Ciência

Nasa prepara retorno à Lua

Lançamento não tripulado já tem três datas prováveis

Astronautas de volta à Lua, em uma ilustração da Nasa

O lançamento da missão da Nasa de retorno à Lua já tem três possíveis datas: 29 de agosto, 2 de setembro e 5 de setembro. E, para alimentar a expectativa pela aventura espacial, a agência americana divulgou até um trailer da missão.

O vídeo exibe lançamentos do foguete Space Launch System (SLS) e simula a desconexão da cápsula Orion.

A missão Artemis I, a primeira não tripulada do programa de retorno à Lua, será um passo essencial, na visão da Nasa, para estabelecer presença humana duradoura na Lua. Enquanto isso, a agência se prepara também para dar um salto ainda maior, até Marte.

A missão, que deve durar até seis semanas, será a primeira a utilizar de forma integrada os dois sistemas criados para a exploração de regiões mais distantes do espaço: o foguete vai lançar a cápsula a uma distância jamais percorrida por uma espaçonave tripulada, e ela orbitará a Lua por mais tempo do que qualquer outra nave já esteve no espaço sem estar acoplada a uma estação espacial.

As temperaturas suportadas e a velocidade atingida no retorno também serão inéditas, o que pode fornecer dados importantes para o desenvolvimento das próximas missões.

O lançamento vai ocorrer no Centro Espacial Kennedy, na Flórida. A previsão é que a missão Artemis II seja enviada em 2024, com uma cápsula já tripulada. Em 2025, será a vez da Artemis III, que pousará, por fim, na Lua.

Há um mês, a missão realizou um ensaio no Centro Espacial Kennedy que consistiu em encher tanques de combustível e fazer contagem regressiva. O plano teve de ser abreviado após ser detectado um vazamento de hidrogênio no foguete.

Estação Espacial

A Rússia anunciou nesta terça-feira, 26, que deixará de operar na Estação Espacial Internacional (ISS) após o fim de seu compromisso no final de 2024 e se concentrará na construção de seu próprio posto em órbita. O pronunciamento foi feito durante uma reunião entre o chefe da agência espacial russa Roscosmos, Yuri Borissov e o presidente russo, Vladimir Putin. A Nasa disse que não recebeu uma notificação formal sobre a saída. A medida pode levar ao fim duas décadas de cooperação no espaço entre Estados Unidos e Rússia.

"Nós certamente cumpriremos todas as nossas obrigações para com nossos parceiros" da ISS, declarou Borissov, durante a reunião televisionada com Putin. "Mas foi tomada a decisão de deixar esta estação depois de 2024", disse ele.

"Acredito que então começaremos a criar a estação orbital russa, que será a principal prioridade" do programa espacial nacional", continuou. "O futuro dos voos tripulados russos deve se basear, sobretudo, num programa científico sistêmico e equilibrado para que cada voo nos enriqueça com conhecimentos na área espacial".

A declaração de Borisov reafirmou falas anteriores de autoridades espaciais russas sobre a intenção de Moscou de deixar a estação espacial após 2024, quando os atuais acordos internacionais para sua operação terminarem. Autoridades russas discutem deixar o projeto desde pelo menos 2021, citando equipamentos antigos e crescentes riscos de segurança.

A Nasa e outros parceiros internacionais esperam manter a estação espacial funcionando até 2030, quando devem aposentá-la, mas os russos relutam em assumir compromissos além de 2024. Procurada, a agência especial americana disse que não recebeu uma notificação oficial dos russos.

Robyn Gatens, diretora da Nasa responsável pela estação, disse que a ideia é manter a ISS até 2030 e depois e passar trabalhar com estações espaciais comerciais. Perguntada se ela queria o fim das relações espaciais EUA-Rússia, ela respondeu: "De jeito nenhum". "Eles têm sido bons parceiros, assim como todos os nossos parceiros, e queremos permanecer juntos como uma parceria para continuar operando a estação espacial ao longo desta década", disse ela.

Impacto das sanções

Embora já houvesse um desejo anterior dos russos de se retirarem da ISS, o conflito na Ucrânia e a enxurrada de restrições econômicas do Ocidente parecem ter acelerado a retirada. No mês passado, o chefe anterior da Roscosmos, Dmitri Rogozin, disse que as conversas sobre o envolvimento russo após 2024 só eram possíveis se as sanções dos Estados Unidos contra a indústria espacial russa e outros setores da economia fossem retiradas.

