Para cumprir a meta assumida no Acordo de Paris (2015) de plantar 12 milhões de hectares de floresta até 2030, o Brasil precisa investir R$ 228 bilhões. A cifra é alta, mas seus desdobramentos positivos prometem ser ainda maiores.
É o que mostra estudo inédito divulgado pelo Instituto Escolhas.
A pesquisa revela que, além de viabilizar o cumprimento de uma meta climática importante, todo esse investimento poderia gerar R$ 776,5 bilhões em receita líquida e criar 2,5 milhões de novos postos de trabalho.
A aplicação dos modelos propostos resultaria, ainda, na produção de 1 bilhão de m³ de madeira para comercialização e de 156 milhões de toneladas de alimentos.
Essa é a segunda vez que o Escolhas calcula o investimento necessário para o cumprimento da meta brasileira. O primeiro estudo foi lançado meses depois da assinatura do acordo e chegou à cifra de R$ 52 bilhões. De lá para cá, apenas 79,1 mil hectares foram recuperados. “Isso é menos de 1% da meta original. E, agora, temos que correr atrás do passivo gerado, do custo de não termos feito nada. Não podemos perder de vista, no entanto, que os resultados compensam o investimento, ainda que ele esteja quatro vezes maior”, diz o diretor executivo do Instituto Escolhas, Sergio Leitão.
195 países construíram o Acordo de Paris em dezembro de 2015, com o compromisso de conter o aquecimento do planeta em até 2 °C, e esforços para que ele não ultrapasse 1,5 °C até o fim deste século. Para tanto, será preciso reduzir drasticamente as emissões de gases do efeito estufa (GEE), uma necessidade que transformará o modo de produção de bens e serviços.
Em setembro de 2015, em solenidade ocorrida na sede da ONU, o Brasil anunciou o conjunto de iniciativas a serem implementadas no país para o enfrentamento das mudanças climáticas. Entre elas, o compromisso de recuperar 12 milhões de hectares de florestas até 20301 foi considerado uma contribuição muito significativa e, por isso, festejado nacional e internacionalmente como uma das mais ambiciosas apresentadas pelos países signatários da Convenção sobre Mudanças Climáticas.
Os números envolvendo os custos para cumprir essa meta, entretanto, não eram bem conhecidos, inclusive pela própria presidente Dilma Rousseff, que afirmou à imprensa: “Se alguém tiver esse cálculo complexo de quanto vamos gastar, me passe que eu vou ficar muito feliz”.
Esse cálculo já existe. Tal empreendimento requer um investimento entre R$ 31 bilhões e R$ 52 bilhões, conforme o cenário escolhido. Isso significa investimentos anuais entre R$ 2,2 bilhões e R$ 3,7 bilhões por ano durante 14 anos, a criação de 138 mil a 215 mil empregos e a arrecadação de R$ 3,9 a R$ 6,5 bilhões em impostos.
Sua implantação consolidaria uma moderna indústria de recuperação florestal no país. A floresta recuperada será fonte, ainda, de atividades econômicas, por meio das cadeias produtivas dos seus produtos, movimentando dezenas de bilhões de dólares nas próximas décadas.
Com isso, o Brasil, ao contribuir para o combate às mudanças climáticas globais, tem a possibilidade de dinamizar sua economia ao mesmo tempo em que se beneficia de efeitos como a diminuição de sua exposição a crises hídricas.
O estudo foi desenvolvido por uma equipe de economistas e engenheiros florestais coordenada pelo Instituto Escolhas. A pesquisa partiu do Código Florestal para estimar as áreas de Reserva Legal a recuperar, o custo por hectare da restauração, os valores para a execução de práticas de manejo florestal e os benefícios resultantes da recuperação.
A meta de 12 milhões de hectares pode ser atingida gradualmente, com acréscimo anual de áreas até 2030.