Nesta terça-feira (25/10), no Provoca, Marcelo Tas conversa com o escritor brasileiro Itamar Vieira Junior, autor do premiado romance Torto Arado. Na entrevista, eles falam sobre o que é Brasil profundo, o mito da democracia racial, polarização e muito mais. Vai ao ar na TV Cultura, a partir das 22h.
Tas pergunta na edição o que é o tal do Brasil profundo. “Eu gosto dessa expressão, talvez pela carga enigmática que tem nela. Não é aquilo que está na TV, que é apenas exaltado, mas são as vidas, as pessoas que ainda estão invisibilizadas e que têm uma potência criativa e de vida que podem explicar esse país (…) Ao chegar no campo, você vê a modernidade e a vulnerabilidade coabitando no mesmo lugar, isso mostra o que ainda há para fazer e o que foi a história desse país. Eu acho que é nesse espaço que a gente conhece esse Brasil em profundidade”, explica o escritor.
Outro assunto abordado no programa é o mito da democracia racial, de brancos, pretos e indígenas vivendo em harmonia. “Havia um interesse de conciliar o país de uma maneira muito superficial, incutindo isso na educação das pessoas, que éramos uma democracia racial, e a gente sabe que não é (...) basta olhar os dados oficias do Estado, pessoas negras, pardas, indígenas na base da pirâmide, em todos os sentidos, são os mais encarcerados, os que estão desempregados em maior quantidade, que recebem menores salários, que tem menos tempo de educação, ou seja, isso não pode ser uma democracia racial”, comenta Itamar.
Para ele, isso também está ajudando para que o país se eduque de alguma forma. “Aqueles que defendem a opressão parecem ser minoria, a capacidade que temos de trocar experiências, de sentir compaixão pelo outro, dor, sofremos por coisas parecidas, a capacidade de sofrer é universal, ela independe de onde você está, ou seja, parece que ao reconhecer isso, de alguma maneira, a gente se educa e começa a refutar tudo isso”, afirma Vieira Junior.
Tas pergunta ainda ao escritor se depois desse trauma de polarização que vivemos em tempos recentes, se vamos conseguir ouvir as pessoas que a gente estava desprezando até agora há pouco. “Eu não tenho resposta, mas eu gostaria muito que a gente tivesse essa capacidade de transpor diferenças, é claro que tudo tem um limite". E qual o limite?, indaga Tas. “Quando o que você defende se revela uma barbárie para os valores humanos, quando o seu direito significa a supressão do direito do outro, aí encontramos um limite para a convivência (...) precisamos pensar maneiras de conciliar interesses, de viver em sociedade, e eu acredito que essa história ainda será construída por todos nós”, diz Itamar.