Bollywood é o nome que vem da fusão de Bombaim e Hollywood. Bombaim é onde se concentra a maior indústria do cinema indiano, mas o termo acabou sendo utilizado para nomear todo o cinema desse país. Essa indústria é a maior do mundo, produzindo mais de dois mil filmes por ano, vendendo cerca de 3,6 bilhões de ingressos e batendo as produções internacionais. O cinema de Bolywood é popular, lota as salas de cinema com muita música, dança, ação, drama... ou seja, tudo junto.
Essa brevíssima introdução sobre Bollywood foi só para dizer que eu assisti “RRR – Revolta, Rebelião, Revolução” (disponível na Netflix), que se trata de uma produção de “Tolywood” (segmento do cinema indiano dedicado a produção de filmes na língua Telugu) e fui muito surpreendido positivamente.
O enredo se inspira na história de dois líderes rebeldes que provavelmente não se conheceram na vida real e fizeram parte da história da independência da Índia. O filme trata esses homens como lendas e o que eu mais lembro é que em determinado momento um guerreiro desses prende uma onça numa armadilha e segura ela no braço, além de dar um rugido em sua cara... o que eu quero mais de um filme de ação? Rambo não chega no chinelo desses heróis indianos.
Fiquei pensando em qual adjetivo usar para definir esse filme como um todo e cheguei à uma conclusão que não faz lhe justiça, mas dá uma boa ideia: “Exagerado”! Mas um bom tipo de exagero, daquele tipo que faz o espectador vibrar, como quando um dos heróis para uma moto no pé, pega o mesmo veículo com as mãos e usa como porrete. Peraí, isso é um filme de super-herói com poderes? Não, porém sim. E essa é a parte interessante, para criar cenas marcantes de ação o diretor abre mão de explicar tudo e se esbalda em explosões e entradas épicas (duvido ficar imparcial na cena de um caminhão invadindo uma festa e liberando uma penca de animais raivosos) ... tudo numa câmera lenta (marca registrada do filme) que deixaria Zack Snyder de queixo caído.
RRR não tem o menor medo de soar brega, porque ele não está amarrado à nenhuma convenção, nenhum formato, é um filme livre para alcançar as emoções que deseja. Tanto nas cenas de ação hiper estilizadas, como nos números de dança e musicais. Uma marca do cinema de bolywood é a música e em diversos momentos aqui isso está presente. Destaque especial para a cena da “Nacho Nacho Song”, na qual os protagonistas demonstram o excepcional vigor físico e talento, e ainda de quebra cria uma metáfora de resistência cultural e de luta contra a influência britânica.
A direção do indiano S.S. Rajamouli, também roteirista da obra, é virtuosa e sempre épica, deixando todos os acontecimentos com uma importância extra. As cenas de luta também são um espetáculo à parte, com muito capricho na coreografia e no já comentado exagero, o que rende cenas vibrantes como a de um oficial do exército que “mergulha” num mar de gente para perseguir um inimigo. E mesmo com o absurdo das cenas, é possível sentir o peso dos acontecimentos e realmente se importar com os protagonistas.
Então eu indico fortemente se despir de qualquer preconceito e viver a experiência de assistir a essa pérola na Netflix. São 3 horas de duração, mas que passam suaves e leves, pois se trata de um exercício cinematográfico apaixonado e sem limites. Uma excelente pedida.