Cinema / Televisão

Confira a resenha do filme O Menu

No criativo texto de Bruno Passos

Foto: Divulgação
O Menu

Entrada

Para abrir os sentidos, o filme “O Menu” (disponível no Star + desde 18/01/2023) inicia atiçando a nossa curiosidade. Uma experiência gastronômica vai acontecer, é cara, pomposa, ritualística, teatral e só uma nata bem endinheirada vai ter acesso a esse evento, que fica numa ilha e tem uma agenda muito bem organizada para acontecer. Os personagens são apresentados e temos uma prévia saborosa daquele momento e todo o potencial fica à mostra.  

Prato Principal 1

Com as papilas gustativas já estimuladas e prontas para uma experiência mais forte e sensorial, a narrativa agora avança e os participantes (pelo menos a maioria deles) encontram o que estavam buscando: Uma experiência moderna, arrogante, elitizada e exclusiva. Seja para atender aos sentidos, seja para movimentar as redes sociais, ou para preencher suas vidas vazias e, de tão superficiais, incapazes de sentir um novo prazer real e significativo emocionalmente.

Já deu para ver que esse menu vai bem além de matar a fome. Então nesse momento é servido um dos principais trunfos do filme. A Tensão.  Quando o personagem do Chef aparece, aí sim o filme alcança outro tom. Interpretado por Ralph Fiennes com intensidade (se você achava ele cruel lá em Harry Potter, espera só para vê-lo aqui), o Chef obcecado consegue transmitir desconforto desde o primeiro momento.

Prato Principal 2

Agora, após apreciar essa tensão, uma nova experiencia é apresentada. Mais um fator que engrandece o filme: A crítica. No caso aqui é sobre a alta culinária, mas o que é dito aqui pode ser aplicado a qualquer tipo de arte. Isso me leva a refletir até sobre os críticos de cinema que se acham acima dos filmes que analisa, e não um amante da arte que tenta aprofundar e compartilhar a experiência. A arte não deveria ser menor por ser popular e uma experiência artística (ou gastronômica no caso) só por ela ser exclusiva a uma certa classe social não deveria determinar o seu valor.  

Nesse momento o seu paladar já está habituado ao que é esse cardápio e agora é possível aproveitar o desenvolvimento dessa mensagem que é apresentada em diversas camadas e depende da nossa disposição para desfrutar e apreciar as nuances de cada sabor. Em determinado momento, um personagem diz “vocês são a minha ruína” e essa frase é um resumo dessa crítica que está sendo apresentada. Como se sentiria o artista quando a sua obra fica tão “gourmetizada”, tão elitizada que não causa mais nenhuma sensação verdadeira, essa arte é consumida por pessoas que não estariam de coração aberto para recebê-la e sim preocupados com o status, com a exclusividade que essa experiência ofertaria.

Sobremesa

Os personagens, nesse ponto, já foram todos apresentados e as características em comum já foram servidas e degustadas. Cada um dos participantes do evento proporcionado pelo restaurante Hawthorne vai soltando suas camadas e o menu vai sendo preenchido. Temos aqui uma Crítica de gastronomia, insuportável na pedante, que carrega consigo um acompanhante puxa saco que parece só ter opiniões que agradem a chefa; Um casal de milionários que são confrontados pelo chef sobre a seu real objetivo de estar ali; Um trio de executivos que mais parecem crianças milionárias dentro de um parque de diversões exclusivo; Um ator decadente lutando para ser relevante e um casal formado por um obcecado pelo local (interpretado por Nicolas Holt, ótimo como sempre) e sua companheira Margot (Ana Taylor-Joy) que funciona como os olhos do público, ao estranhar todo aquele circo.   

Cafezinho

Para fazer a digestão dessa intrigante história, nada como uma boa reflexão e, para isso, lembrei muito de um outro personagem de um outro filme que também tem a gastronomia como um dos pontos focais, o crítico de gastronomia “Anton Ego”, de “Ratatouille” (disponível no Disney +), que tem uma fala deliciosa num determinado momento: “eu amo comida, por isso não engulo qualquer coisa”. E esse personagem, ao final do filme se dá conta do real sentido do que é saborear uma boa comida, assim como podemos também expandir o conceito de apreciar a arte e sentir as emoções que essa nos proporciona, já que essa é a sua razão de existir.