Saúde

5 causas de dores ou incômodos durante e depois do ato sexual

Há sintomas de queimação, inchaço, vermelhidão e coceira

Foto: Pixabay/Creative Commons
O problema afeta grande número de casais

Segundo a Febrasgo-Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 39,5% das brasileiras, entre 40 e 65 anos, sentem algum tipo de dor ou incômodo na relação sexual, seja durante ou depois. Já um levantamento feito pelo Cresex-Centro de Referência e Especialização em Sexologia, do Hospital Pérola Byington, apontou que 48,5% das mulheres buscam auxílio médico devido a condições que afetam a saúde sexual.

Além disso, o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia estima que 3 em cada 4 mulheres sentirão dores e/ou desconfortos associados ao sexo em algum momento da vida.

Segundo Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, médico do Hospital Albert Einstein e membro da Febrasgo, há uma série de fatores que podem desencadear estes sintomas. “A dor ou o incômodo pode ser superficial ou profundo, e ter origem anatômica, hormonal, patológica e até emocional. O sofrimento pode ser tão intenso que a mulher chega a evitar o sexo por completo”, diz o especialista.

Para Bárbara Bastos, sexóloga clínica e educacional pela Fasex-Família e Sexualidade; pós-graduanda em Sexualidade Humana pelo Instituto de Comportamento Infantil de Miami (Estados Unidos); e sócia da boutique erótica Désir Atelier; a dor na região genital é um alerta de que há algo de errado, assim como ocorre em qualquer outra parte do corpo. “Mas, quando se trata de sexo, a mulher tem medo, vergonha e até sentimento de culpa e fracasso, seja por falta de informação ou mesmo pelos tabus de sempre que, aliás, só reforçam a crença de que dor no sexo é normal”, pondera a terapeuta.

Especialistas listaram 5 causas não tão óbvias que podem esclarecer porque o sexo deixou de ser (ou nunca foi) prazeroso para você:

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Preservativos - Algumas mulheres podem ter reação alérgica a preservativos de látex, causando coceira, queimação e dor, tanto durante o sexo como depois. “Substitua o preservativo de látex pelo de poliuretano. Além de mais resistente, ele é composto por um material mais delicado e confortável. Mas, se a dor persistir, fale com seu médico”, orienta Carlos Moraes.

2

Tamanho e formato do pênis - “A velha máxima de que quanto maior o pênis, mais prazer a mulher terá, sempre foi mito”, afirma Bárbara Bastos. Segundo ela, o pênis muito grosso pode causar pequenas fissuras no tecido vaginal devido à fricção, gerando dor e desconforto durante e após o sexo. Já o pênis mais longo pode atingir o colo do útero, tornando o sexo extremamente doloroso. “Neste último caso, evite posições que favoreçam a penetração profunda. Em relação à espessura do pênis, aposte em um lubrificante para suavizar o atrito”, recomenda a sexóloga.

Um dos fatores mais agravantes é a doença de Peyronie. Decorrente de pequenos ou grandes traumas no pênis, a condição é caracterizada pelo crescimento de tecido cicatricial fibroso no interior do órgão masculino, afetando sua elasticidade, capacidade de ereção, formato e inclinação natural.

“Além da dificuldade de ereção, a penetração não se sustenta por conta da curvatura do pênis, e ambos acabam se machucando se insistirem”, aponta Bárbara Bastos.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo (SBUSP), o problema acomete cerca de 10% dos homens, com maior incidência em pacientes com mais de 40 anos. Existe uma prevalência que pode variar de 0,5% a 20,3% em toda a população.

Em alguns casos, as fibroses podem desaparecer sem a necessidade de intervenções. No entanto, a maioria dos homens é submetida à cirurgia para corrigir o órgão e ter uma vida sexual saudável. “Seja qual for o entrave, o ideal é sempre ter abertura para falar o que não está bom. Juntos, fica mais fácil solucionar os problemas”, diz Bárbara.

3

Contraceptivos orais - Um estudo feito por pesquisadores do Hospital do Santo Sacramento, no Canadá, revelou que o uso prolongado de pílulas anticoncepcionais pode estar associado a diversas condições que geram fortes dores na região da vulva.

