Chico Liberato
A morte do desenhista, pintor, escultor, gravador, cineasta e designer gráfico Chico Liberato foi confirmada por sua filha Candida Luz, nesta quinta-feira (5 de janeiro).
Ele era casado com a roteirista e poetisa Alba Liberato, com quem teve cinco filhos, entre os quais a atriz Ingra Liberato.
Francisco Liberato de Mattos teve a infância marcada por muita liberdade e aventuras na grande propriedade da família, no Recôncavo Baiano. Entretanto, perdas materiais dos familiares o distanciaram da vida ao ar livre e dos estudos, ainda adolescente, para contribuir com o sustento da mãe e irmãos.
Chico trabalhou em estabelecimentos comerciais em Salvador, ao tempo em que frequentava galerias e ateliês, alimentando o interesse por traços, formas e cores que, desde sempre, o inundara.
Atraído por um convite para trabalhar na extração de borracha no sul da Bahia, passou um ano e meio embrenhado na mata, em intenso contato com a natureza e convivência com indígenas da região. Finda a experiência, decide se mudar para o Rio de Janeiro e fazer seu caminho de expressão pela arte.
Frequenta cursos livres de arte e encontra linguagem própria, dando forma a materiais diversos que transmitem seus talentos e inquietações. As primeiras manifestações são de denúncia: imagens de crianças em miséria absoluta, chamando a atenção para o problema da fome no Nordeste.
O trabalho de Chico Liberato se integra ao de renomados artistas e surgem convites para participar de exposições e representar o Brasil na Bienal do Jovem em Paris. Com todos os ventos soprando a favor de uma carreira no sudeste do país, ele faz o movimento contrário e decide retornar às origens. A motivação veio do amigo Juarez Paraíso: ajudar na realização da I Bienal de Arte da Bahia.
Seu trânsito no meio artístico nacional facilitou articulações que asseguraram a presença de nomes consagrados da época. O êxito do evento tirou Salvador do provincianismo cultural e pavimentou caminho para a realização da II Bienal, em 1968, interrompida pela ditadura militar.
O regime dificultou as atividades artísticas no país, o que levou Chico a se dedicar às artes gráficas para sobreviver. Pinta pouco e custeia suas experimentações na linguagem de animação, sem deixar de criar formas alternativas de expressão e resistência.
Um convite para dirigir o Museu de Arte Moderna da Bahia o coloca por doze anos à frente da instituição, função de que se vale para botar em prática suas ideias de acessibilidade às artes, fazendo do museu espaço de formação e apropriação cultural.
A arte de Chico já havia se expandido para a tridimensionalidade, com a produção de objetos e esculturas, e o domínio do movimento se exercitava a cada curta metragem que produzia. Foi quando se deu o encontro com a lenda do Boi Incantado e Aruá, que resultou no longa de animação que fez história na cinematografia brasileira, acumulando prêmios nacionais e internacionais.
Ele expôs pela primeira vez em 1963, na Galeria Goeldi, no Rio de Janeiro. Teve destacada participação no movimento cultural que envolveu vários artistas na década de 1960 em Salvador. Participou de diversas exposições coletivas, como a I Bienal de Artes Plásticas da Bahia em 1966, e Bahia Década 70 – no Instituto Goethe. Realizou também diversas mostras individuais, no Brasil e no exterior.
Pioneiro do cinema de animação na Bahia, produziu o terceiro filme de animação de longa metragem feito no Brasil - Boi Aruá (1983), que documenta o cotidiano do Nordeste do Brasil, mais especificamente do sertão caatingueiro, através do mito do Boi Aruá. O filme foi premiado pela Unesco. Entre os temas principais dos trabalhos de Chico Liberato estão o sertão e o sertanejo, a arte popular e as figuras místicas presentes no candomblé.
Filmografia
-- Ementário (1972)
-- Antístrofe (1973)
-- O que os olhos vêem (1973)
-- Deus não está morto (1974)
-- Caipora (1974)
-- Pedro Piedra (1976)
-- Eram-se opostos (1977)
-- Muçagambira (1982). Melhor Filme Baiano na XXI Jornada Brasileira de Curta-Metragem
-- Boi Aruá (1983). Prêmio UNESCO como Referência de Valores Culturais para Infância e Juventude
-- Carnaval (1985). Prêmio Concine.
-- Um Outro (2008)
-- Ritos de Passagem (2013)
-- Amarílis (2015)
Exposições individuais
-- 1964 - Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador.
-- 1965 - Galeria Convivium, Salvador.
-- 1966 - Galeria Bonino, Rio de Janeiro
-- 2005 - Conjunto Cultural da CAIXA, Salvador. Exposição de pinturas e de animação: Chico Liberato 40 Anos.
-- 2008 - Cebrac, Zurique. Beleza tupiniquim.
Exposições coletivas
-- 1963 - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
-- 1964 - Artistas da Bahia, na Sociedade dos Artistas Plásticos, Belo Horizonte
-- 1964 - Opinião 66, no MAM, Rio de Janeiro
-- 1964 - Opinião 66, no MAM/BA, Salvador
-- 1964 - Opinião 66, no Masp, São Paulo
-- 1966 - Rio de Janeiro RJ - Opinião 66, no MAM/RJ
-- 1966 - Ponto de Vista, na Galeria Convivium, Salvador
-- 1966 - 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas, Salvador
-- 1967 - Biennale de Paris - Coletiva de Artistas Brasileiros
-- 1967 - 9ª Bienal Internacional de São Paulo. Fundação Bienal de São Paulo.
-- 1968 - 2ª Bienal Nacional de Artes Plásticas, Salvador
-- 1971 - 28º Salão Paranaense, na Biblioteca Pública do Paraná, Curitiba
-- 1975 - Feira da Bahia, Salvador
-- 1981 - 4º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM do Rio de Janeiro
-- 1983 - Artistas Contemporâneos da Bahia, no MAC/USP
-- 1984 - 9º Salão Nacional de Artes Plásticas, Fortaleza
-- 1994 - 1º Salão MAM-Bahia de Artes Plásticas, no MAM/BA
-- 1998 - Bahia à Paris: arts plastiques d´aujourd´hui, Galerie Debret, Paris
-- 1998 - Tropicália 30 Anos: 40 artistas baianos, no MAM/BA, Salvador
-- 1999 - Arte-Arte Salvador 450 Anos, na Fundação Cultural de Curitiba. Solar do Barão
-- 1999 - Arte-Arte Salvador 450 Anos, no Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro
-- 1999 - 100 Artistas Plásticos da Bahia, Museu de Arte Sacra, Salvador
-- 1999 - Arte-Arte Salvador 450 Anos, no MAM, Salvador
-- 2001 - 20º Salão Arte Pará, no Museu do Estado do Pará, Belém