução humana Lorrainy Rabelo. 

“Ele é o principal fator de risco para que uma mulher desenvolva câncer do colo uterino futuramente. Mas é possível evitar a doença utilizando preservativo e — principalmente hoje em dia — com a vacinação disponível no mercado, inclusive que protege contra os nove tipos mais comuns e que mais causam consequências, como o câncer do coluterino na nossa população”, destaca.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 80% da população sexualmente ativa será infectada pelo HPV em algum momento da vida. A cada ano, são diagnosticados 47 mil novos casos de câncer associados ao HPV, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.

Também relacionado a outros tipos de cânceres, a infecção pelo “papilomovirus humano” não apresenta sinais ou sintomas na maioria dos casos. E é exatamente por isso que as pessoas, muitas vezes, não sabem que contraíram a doença. A médica Lorrainy Rabelo explica que o aparecimento de verrugas pode ser um sinal de alerta. 

“São verrugas irregulares que podem surgir na região genital, na orofaringe, na região anal. É a principal manifestação clínica— mas mesmo que não apresente verrugas a pessoa pode possuir o vírus ali incubado”, esclarece.

Apesar de se manter um longo tempo no corpo sem manifestar qualquer sintoma, a maioria das infecções – sobretudo em adolescentes – tem resolução espontânea, pelo próprio organismo, em um período aproximado de até 24 meses, segundo o Ministério da Saúde.

Tipos de HPV

Existem pelo menos 12 tipos de HPV considerados oncogênicos — aqueles com associação comprovada entre a infecção e o câncer — que apresenta maior risco ou probabilidade de provocar infecções persistentes. Os tipos 16 e 18 são considerados de alto risco. Eles estão presentes em 70% dos casos de câncer do colo do útero.

“Nós temos vários tipos de HPV, mais de 100 tipos. E a forma de contágio principal é por sexo oral, vaginal ou anal sem preservativo”, explica a médica Lorrainy Rabelo.

Diagnosticada com câncer, a influenciadora digital Micheline Ramalho conta que ficou assustada ao receber o diagnóstico. Na época com 31 anos, ela diz que demorou para entender o que estava acontecendo. “Achei que aquilo seria a minha morte. Infelizmente, é assim que muita gente vê o câncer. Comigo, não foi diferente. Demorei meses para ter coragem de contar para meus seguidores”, desabafa. 

Um levantamento do Instituto Nacional de Câncer (INCA) revela que, por ano, são cerca de 17 mil novos casos e quase 7 mil mortes. No mundo, é o quarto tipo de câncer mais comum entre mulheres. Nas Américas, é a causa da morte de 35,7 mil mulheres – sendo 80% dos casos na América Latina e no Caribe.

Contágio x prevenção

O HPV é a infecção sexualmente transmissível mais comum no mundo. Mais de 90% dos casos do câncer do colo de útero e de ânus está associado a esse tipo de infecção. As verrugas genitais também são provocadas pela infecção. Números do INCA mostram que o Brasil pode passar de 17 mil novos casos de câncer de colo do útero por ano até 2025. A estimativa é de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres.

O contágio se dá pelo toque direto com a pele ou com a mucosa infectada, que inclui contato oral-genital, genital-genital ou mesmo manual-genital. Também pode haver transmissão da mãe para o bebê, durante o parto.

Segundo Werciley Júnior, coordenador infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, a forma mais segura e eficaz de proteção contra esse vírus é a vacina, que está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014. Mas a baixa percepção do risco do HPV – por ser um vírus que não causa uma doença imediata – e as informações falsas veiculadas por grupos antivacina dificultam que o Brasil atinja a cobertura vacinal ideal. 

A médica Lorrainy reforça que a vacina não é apenas contra o câncer de colo do útero. É contra vários tipos de câncer que podem afetar homens e mulheres. 

A vacina contra o HPV já foi amplamente testada em milhares de mulheres, espalhadas por vários países do mundo. Ela pode causar um pouco de inchaço e dor no braço de sua aplicação, mas não traz nenhum risco ou sintoma mais severo aos pacientes.

Tratamento

Não existe tratamento com comprovação científica de eficácia para a infecção pelo HPV quando não há lesão precursora ou verrugas. Nesta situação, fazemos o esclarecimento e recomendamos que a mulher mantenha seu exame preventivo em dia, como recomendado acima. Caso surja uma verruga ou seu preventivo apresente alguma suspeita de lesão precursora, o que não é o mais frequente, ela deverá seguir a orientação de seu médico.

O tratamento das verrugas é variado e deve ser escolhido conforme a vontade da mulher e experiência do médico. Estes podem ser a aplicação de uma substância ácida no próprio consultório, aplicação de medicamentos sob a forma de creme pela própria paciente ou até a retirada cirúrgica ou cauterização elétrica, em casos especiais (múltiplas e extensas lesões).

Já as lesões precursoras podem ser tratadas destrutivamente (por várias formas) ou retiradas cirurgicamente. A maioria dessas lesões em mulheres jovens (até 40 anos) é retirada sob anestesia local durante a colposcopia. Em algumas situações, mais comuns em mulheres mais maduras, pode ser necessária uma cirurgia um pouco mais profunda, que deve ser feita em centro cirúrgico: a conização do colo do útero. Ambas são realizadas pela vagina e com baixo risco de complicações.