Já uma pesquisa da Universidade de Nova York, em conjunto com o Conselho Distrital de Saúde Waitemata, na Nova Zelândia, mostrou que 27% das mulheres que usavam contraceptivos, mesmo com baixa concentração de estrogênio, sentiam dores pélvicas, e apenas 17% das que não tomavam pílula tinham as mesmas dores.

Além disso, 25% das adeptas ao contraceptivo tiveram quase o dobro de episódios de dor durante ou após o sexo, contra 12% das que não faziam uso da pílula. “Neste caso, o ideal é discutir com seu médico outros métodos contraceptivos não hormonais”, pontua o ginecologista Carlos Moraes.

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Sêmen - A HSP-hipersensibilidade ao plasma seminal humano, conhecida como alergia ao sêmen/esperma, é uma reação alérgica que acomete principalmente as mulheres, podendo surgir com qualquer parceiro, a qualquer momento, inclusive após anos de relacionamento.

Segundo Carlos Moraes, o responsável por esta condição é o plasma seminal, um líquido presente no sêmen, cujas proteínas resultam nessa patologia.

Embora a maioria das mulheres que enfrentam esse problema tenham entre 20 e 30 anos, existem casos em que as reações surgem apenas após os 50 anos. Também é possível que a hipersensibilidade ocorra na adolescência, logo após a primeira relação sexual.

O ginecologista afirma que a condição pode ser mais comum do que se imagina, mas, por desinformação ou até vergonha, as pacientes raramente levantam a hipótese de reação ao esperma. “A HSP apresenta sintomas semelhantes a outras infecções, como queimação, calor, inchaço, vermelhidão e coceira. Por isso, cabe ao médico realizar uma avaliação minuciosa para evitar erro no diagnóstico e tratamento”, diz Carlos Moraes.

Segundo um estudo publicado no UpToDate, a reação ao esperma geralmente surge em até 30 minutos após a ejaculação, e os sintomas duram cerca de 24 horas, apesar de existirem casos um pouco mais prolongados.

De acordo com o estudo, 70% das mulheres tiveram reação alérgica generalizada, enquanto nas outras 30%, a reação foi apenas local, restrita à região da vagina e vulva. Em 10 a 15% das mulheres, a reação alérgica foi tardia, surgindo várias horas após o término da relação sexual.

“Antes de haver o diagnóstico, o ideal é o uso regular da camisinha, pois ela impede o contato do sêmen com a mucosa vaginal. É importante frisar que o preservativo deve ser colocado assim que derem início às preliminares, já que há risco de o líquido pré-ejaculatório entrar em contato com a região vaginal e desencadear a reação alérgica”, alerta Carlos Moraes.

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Tamanho dos lábios vaginais - Segundo Luís Maatz, cirurgião plástico pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e membro da SBCP-Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica a configuração da genitália feminina, ou seja, o tamanho e o formato desproporcionais dos lábios vaginais, pode resultar em relações sexuais, no mínimo, desconfortáveis.

“Daí a importância de buscar a ninfoplastia (ou labioplastia), cirurgia feita na genitália externa feminina com o objetivo de diminuir o tamanho dos pequenos lábios, corrigir assimetrias ou frouxidões no local. O procedimento não é só estético, mas também reparador, indicado quando há dor, incômodo e dificuldade de obter estímulos durante a relação sexual”, explica Luís Maatz.

Segundo dados divulgados pela Isaps-Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, nos últimos 4 anos houve um aumento de 75% na procura pelo procedimento. O Brasil liderou o ranking mundial com quase 16 mil ninfoplastias realizadas.

Um dos maiores objetivos para a intervenção é a atrofia vaginal, que atinge cerca de 56% das brasileiras, conforme a pesquisa Saúde Vaginal.

Em suma, os especialistas são categóricos: se você sente dores durante e/ou após o sexo, busque uma avaliação médica o mais rápido possível.

Para o ginecologista Carlos Moraes, um diagnóstico preciso pode não só restaurar seu prazer, mas agilizar o tratamento de problemas mais sérios. 

“Na ausência de causas físicas, não tenha receio de recorrer a profissionais que possam diagnosticar e tratar os fatores psicológicos que estão te impedindo de desfrutar de uma sexualidade plena”, diz a sexóloga Bárbara Bastos.