Há quase duas décadas atrás o circuito sala de arte trouxe para as suas telas uma obra de arte do diretor sul coreano Kim Ki-Duk, cuja existência tomei conhecimento através dele: Casa Vazia.
Acompanhei algumas de suas obras a partir daí (primavera, verão, outono, inverno e...primavera em 2003, folego 2007, pietá, 2012) que nunca deixaram de surpreender tanto pela riqueza do conteúdo como pela estética cenográfica. Vale dizer que Kim Ki-Duk proveio de uma família operária e não recebeu nenhuma formação técnica como cineasta, tendo iniciado sua carreira aos 33 anos. (1)
Ki-Duk faleceu na Letônia em 2020, vítima de Covid-19.
Recentemente, em um grupo informal de bate papo sobre cinema, escolhemos este filme como inaugural. Neste meio tempo a sala de arte promove um festival em homenagem ao nosso querido Marcelo Sá. Marcelo foi fundador da sala de arte e era conhecido e estimado por todos que costumavam frequentar os cinemas do circuito.
Marcelo nos deixou em janeiro deste ano, uma grande perda. Qual foi nossa surpresa ao saber que Casa Vazia fazia parte dos seus filmes prediletos, e que será exibido nesta quarta-feira dia 13/04 no cinema do Museu ( fica a dica).
Casa vazia é um daqueles filmes que grudam na gente. Você levanta da cadeira e parece que o filme levanta junto com você e de maneira silenciosa te acompanha pelo resto da semana, ou talvez pelo resto da vida. Silencio alias é o tom desta obra, cuja palavra é relegada aos reles mortais coadjuvantes da estória. Sequer sabemos os nomes dos protagonistas e depois notamos que isto não fez a menor diferença, pois eles estão lá, claros e postos. E é tudo que interessa. Não sabemos quem são ou de onde vieram, mas sabemos em que estado eles estão agora. Tudo que é dispensável assim permanece pelas longas/curtas uma hora e meia de projeção. Nada excede nem falta.
O filme é sobre o agora e as transformações a partir de um encontro. Transformações estas que reverberam em cada uma das partes.
Quantas casas habitamos? Quantas histórias alheias poderiam ser as nossas próprias? Quantos vazios podemos habitar e nos tornar visíveis no invisível? e invisíveis no visível?
Quando as nossas almas entram em conjunção, nada pesamos.
Não é um filme para se “entender” tampouco “resumir” muito menos esgotar. Mas pode-se dizer que o filme fala de uma alma andante pelo mundo, que bem poderia ser a nossa. Que habita muitos vazios, esvazia-se, encontra sentido, e se faz ver.
Disponível em < https://pt.wikipedia.org> acesso em 10/04/2022.