Daniel, principal narrador do romance Meninos Suspensos, está diante do corpo do amigo no necrotério. Ele precisa preparar tudo para o funeral e, em meio a esta obrigação, recorda alguns dos principais momentos da própria vida.
Fiel ao fluxo de consciência, que não está preso a uma linha narrativa lógica, nem a um tempo cronológico, D.B. Frattini escreve um livro polifônico, crítico, repleto de suspense e com várias camadas de ironia.
A obra começa com a inevitabilidade da morte, entretanto, a história não foca no luto. Esta situação é somente um ponto de partida para que o protagonista mergulhe nos sentimentos experienciados durante as últimas seis décadas.
A partir disso, ele narra situações cruciais de sua trajetória, como o assassinato dos pais durante a ditadura militar, o cotidiano no colégio religioso e a relação íntima com as artes.
Ao mesmo tempo que critica os costumes da sociedade brasileira, o autor reflete sobre os conflitos existenciais dos humanos. C
om uma multiplicidade de vozes, os leitores são apresentados a vivências distintas: há o garoto com transtorno obsessivo compulsivo que, sem receber tratamento, é proibido de praticar os impulsos; a mulher que se casa com um homem para respeitar a decisão da família, porém o matrimônio beira à ruína; os jovens em um relacionamento homossexual que deverão renunciar à paixão para seguir a religião, entre outras.
Meninos Suspensos é resultado não apenas do trabalho do escritor com a literatura, mas dos anos de experiência de D.B. Frattini nas artes cênicas. Dramaturgo aposentado, ele utiliza elementos do teatro do absurdo para compor a prosa. Além de apresentar personagens presos às próprias condições de vida, a narrativa desafia os conceitos de realidade do público: em muitos momentos, Daniel conversa com uma lagartixa na parede do necrotério, que fala em francês e faz perguntas complexas.
Apesar de ser um drama existencial, a obra contém um suspense solucionado somente nas últimas páginas e que envolve a morte de um dos personagens. O autor explica: “O leitor deve prestar muita atenção nos detalhes, como, por exemplo, Daniel esconde folhas de caderno dobradas nas vestes do amigo defunto. São minúcias que carregam a narrativa para o final. Este é um livro com o enredo calcado na morte de um ente querido, mas não se prende nisso, muito pelo contrário: é irônico, com muitas camadas cômicas, críticas e de suspense”.