Cinema

Filme Feminino Plural, realizado durante a ditadura militar, entra no catálogo da Itaú Cultural Play  

De Vera de Figueiredo, filme coloca em cena temas da agenda feminista que agitava o Brasil e o mundo nos anos 1970

Foto: Itaú Cultural Play
Feminino Plural

No dia 31 de março (sexta-feira), os filmes Feminino plural (1976), de Vera de Figueiredo, e Waldemar Cordeiro – Fantasia exata (2021), de Analivia Cordeiro, entrou no catálogo da Itaú Cultural Play.

A primeira produção é experimental, de vanguarda e pioneira em levantar a agenda feminista no cinema brasileiro. Não é um filme convencional. Os atores são dispostos diante da câmera e dirigidos em suas ações, representando a insatisfação com o Estado e com a condição feminina. 

A segunda, reconstrói a trajetória do crítico de artes, fomentador cultural, paisagista e urbanista Waldemar Cordeiro (1925-1973), uma das figuras centrais da arte brasileira do século XX, explorador de diversas correntes artísticas, do concretismo à arte digital.  

Vanguardismo 

Com o clássico Feminino plural, Vera sacudiu os ânimos da juventude carioca e as plateias do Festival de Cannes em 1977, quando foi lançado. Alegorias, performances inesperadas e planos incomuns são as marcas do longa-metragem radicalmente autoral. A obra é um trabalho expressionista de quem carregou a difícil missão de fazer arte ainda sob o efeito da ditadura. O filme foi criado e lançado no circuito cultural brasileiro em meio ao processo de abertura política.  

No enredo, um grupo de mulheres sai dirigindo motocicletas pela Via Dutra, no Rio de Janeiro, rumo à Baixada Fluminense. Passam por zonas populares da cidade de Belford Roxo até chegar a uma casa no meio do mato, onde se reúnem a outras mulheres e crianças, em uma alegre comunidade. Lá, desfrutam de um banquete regado a feijoada, em clima de ritual e festa. 

De acordo com a pesquisa Imagens da Ditadura civil-militar brasileira em Feminino Plural (1970) – filme de Vera de Figueiredo, de Alcilene Cavalcante, doutora em Letras e estudos Literários, pela Universidade Federal de Minas Gerais, dois trabalhos desenvolvidos pela cineasta marcaram a elaboração do longa-metragem. Um deles, é o documentário, curta-metragem, em35 mm, Artesanato do Samba, cujo roteiro é de sua autoria, com produção e direção compartilhada com Zózimo Bulbul, morto e 2013 aos 75 anos. Nesta obra, o destaque é para os temas do samba e a questão étnico-racial. 

  O outro se refere ao trabalho realizado em 1975, na companhia de Klaus Viana, quando Vera acompanhou testes com mulheres de mais de 45 anos, sem experiência teatral, para compor o elenco da peça Alzira Power. Na ocasião, ela se deparou com assuntos relativos à opressão das mulheres, que as entrevistadas para a peça relataram vivenciar em decorrência da condição específica de gênero. A partir disso, decidiu produzir Feminino Plural. 

Arte na tela 

O filme-conceito Waldemar Cordeiro – Fantasia exata faz inventário da obra do pioneiro da arte computacional no Brasil e um dos primeiros a usar esta linguagem internacionalmente. Produzido durante a pandemia de Covid-19, foi idealizado pelo seu neto, Gregoire Cordeiro Belhassen, e dirigido por Analivia Cordeiro, filha do artista.  

Com narrativa cronológica, o filme resgata todos os aspectos que permeiam a história de Cordeiro, desde a infância passada na Itália, onde nasceu em 1925. A compreensão da produção artística dele vem entrelaçada a fatos da época, abordada seja pelo aspecto sociológico, histórico ou por meio da trilha sonora, composta exclusivamente para o documentário. 

A produção se destaca pelo tom educativo e pela quantidade de informações, com imagens captadas on-line tanto no Brasil quanto no exterior. “A elaboração deste roteiro foi complexa”, afirma a diretora. “A ideia inicial é do Gregoire, mas como ele mora no exterior, e viagens eram proibidas (na pandemia), eu acabei fazendo o roteiro sozinha. Foi um momento de profunda introspecção e, ao mesmo tempo, de seleção de documentos históricos.” 

Waldemar Cordeiro – Fantasia exata recebeu Menção Honrosa no Florence Film Awards, na Itália, e conta com participações de peso em seu elenco. Combina registros fotográficos a depoimentos de artistas, como o poeta Augusto de Campos, e análises de historiadores como Maria Luiza Tucci Carneiro. Dos familiares, falam Luiz Alberto Cordeiro, irmão de Waldemar, e a própria Analivia. 

Dos especialistas na obra de Cordeiro espalhados pelo mundo, participam Heloísa Espada, Givaldo Medeiros e Fernando Cochiaralle, do Brasil; Adele Nelson e Rachel Price, dos Estados Unidos; Margit Rosen, da Alemanha; e Darko Fritz, da Croácia. Por conta do seu pioneirismo na arte computacional, traz, ainda, depoimento do especialista em tecnologia Demi Getschko. Já pela conexão do seu trabalho com a ciência, participa o médico neurologista André Macedo, que explica como os olhos e o cérebro interpretam as cores.  

Em 2013 o Itaú Cultural realizou a exposição homônima ao filme, Waldemar Cordeiro – Fantasia exata, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Arlindo Machado. No site da instituição está disponível um vasto material sobre a mostra e a versão virtual do catálogo produzido a partir da mostra: 

https://www.itaucultural.org.br/secoes/noticias/catalogo-waldemar-cordeiro-fantasia-exata 

 

Itaú?Cultural?Play  

Em?www.itauculturalplay.com.br? 

Feminino plural (1976) 

De Vera de Figueiredo 

Duração: 72 minutos 

Classificação indicativa: 14 anos (drogas lícitas, nudez e violência) 

 

Waldemar Cordeiro - Fantasia exata (2021) 

De Analivia Cordeiro 

Duração: 67 minutos 

Classificação indicativa: 12 anos (drogas lícitas e violência)