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Banco Central abre espaço para iniciar a queda gradual dos juros

Há espaço para que a autoridade monetária comece a cortar a Taxa Selic em agosto

Foto: Pixabay/Creative Commons
O consumo é incentivado com a redução dos juros

Com um tom mais ameno, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na terça-feira (27), foi bem recebida pela área econômica do governo. Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, elogiaram o fato de os diretores do Banco Central (BC) acenarem com a possibilidade de corte nos juros em agosto.

Tradicionalmente, a ata é divulgada seis dias após o fim de cada reunião do colegiado do Banco Central.

A ata revelou que a maioria dos integrantes do Copom, formado pelo presidente do BC e pelos diretores do órgão, acredita que a queda da inflação e o impacto sobre as expectativas de mercado abre espaço para que a autoridade monetária comece a cortar a Taxa Selic em agosto, mesmo que de forma gradual.

“A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião", informou o Banco Central. O Copom voltará a reunir-se em 1º e 2 de agosto.

“[A ata] veio mostrando que há uma sinalização para queda de juros a partir de agosto. E garantindo também aquilo que nós já temos certeza que estamos fazendo. Se olharem na ata a divergência de alguns votos, ela mostra que eles já reconhecem o trabalho da equipe econômica. Não estamos plantando só sementes, estamos plantando credibilidade, segurança jurídica, previsibilidade para o Brasil. E a ata vem reconhecendo isso. Agora só falta em agosto começarem a baixar os juros”, disse Tebet.

Para o ministro da Fazenda, o documento indica que grande parte da diretoria do BC reconhece os esforços da equipe econômica e que há um consenso de que a Taxa Selic (juros básicos da economia), em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado, atingiu o pico e começará a cair no segundo semestre.

“O fato de que há uma sinalização clara de boa parte da diretoria [do Banco Central] de que os efeitos das taxas de juros elevadas produziram os resultados [conter a inflação] e o risco fiscal [risco de descontrole das contas públicas] está afastado é o mais importante”, declarou o ministro.

Na semana passada, o comunicado emitido logo após a reunião também tinha amenizado o tom em relação aos anteriores. A frase sobre a possibilidade de o BC voltar a elevar os juros em caso de alta da inflação ou de turbulências econômicas foi retirada, mas o texto não indicou quando o Copom começaria a cortar os juros, o que atraiu críticas de ministros da área econômica e até de parte do mercado financeiro.

Para Luciano Feres, economista e CFO da Somus Capital, a decisão de manter os juros elevados se baseia em dados que ainda oferecem riscos. “Existem dois fatores que levaram a essa decisão, entre eles a crise de crédito, como problema nas Americanas, Light e Oi, além do cenário americano que segue turbulento, eles acreditam que reduzir essa taxa pode impactar um cenário de crise de crédito maior”, comenta o economista.  

Um dos setores que se beneficiam com o corte dos juros é o imobiliário, explica a assessora de investimentos na WIT Invest, Mariana Pulegio. Segundo ela, a redução torna o financiamento imobiliário mais acessível e atrativo, o que pode impulsionar a demanda por imóveis e beneficiar empresas relacionadas à construção civil, incorporadoras e empresas de crédito imobiliário. Além do setor imobiliário, outro setor que se desenvolve é o de consumo.

“A queda dos juros pode estimular o consumo, pois torna o crédito mais barato. Isso pode beneficiar empresas do setor varejista, fabricantes de bens de consumo duráveis e empresas de serviços voltadas para o consumo”, destaca Pulegio.

Três variáveis ainda assombram a população: o endividamento das famílias brasileiras, que está em 78,3% (com aumento de endividados entre a classe média), segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A taxa de desemprego, que subiu em 16 das 27 Unidades da Federação no primeiro trimestre de 2023, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). E a taxa Selic, mantida em 13,75%, depois da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central).

Diante desse panorama, a educadora financeira, Aline Soaper alerta que com os juros altos, é preciso cautela na hora de fazer uma dívida a longo prazo.

“Segundo um levantamento do site MoneYou, mesmo que BC reduzisse a Selic em 0,25 pontos, a nossa taxa real de juros ainda seria de 7,21% ao ano. Isso é um valor bem maior que o segundo colocado em juros, que é o México, que tem 5,94%. Com juros altos, o cuidado para não se endividar é ainda maior.”

Contrair dívidas de parcelamentos, seja em boletos ou cartão de crédito, pode ter um efeito bola de neve. O ideal é manter as contas em dia e evitar novas compras a prazo.

Se você tem um bom controle financeiro, pode tentar arriscar-se no parcelamento sem juros, usando dinheiro que tenha guardado investido, para ir pagando as parcelas.

“Mas não podemos esquecer que imprevistos podem acontecer, e você pode ter que usar aquele dinheiro investido para alguma necessidade de última hora. Por isso, a orientação é evitar parcelamentos a longo prazo, principalmente de bens de consumo que podem ser pagos à vista”, explica a educadora financeira, Aline Soaper.

Ainda segundo Soaper, o ideal é tentar planejar a compra de produtos ou a contratação de serviços. “Vivemos em uma “cultura” de consumo imediato, onde precisamos adquirir itens ou serviços naquele momento e para isso, acabamos recorrendo ao pagamento a prazo”, acrescenta Aline.

Levantamento da plataforma Mercado Pago, sobre o Dia do Consumidor, em 2023, mostrou que entre os itens de maior interesse das compras estavam os produtos para casa, móveis e decoração, citados por 55% dos entrevistados.

Além disso, a pesquisa mostrou que 53% dos entrevistados que disseram que iriam comprar algum produto no Dia do Consumidor revelaram que parcelariam as compras, em especial com cartão de crédito (58%).

“Se programar é fundamental nesses tempos de juros altos. Exemplificando: se você tem dinheiro para comprar um sapato, compre apenas um. Ao invés de comprar mais itens e acabar caindo em um parcelamento. Outra estratégia é negociar descontos à vista. Se você receber 2% de desconto, já é o dobro do que a maioria dos investimentos rendem em um mês. Além disso, é 10 vezes menos do que os juros que as operadoras de cartão de crédito vão cobrar, se o pagamento estiver atrasado”, alerta Aline Soaper.

A educadora financeira também destaca que os consumidores devem ficar atentos com parcelamentos muito longos, por ser um grande risco de perda de controle financeiro e de acúmulo de dívidas feitas a prazo.

“Você pode comprometer uma grande parte dos seus recursos com parcelas acumuladas, perder a qualidade de vida da família e acabar entrando em um ciclo de endividamento. Mesmo que o parcelamento seja sem juros, não se engane, ele está incluído no valor das parcelas. Lembre-se que todo dinheiro tem um custo e atualmente esse custo está mais caro”, ressalta.

Parcelamentos valem a pena em alguns casos - “Em alguns casos, sim, como o uso do crédito para começar o próprio negócio ou fazer uma capacitação profissional. Nessas situações, o parcelamento será necessário para gerar aumento de renda. Contudo, em momentos de juros altos, quem tem dinheiro ganha mais e quem usa empréstimo paga mais caro. O ideal é preparar-se para aumentar sua renda e estar ao lado de quem investe para ganhar mais com a alta dos juros e não para se endividar mais”, esclarece a educadora financeira.