Pois é, fifo, ainda estou aqui na Pituba, de ‘férias’ no apartamento da amiga Mira, enquanto ajeito minha casa em Itapuã. Fico só apreciando a paisagem, curtindo os atrativos do bairro, deste jardim encantador onde passeio com a minha cachorrinha Loly, apreciando a Lagoa dos Patos. Mas curto as pessoas – sozinhas ou também com os seus cachorrinhos – e faço amizade com todo mundo que cruza meu caminho. Cumprimento quem está passando, comento sobre o tempo e logo, logo, já estamos sentados, batendo um papo descompromissado sobre as delicias que os barezinhos da redondeza servem. Trem bom é a vida, sô.
E a vida neste bairro de prédios altíssimos, com gente apressada, carros abundantes e obras em todos os lugares, é bem diferente da minha vida lá em Itapuã, onde moro numa rua sem saída, e onde conheço quase todas as pessoas. Lá, a maioria das pessoas do pequeno comércio até sabem meu nome. Se eu resolver entrar no açougue ou pegar verduras frescas com Josué, compro o necessário e, se quiser, posso até pagar depois, pois todos me conhecem e confiam. É como se eu estivesse em Ibicaraí, a minha terrinha, onde todo mundo confiava na bonitinha aqui, a filhinha do ‘dotô’ Confiava e fiava, he-he.
Eu tenho saudade da minha cidade, eu amo Ibicaraí, onde vivi a infância e uns lindos anos da minha vida, divididos com Ilhéus. Vivia ‘pulando’ de uma cidade para a outra: estudava em Ilhéus (a cidade que é meu outro amor), mas, na maioria dos fins de semana, vinha para o carinho dos papais, irmãos e amigos em Ibicaraí. Eu vibrava com esta vida dividida entre as cidades. E ainda tinha a paradinha estratégica em Itabuna, na casa da minha madrinha, Suzana Sepúlveda, para pedir a bênção e almoçar. Itabuna era a mais movimentada das três cidades, com um comércio variado que concorria até com Feira de Santana. Tinha de tudo. Tinha, não, tem até hoje. É a ‘capital’ de negócios da região cacaueira.
Eu amava Ilhéus, mas não perdia o passeio para Itabuna pela diversidade de coisas que a cidade oferecia. Lá eu ficava na casa da minha madrinha Suzana Sepúlveda, que ficava juntinho da Praça São José, a praça da matriz. Aí, a todo momento, eu ia para a pracinha chupar picolé, ou passear, fofocar, ver os amiguinhos e ou então ia para curtir a beleza e o ventinho gostoso da pracinha. Quer mais, bonitinho? (tempo bom, que não volta mais, já bem dizia a musiquinha na época).
Esses dias aqui, que estou num condomínio reservado da Pituba, tem me feito lembrar muito do interior pela calmaria e sossego. O que demonstra que Salvador é uma cidade especial com atrativos, com emoção para todos os visitantes.
De repente, você descobre um lugar, um cantinho sedutor, um ponto na praia que lhe transporta para a infância, para uma lembrança afetiva, um namorado perdido lá na adolescência, quiçá um namorado que você roubou da colega, sei lá, essa vida é maravilhosa.
Mas se bobear, eu ainda roubo um gatinho pra um chamego. Não morri ainda não, fifo, tô vivinha da silva, he-he. Se der sopa, nós entorta e carrega o gatinho, já bem diz o povinho sábio da minha terra).
Já que estamos tratando deste assunto, encontrei aqui uma receita de galinhada para seis pessoas. É uma publicação de Guilherme Radel, que disputa com Elíbia Portela um lugar na cabeceira da minha cama. O volume, A Cozinha Sertaneja da Bahia – As origens, a evolução e as receitas da cozinha sertaneja baiana – traz delicias que eu já nem lembrava. E como somos baianos, e entendemos de namoros, paqueras e outras transas, vamos colocar o avental, rumo à cozinha para seduzir o amorzinho. Apetites preparados?
Galinhada (para matar saudade)
Ingredientes:
-- Uma galinha caipira
-- 250g de arroz
-- Uma folha de louro
-- Suco de dois limões
-- 4 colheres de óleo
-- 2 pimentões maduros em tiras
-- 2 tomates maduros em rodelas e 1 tomate picado
-- 3 dentes de alho
-- 1 cebola média cortada em rodelas
-- 1 cebola picada
-- 3 rodelas picadas de pimentão
-- 3 galhos de hortelã.
-- 3 pitadas de pimenta do reino
-- 2 cebolinhas picadas
-- Sal e vinagre.
Modo de preparar
1 - Limpar, lavar e esfregar a galinha com suco de limão e depois cortá-la em pedaços pelas juntas. Aquecer bem o óleo numa panela.
2 - Socar bem os temperos no sal e vinagre, juntar a cebola e os tomates, os pimentões maduros cortados em tiras e os temperos socados, e refogar tudo no óleo aquecido;
3 - Juntar com a galinha, refogar e deixar corar;
4 - Acrescentar o arroz, refogar e deixar frigir até dar cor;
5 - Adicionar água fervente ao refogado e deixar cozinhar em fogo forte, reduzindo depois ao fogo brando, com a panela tampada.
Servir a delícia, que não precisa de guarnição nem acompanhamento, sentando para comer com a família, aguardando os abraços carinhosos pelo trabalho, pela comida maravilhosa que veio para a mesa. Bom apetite!