O primeiro dia de desfiles do Grupo Especial no Sambódromo do Rio de Janeiro encheu de cores a Marquês de Sapucaí, com as fantasias e adereços da elite do carnaval carioca.
A noite começou com a Unidos do Porto da Pedra, que teve como enredo Lunário Perpétuo: a profética do saber popular. A agremiação contou a história de um livro que reúne orientações sobre astronomia, agricultura, saúde, uso de ervas.
Escrito em 1594 pelo espanhol Jerónimo Cortés, o Lunário Perpétuo foi apontado pelo folclorista Câmara Cascudo como a publicação mais lida no Nordeste brasileiro durante 200 anos.
Em seguida, desfilou a Beija-Flor que trouxe o enredo Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila.
A história de Benedito dos Santos, que ficou conhecido como Rás Gonguila, foi contada ao público. Nascido na capital alagoana, ele afirmava ser descendente direto do último imperador da Etiópia.
O Salgueiro foi responsável pelo terceiro desfile da noite, com o enredo Hutukara, que falou sobre o povo Yanomami.
A cultura indígena também foi tema do desfile da Grande Rio, a quarta a pisar na avenida do samba. O enredo Nosso Destino É Ser Onça abordou a mitologia tupinambá.
A quinta apresentação foi da Unidos da Tijuca. Suas cores, azul e amarelo, deram vida ao enredo O Conto de Fados.
Atual campeã, a Imperatriz Leopoldinense encerrou a programação do primeiro dia. A agremiação foi mais uma que levou para a Sapucaí um enredo baseado em um livro.
A obra ficcional O Testamento da Cigana Esmeralda, do poeta pernambucano de cordel Leandro Gomes de Barros, foi a escolhida.
Intitulado Com a Sorte Virada pra Lua, segundo o testamento da cigana Esmeralda, a escola explorou o imaginário em torno do universo cigano.
Nordeste em São Paulo
Em São Paulo, a primeira escola a entrar no circuito oficial foi a Dom Bosco de Itaquera, com o enredo "Um Causo Arretado Pra Lá de Valente, o Cordel de Um Nordeste Independente", mostrando como seria a região inspirado na música ‘Nordeste Independente’ da cantora Elba Ramalho.
O samba-enredo da escola começa destacando a valentia do povo nordestino, questionando se a independência é uma realidade ou uma ilusão. A letra descreve a relação íntima do povo com a terra, o trabalho árduo no agreste e a riqueza que advém do solo.
A menção ao Sol que queima simboliza a força e a coragem dos habitantes, enquanto a 'muié rendeira' e a 'Asa Branca' representam a arte e a música que são intrínsecas à identidade cultural da região.
A segunda parte da música celebra figuras icônicas como o cangaceiro e Luiz Gonzaga, o 'Rei do Baião', além de mencionar pratos típicos e danças tradicionais como o xaxado e o arrasta pé.
A referência ao 'herói Virgulino' (Lampião) aborda a complexidade de figuras históricas que são vistas sob diferentes perspectivas.
O samba conclui com um reconhecimento do amor pelo Nordeste, sem a necessidade de separação do Brasil, mas com um orgulho imenso pela cultura e pela gente que faz da região um lugar único.
Outra escola a ter um tema nordestino como o enredo foi a Colorado do Brás, que cantou “Os encantos da raiz do Mandacuru”, uma cactácea nativa do Nordeste e que tem diversas funções, como fitoterápica.
Orixás foram outro tema de escolas de samba em São Paulo. A Unidos de Vila Maria celebrou Ogum. "Saravá, saravá, Ogum meu pai
Saravá, saravá, filho seu não cai", cantou a escola. "Ogum de ronda, beira-mar e Onirê. Eu já vou logo avisar: A Vila é forte!"
A Estrela do Terceiro Milênio falou sobre a criação do mundo segundo o candomblé. "Contam os antigos que um dia foi a missão entregue a Obatalá: criar o mundo, ver surgir o ayê."
E a Mocidade Unida da Mooca fechou a noite com fogos e homenagem a Iansã. "Ah epahey ela é oyá, ela é oyá! Ah epahey é Iansã, Iansã! Tem macumbaria, pra coroar. Axé Helena! Mojubá! Elegbará!"