Gina Marocci

A origem das festas de São João, São Pedro e São Paulo

Depois de santo Antônio é a vez de São João Batista ser homenageado com novenas, missas, procissões e muita festa por todo o Brasil. O dia 24 de junho festeja o nascimento do santo, que era seis meses mais novo que seu primo, Jesus. A iconografia deste santo o representa como um menino com um carneirinho (que representa o Cordeiro de Deus, Jesus), ou como adulto, um homem vestindo peles de animais, de olhar forte e austero. Mas, nas festas juninas, o povo prefere a imagem do menino, o São João do Carneirinho!

Trazidas para a América pelos colonizadores portugueses e espanhóis, as festas juninas coincidem com o solstício de verão, no hemisfério norte, e sempre tiveram relação com o mundo rural, com a semeadura e a colheita. Antes do Cristianismo, os povos da Europa festejavam a proximidade das colheitas e faziam sacrifícios de animais para afastar a esterilidade, as doenças pragas e a seca. O Cristianismo acolheu os rituais agrícolas e os transformou em festejos de gratidão pela boa colheita. A fogueira sempre esteve presente nesses festejos e a tradição cristã diz que foi a forma de Isabel, mãe de João, dar a notícia do nascimento dele a sua prima, Maria, mãe de Jesus.

Em Portugal há as festas populares e são festejadas com arraiais enfeitados com bandeirolas, barraquinhas com comidas típicas, como a sardinha assada, o caldo verde e o churrasco, muita música no bailaricos (bailes) e fogos de artifício. As quadrilhas também fazem parte das festas em Portugal, assim como brincadeiras e prendas ao redor da fogueira, o mastro com o estandarte do santo. A quadrilha teve origem na Inglaterra, em festas da corte, e depois foi incorporada à cultura francesa, também no século XIII. Rapidamente ela se tornou uma dança praticada nos salões entre a nobreza europeia. No Brasil, ela se popularizou no século XIX, por influência da corte portuguesa, e era executada nos ricos salões senhoriais na cidade e no campo. A dança era caracterizada pelos gestos cerimoniosos com, os braços e as pernas, e os pés não saíam do chão, bem diferente do que temos hoje por todo o Brasil (ainda bem!).

A festa de São João fundiu-se com a festa tupi do milho, antes celebrada em agosto, e em algumas aldeias a comunidade se reúne numa festa que pode durar vários dias. No Sudeste e no Nordeste, nas comemorações há comidas á base de milho: canjica, feita com milho seco despolpado e cozido; o curau, que é um creme de milho ralado; a pamonha, creme de milho cozido na água fervente e servido endurecido na casca de milho. Para beber, o cauim, feito com mandioca ou milho fermentado ou, então, o quentão feito de cachaça e gengibre. A batata doce e a mandioca, assadas ou cozidas também fazem parte do cardápio, assim como a paçoca de amendoim. No Sul, o pinhão também foi agregado ao banquete junino festejado com a dança típica da região, o fandango.

A contribuição dos povos africanos aos festejos juninos está mais presente no Nordeste. No Maranhão, a festa do bumba meu boi (Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade desde 2019), que envolve encenações, cânticos, danças, instrumentos musicais artesanais, é marcada pelo sincretismo entre o catolicismo popular e os cultos religiosos afro-brasileiros, como o Tambor de Mina e o Terecô, pois são venerados ao lado dos santos católicos os orixás, voduns e os encantados, que exigem um boi como obrigação espiritual. Outra contribuição de origem africana, que aqui sofreu influência da cultura indígena, e foi moldada nas serras do Quilombo dos Palmares ainda no século XVIII, é o coco de roda, uma dança cantada e acompanhada com batidas dos pés e é executada em pares, fileiras ou círculos.

No dia 29 é a festa de São Pedro e São Paulo, apóstolos considerados os pilares da Igreja Católica. A festa deles ocorre desde o ano 258 e é uma das mais antigas do calendário católico, no entanto, os festejos populares ficam voltados à figura de Pedro, o pescador, mas também o protetor das viúvas (porque a tradição considera que ele o era). São Pedro é representado como um homem idoso, que traz duas chaves, uma marrom que simboliza a Igreja terrena, visível, e outra prata, que representa o Reino dos Céus, e na outra mão ele carrega um livro, que representa a sua missão. Já São Paulo traz em uma mão o livro, que representa suas cartas, e não outra mão uma espada, em alusão ao seu martírio.

São Pedro é festejado com todas as manifestações comuns do período junino: arraiais, quermesses, fogueira e muita comida típica. A ele o povo faz orações pedindo chuva, promessas para conquistar a casa própria. É o padroeiro dos pescadores, que o homenageiam com uma procissão marítima, fluvial ou terrestre.

            As festas juninas se tornaram as mais tradicionais festas brasileiras. Nelas estamos representados nas danças, nas letras das músicas, numa riqueza de estilos sem par, e na culinária, que abraça toda a diversidade da formação do povo brasileiro, que une da forma mais bela a religiosidade com as manifestações populares, e faz dos terreiros enfeitados a união entre a casa e a rua.

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Para saber mais

PREZIA, B. As raízes indígenas das festas juninas. Disponível em:

<https://www.vidapastoral.com.br/edicao/as-raizes-indigenas-das-festas-juninas/>. Acesso em: 10 jun. 2022.

SANTOS, C. C. de F. Acordai João! É tempo de festa na Bahia

Disponível em: <http://www.bvconsueloponde.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=207>. Acesso em: 10 jun. 2022.

PRIORE, M. del. Histórias da Gente Brasileira. São Paulo: LeYa, 2016, v. 1,2 e 3.