Economia / Empregos

Indústria espera abrir 540 mil postos de trabalho em 2 anos

Responsável pela maior fatia, a construção civil responde por 265 mil novas vagas

Foto: Pixabay/Creative Commons
Quem busca emprego vai precisar de qualificação

A estimativa de abertura das vagas de trabalho até 2025, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), prevê salários entre R$ 1,8 mil e R$ 6,6 mil.

Segundo a projeção, construção civil, logística e transporte e geração de energia são os setores responsáveis pelos novos postos de trabalho. O gerente-executivo do Núcleo de Inteligência e Análise de Dados da CNI, Marcio Guerra, destaca a importância dos quatro setores. 

“São setores dinâmicos, que tiveram uma rápida recuperação pós-Covid, respondem por um grande volume de vagas, são vetores da descarbonização da economia e altamente impactados pela digitalização dos processos produtivos”, afirma.

Responsável pela maior fatia, a construção civil responde por 265 mil novas vagas. O vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), João Accioly, entende que a economia brasileira conseguiu atingir um certo grau de estabilidade. Para ele, a esperada redução na Selic — taxa básica de juros, atualmente em 13,75% — vai gerar um reaquecimento no mercado, especialmente na indústria. 

“O mercado imobiliário, a gente está com a expectativa de que deve melhorar a partir de agora no segundo semestre. E ele melhorando, naturalmente aquecendo, vai ter mais demanda por mão de obra, por mão de obra de todo tipo. Mas uma questão que foi muito bem colocada pela CNI: a gente vai exigir cada vez mais mão de obra um pouco mais qualificada no nosso segmento. De uma forma geral, buscamos qualificar mais o nosso pessoal, nossa mão de obra”, afirma. 

De acordo com a estimativa da CNI, quem busca emprego e também os trabalhadores que já atuam na área vão precisar buscar qualificação. A estimativa mostra que mais de 1,5 milhão de profissionais dos quatro segmentos vão precisar se atualizar. Na construção civil, 585 mil pessoas já inseridas no mercado de trabalho terão necessidade de formação complementar entre 2023 e 2025.

Qualificação profissional

Accioly afirma que o Sinduscon tem investido em centros de treinamento específicos para essa qualificação, em parceria com associações e entidades, como o SENAI. Ele explica que a ideia é dar maior especificidade para a complementação profissional, de modo que as empresas possam indicar quais áreas precisam de qualificação. Como é o caso da demanda por pintores. 

"A gente pensa em fazer parcerias com o próprio Senai e outras instituições de ensino, para as empresas atuarem mais diretamente, especificando o que exatamente estamos precisando, que tipo de conhecimento que a gente sente falta ou de domínio de informações e de qualificação que estamos demandando do nosso funcionário para ganhar em produtividade, para que eles ganhem também um salário melhor e todo o mercado ganha com isso”, pontua. 

O deputado federal Mendonça Filho (União-PE) é membro da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo. Ele destaca a importância da recuperação da economia com a geração de empregos no setor industrial. O deputado defende avanços na educação para maior qualificação profissional. 

"E evidentemente que isso também reforça a necessidade de nós avançarmos na pauta educacional, vinculada à educação técnica profissionalizante e a reforma do ensino médio, que eu tive a oportunidade de liderar a sua implementação como ministro da Educação, nos leva justamente a esse caminho, que é uma educação que qualifique cada vez mais o jovem para o mundo do trabalho, que em termos concretos significa melhor renda e maior empregabilidade", afirma.

Sem interesse

A educação profissional e tecnológica teve um aumento da procura de 13,7% em 2022. De 1.892.458 matrículas em 2021, passou para 2.152.506 no ano seguinte. Apesar do crescimento, o país ainda está longe da meta do Plano Nacional de Educação (PNE). O PNE estipulou triplicar as matrículas da educação profissional técnica de nível médio, chegando a 5 milhões de estudantes até 2024. O número atual representa apenas 40% da meta estabelecida para essa modalidade de ensino. Os dados são do Ministério da Educação (MEC).

Marcello Vieira, especialista em educação e professor do Instituto Federal de Brasília (IFB), lembra que a integração do ensino médio ao ensino profissionalizante é desafiadora. Para ele, é preciso investir na formação continuada.

“Esse é um desafio de conexão, mas que pode ser extremamente valoroso e assegurar uma oportunidade imediata de entrada desse aluno no mundo do trabalho.  A gente precisa investir na formação docente, os planos políticos pedagógicos pela autonomia da instituição são vários. Então, isso dificulta um pouco. E faz parte também a prospecção da própria instituição de saber o que oferecer para os alunos nessa articulação direta com o mundo real do trabalho, mas, sem dúvida, é um modelo que a gente precisa de mais investimento e de mais capacitação”, afirma.

Segundo o MEC, as matrículas da educação profissional estão principalmente concentradas na rede privada, com 42,1%; seguida das redes estadual e federal, com 39,7% e 15,5%, respectivamente. De todas as etapas de ensino, a educação profissional é a que detém o maior número de matrículas na rede federal, alcançando 334.545 em 2022.

A educação profissional e tecnológica é uma modalidade de ensino que tem por objetivo preparar e desenvolver habilidades em jovens e adultos para o exercício de profissões, contribuindo para que eles se insiram no mercado de trabalho. O modelo de aprendizagem está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e pode ser oferecido no ensino médio e no superior, podendo constituir um itinerário formativo contínuo de aprendizagem ao longo da vida dos estudantes.