Cinema

Documentário Sociedade do Medo estreia nesta quinta nos cinemas

O filme é uma reflexão sobre a epidemia do medo que assola a humanidade

Foto: Divulgação
Documentário

Longa-metragem que encerra a “Trilogia da Catarse”, composta por documentários desenvolvidos, roteirizados e dirigidos pela cineasta Adriana L. Dutra, “Sociedade do Medo” estreia dia 20 de outubro nos cinemas.

O filme é uma reflexão sobre a epidemia do medo que assola a humanidade, potencializada por um sistema que, historicamente, manipula as massas a partir da propagação do pânico e da insegurança.

Assim como em seus dois primeiros longas (“Fumando Espero”, de 2009, e “Quanto Tempo o Tempo Tem”, de 2015), Adriana L. Dutra compartilha com o espectador questões existenciais, com o objetivo de pensar assuntos sensíveis e universais que afetam o homem contemporâneo. A produção teve sua primeira exibição no Festival do Rio.

Em Tóquio, Nova York, Los Angeles, Londres, Paris, Amsterdam e outras cidades, a documentarista entrevista especialistas de diferentes realidades socioculturais.

Os professores David Carrol e Jason Stanley, os filósofos Francis Wolff e Cyrille Bret, o historiador Marcelo Jasmin, os sociólogos Frank Furedi, Barry Glassner e Paula Johns, o padre Júlio Lancellotti, o escritor e filósofo indígena Ailton Krenak, a jornalista Flávia Oliveira, o físico Amit Goswami, a vereadora Benny Briolly, a pesquisadora Ivana Bentes, a professora Tamsin Shaw, a economista Linda Yueh, a deputada federal Talíria Petrone, entre outros, dão seus depoimentos sobre variadas vertentes do medo.

Todos concordam que o medo é e sempre foi o mais potente instrumento de poder. E, ao longo da História, a maior arma de figuras autoritárias para fazer as sociedades acreditarem que precisam de um líder forte.

Padre Júlio Lancelotti critica o uso da religião para gerar medo: "Isso é a anti-religião, isso é a manipulação ideológica da religião para manter o poder”, aponta. A jornalista Flávia Oliveira avalia a presença do medo no maniqueísmo do bem e o mal e destaca que “se você acha que o outro por ser diferente te ameaça, se você não enxerga igualdade nas diferenças, nas nuances, você combate. E o medo é um instrumento de combate muito eficiente”.

A Trilogia da Catarse teve início em 2009 com o longa “Fumando Espero” (disponível na plataforma de streaming www.inff.online), quando a documentarista virou cobaia em seu próprio filme ao narrar a luta contra o cigarro. O projeto começou como um interesse pessoal e transformou-se em pesquisa sobre a dependência química e psicológica da nicotina.

O longa foi exibido na 32º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Em 2015, no premiado “Quanto Tempo o Tempo Tem” (disponível na Netflix), Adriana percorreu diferentes cidades do mundo e debruçou sua pesquisa na percepção do tempo ter se tornado mais acelerado e analisou as novas tecnologias e a globalização, aliadas à produção constante de informação e conteúdo.

Em “Sociedade do Medo”, Adriana partiu para conversar com personalidades e analisar o momento em que vivemos, assustados. As filmagens começaram presencialmente antes do início da pandemia do Covid-19, em 2020, e seguiram remotamente depois que o caos foi deflagrado e o medo, unificado.

Conforme a diretora afirma (na narração em off), o medo é um potente instrumento de poder: “Esse meu medo é um medo desorientado, diferente do medo orgânico, aquele que me protege contra o perigo.

Esse medo que sinto parece ser um medo fabricado, forjado por alguém, como se o medo tivesse sido institucionalizado”, diz. Além de ter sido atravessado pela pandemia do Coronavirus, a produção presenciou outro episódio histórico que gerou mais uma onda indiscriminada de pavor quando, durante a finalização do documentário, a Rússia declarou guerra à Ucrânia.

Todos que possuem consciência têm medo e o medo de morrer é constituído de duas emoções opostas: a certeza de que vamos morrer e a incerteza de como e quando isso vai ocorrer.

E, apesar do medo da morte, a espécie humana não parece estar preocupada com o consumo desenfreado que causa as mudanças climáticas, como pontua o filósofo indígena Ailton Krenak. Ele faz uma análise lúcida e realista sobre os tempos atuais: "Se os humanos desaparecerem, a Terra continua, ela não precisa de nós.

A gente podia pensar nisso como uma coisa maravilhosa: a gente não faz falta. Mas os humanos se dão importância demais. Isso se chama especismo -- que conclui que uma espécie pode dominar todo o planeta". Mas Krenak encerra a reflexão com uma dica valiosa: “A gente tem que ser radicalmente vivo. Esse é o melhor antídoto contra o medo”.

“Sociedade do Medo” é produzido pela Inffinito, em coprodução com Canal Brasil, GNT, GloboNews e Globo Filmes. A distribuição é da Forte Filmes.

Sinopse

Sociedade do Medo aborda a pandemia de medo que assola o homem contemporâneo. A diretora Adriana L. Dutra investiga a construção da sociedade pela ótica do medo, a sua presença ao redor do mundo e discute o tema com personalidades e especialistas.

O documentário propõe uma reflexão crítica, buscando as origens de uma sociedade absorta em seus medos e, consequentemente, no consumo feroz de possíveis paliativos que contribuem para nos levar à solidão e à barbárie. Documentário. 76 minutos.

Personagens 

David Carroll - Nova York - Professor/The New School - NYC

Francis Wolff - Paris - Filósofo e Escritor

Marcelo Jasmin - Rio de Janeiro - Historiador e Cientista Político

Frank Furedi - Londres - Sociólogo e Escritor

Cyrille Bret - Paris - Filósofo

Júlio Lancellotti - São Paulo - Padre

Ailton Krenak - Rio Doce - Minas Gerais - Escritor e Filósofo Indígena

Flávia Oliveira - Rio de Janeiro - Jornalista

Amit Goswam - Eugene | Oregon - Físico e Escritor

Jason Stanley - New Haven | Connecticut - Escritor e Professor de Filosofia - Yale University

Benny Briolly - Niterói - Vereadora

Erick Felinto - Rio de Janeiro - Escritor e Professor - UERJ

Paula Johns - Rio de Janeiro - Socióloga e Ativista

Ivana Bentes - Rio de Janeiro - Pesquisadora e Professora - UFRJ

Tamsin Shaw - Nova York - Professora - New York University

Linda Yueh - Londres - Economista e Escritora

Barry Glassner - Los Angeles - Sociólogo e Escritor

Adriana L. Dutra - Rio de Janeiro - Diretora e Roteirista

Tatiana de Souza - Nova York - Produtora

Yuka Tanaka - Tóquio - Cineasta

Tamara Pekelman - Londres - Consultora

Luciana Clark - Amsterdã - Técnica de Informação

Claudia Castello - Los Angeles - Editora

Talíria Petrone - Rio de Janeiro - Deputada Federal

Ficha técnica 

Direção, Roteiro e Narração - Adriana L. Dutra

Produção - Cláudia Dutra e Adriana L. Dutra

Produção Executiva - Cláudia Dutra

Direção de Fotografia - Maritza Caneca, ABC

Argumento - Adriana L. Dutra e Renato Martins

Montagem - Renato Martins

Videografismo e Animação - Felipe Nogueira

Trilha Sonora Original - Igor Araújo

Som Direto - Pedro Moreira

Coordenação de Produção - Alessandra Alli