
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu interromper a tentativa de aproximação com o eleitorado evangélico, considerado estratégico e influente no cenário político. A decisão, segundo aliados ouvidos pelo portal de notícias Agenda Capital, foi motivada pelo aumento da rejeição no segmento e pelo entendimento de que não há espaço para reverter a imagem negativa consolidada, a menos de dois anos das eleições presidenciais.
A avaliação interna no Palácio do Planalto é que a resistência ao presidente entre os evangélicos tornou-se irreversível no curto prazo. Pesquisa Datafolha indica que a taxa de desaprovação no grupo passou de 50% em junho para 55% em julho. O núcleo político do governo considera que esse crescimento reforça a dificuldade de conquistar simpatia de um eleitorado majoritariamente alinhado a pautas conservadoras e ao bolsonarismo.
Há cerca de um ano e meio, o então ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e a senadora Eliziane Gama (PSD) tentaram viabilizar a entrada do pastor Ronaldo Fonseca — ex-ministro no governo Michel Temer e figura de destaque na Assembleia de Deus — na coordenação nacional de articulação com evangélicos. A proposta não avançou.
Aos 79 anos e no terceiro mandato, Lula tem demonstrado menor disposição para articulações políticas de alta complexidade, especialmente em áreas com histórico de rejeição ao PT.
Atualmente, a principal ligação do governo com o segmento é o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, que mantém bom trânsito em algumas denominações, mas é visto como insuficiente para reverter a percepção negativa. Um indicativo dessa mudança de postura é a ausência recente de referências religiosas nos discursos presidenciais, recurso antes utilizado para criar proximidade.
A decisão preocupa integrantes do governo, já que analistas avaliam que o voto religioso será determinante em 2026. Estimativas apontam que mais de 35% da população brasileira se identifica como evangélica, grupo com forte capacidade de mobilização e que desempenhou papel decisivo na votação de Jair Bolsonaro (PL) em 2022.
O presidente também teme episódios de hostilidade. Em abril, por exemplo, recusou convite do senador Carlos Viana (Podemos-MG) para encontro com lideranças da Igreja Batista, alegando risco de vaias e constrangimento. Apesar disso, o PT seguirá tentando reduzir a rejeição no setor por meio de ações indiretas.
Em maio, a Fundação Perseu Abramo, vinculada ao partido, promoveu o curso “Fé e Democracia para Evangélicos e Evangélicas”, voltado à aproximação com pastores e fiéis.
Para aliados, insistir em conquistar esse eleitorado diretamente consumiria energia política sem retorno proporcional, diante de um histórico de resistência alimentado por líderes religiosos que associam Lula a pautas progressistas contrárias à agenda conservadora.
O desafio, segundo esses interlocutores, será buscar canais alternativos de diálogo, por meio de lideranças locais e programas sociais que alcancem as comunidades, evitando a exposição direta do presidente.
O risco, avaliam especialistas, é que o distanciamento repita ou amplie a derrota entre evangélicos registrada em 2022, com impacto significativo em estados de grande colégio eleitoral.
Ainda assim, dirigentes petistas apostam que um trabalho coordenado pode neutralizar parte da campanha adversária e conquistar nichos mais moderados, embora reconheçam que o cenário político atual seja desfavorável.