A Argentina abre as celebrações dos seus primeiros 40 anos de democracia desde o fim da ditadura com o Fórum Mundial sobre Direitos Humanos, que começa em Buenos Aires em 20 de março.
No evento organizado pelo Centro Internacional para a Promoção dos Direitos Humanos (CIPDH) da Unesco, são esperados mais de 20 mil participantes de 90 países, com um aumento das iniciativas que terão seu ápice na grande marcha da Praça de Maio em 24 de março, a data trágica do golpe militar de 1976, e o dia dedicado à Verdade e à Justiça pela memória dos cerca de 30 mil desaparecidos, que até hoje afetam a consciência do país.
Nascido como Fórum Social Mundial, a primeira edição do CIDPH foi realizada no Brasil em 2013, e depois no Marrocos. Em 2016, deveria ter ocorrido na Argentina, mas por conta do governo da época (a centro-direita liderada por Mauricio Macri), não foi concretizado.
Mesmo com a pandemia de Covid-19, o projeto nunca foi abandonado e o 40º aniversário da democracia, que foi tão difícil de reconquistar, tornou-se a ocasião ideal, disse a acadêmica, ex-deputada e titular do CIPDH, Fernanda Gil Lozano.
E, em um ano intenso e cheio de marcos para a Argentina, no qual também completam-se os 20 anos da decisão do governo progressista de Nestor Kirchner de cancelar as "leis Alfonsin" - a chamada "Obediência devida" e a "Ponto Final" - reiniciando os processos contra os militares - o governo do presidente Alberto Fernández (centro-esquerda) decidiu focar no evento. O Executivo, de fato, é um dos coorganizadores ao lado de 70 organizações governamentais e da sociedade civil.
Esse fórum "reforça a Argentina como Estado: o país poderá mostrar ao mundo o que conseguiu fazer e, ao mesmo tempo, poderá aprender" com outras experiências, disse o secretário de Direitos Humanos, Horacio Pietragalla Corte, neto número 75 encontrado pelas Avós da Praça de Maio - e que esteve entre as centenas de crianças roubadas das famílias durante a ditadura.
Entre os assuntos que serão debatidos, há também espaços dedicados ao ambiente, ao desenvolvimento sustentável, à luta contra a xenofobia e ao racismo. Temas que já foram em parte debatidos em uma série de fóruns preparatórios em vários países do mundo. "É importante nos reunir em um momento no qual há tanta guerra e violência e onde, depois da pandemia, os pobres estão mais pobres e os ricos mais ricos", finaliza Gil Lozano.