Logo após as tropas russas entrarem na Ucrânia em fevereiro, o presidente americano, Joe Biden, impôs novas sanções contra a Rússia que pretendiam "degradar" o programa espacial do país. "Estimamos que cortaremos mais da metade das importações de alta tecnologia da Rússia. Isso será um golpe em sua capacidade de continuar a modernizar suas forças armadas. Isso degradará sua indústria aeroespacial, incluindo seu programa espacial", disse Biden na época.

Em resposta às sanções, Rogozin, conhecido por suas réplicas e uma rivalidade de anos no Twitter com Elon Musk, da Space X, ameaçou que a Rússia permitiria que a estação colidisse com a Terra. "Existe a possibilidade de uma estrutura de 500 toneladas cair sobre a Índia e a China. Você quer ameaçá-los com tal perspectiva? A ISS não sobrevoa a Rússia, portanto todos os riscos são seus. Você está pronto para eles?" Rogozin disse então.

A Roscosmos sob o comando de Rogozin também gerou polêmica quando postou fotos de seus três cosmonautas segurando as bandeiras de duas autoproclamadas repúblicas no leste da Ucrânia, onde a Rússia lançou sua invasão. O post marcou a captura de Lisichansk, a última cidade no que os separatistas pró-russos chamam de República Popular de Luhansk a cair nas mãos das forças russas, e foi legendado "um dia de libertação para celebrar tanto na Terra quanto no espaço".

O ato com as bandeiras e as aparentes tentativas da Rússia de usar o projeto como moeda de troca nos esforços para aliviar as sanções foram condenados pela Nasa.

"A Nasa repreende fortemente [a Rússia] por usar a Estação Espacial Internacional para fins políticos para apoiar sua guerra contra a Ucrânia, o que é fundamentalmente inconsistente com a função primária da estação entre os 15 países participantes internacionais para avançar a ciência e desenvolver tecnologia para fins pacíficos", a agência disse no início de julho. Mas a Nasa tentou manter a cooperação e buscou impedir que a guerra afetasse a parceria com a ISS, prometendo no início deste ano que o trabalho conjunto continuaria.

A estação espacial é administrada em conjunto pelas agências espaciais da Rússia, EUA, Europa, Japão e Canadá. A primeira peça foi colocada em órbita em 1998, e o posto avançado foi continuamente habitado por quase 22 anos. Ela é usada para realizar pesquisas científicas em gravidade zero e testar equipamentos para futuras viagens espaciais. Normalmente tem uma tripulação de sete pessoas, que passam meses a bordo, uma vez que orbita a cerca de 400 Km da Terra. Três russos, três americanos e um italiano estão agora a bordo.

O complexo, que tem o tamanho de um campo de futebol, consiste em duas seções principais, uma administrada pela Rússia, outra pelos EUA e outros países. Não ficou imediatamente claro o que terá que ser feito no lado russo do complexo para continuar operando com segurança a estação espacial depois que Moscou sair

A Rússia é responsável pelos sistemas críticos de controle de propulsão da estação espacial, que mantêm a ISS na órbita correta enquanto a gravidade da Terra a puxa lentamente para a atmosfera. O segmento norte-americano é responsável pelo fornecimento de energia. Não está claro se a ISS pode ser sustentada com um lado abandonando o projeto.

Com a empresa Space X de Musk agora transportando astronautas da Nasa de e para a estação espacial, a Agência Espacial Russa perdeu uma importante fonte de renda. Durante anos, a Nasa pagou dezenas de milhões de dólares por assento para viagens de e para a estação a bordo de foguetes russos.

Apesar das tensões sobre a Ucrânia, a Nasa e a Roscosmos fecharam um acordo no início deste mês para que os astronautas continuem pilotando foguetes russos e para os cosmonautas russos pegarem carona para a estação espacial com a Space X a partir deste outono. Mas os voos não envolverão troca de dinheiro.

O acordo garante que a estação espacial sempre terá pelo menos um americano e um russo a bordo para manter ambos os lados do posto avançado funcionando sem problemas, de acordo com autoridades russas e da Nasa.

Moscou e Washington cooperaram no espaço mesmo no auge da Guerra Fria, quando as espaçonaves Apollo e Soyuz atracaram em órbita em 1975 na primeira missão espacial internacional tripulada, ajudando a melhorar as relações EUA-Soviética.