Brasil / Cinema

Morre o cineasta Arnaldo Jabor

Ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC)

Arnaldo Jabor tinha 81 anos

Arnaldo Jabor estava internado desde dezembro de 2021 no Hospital Sírio-Libanês, na região central de São Paulo, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC).e morreu na madrugada desta terça-feira (15 de fevereiro).

Em comunicado, o hospital informou que o cineasta chegou a ser submetido a um procedimento vascular para desobstrução de coágulo. No final de dezembro, outro comunicado dizia que Jabor estava consciente e se recuperando.

Jabor foi um cineasta, roteirista, diretor de cinema e TV, produtor cinematográfico, dramaturgo, crítico, jornalista e escritor brasileiro descendente de judeus libaneses.

Em uma rede social, Susana Villas Boas, ex-mulher de Arnardo Jabor e mãe de João Pedro, comentou que seu filho havia perdido o pai e o Brasil, "um grande brasileiro".

Trajetória

Carioca nascido em 1940, filho de um oficial da Aeronáutica e uma dona de casa, o cineasta e jornalista Arnaldo Jabor já foi técnico de som, crítico de teatro, roteirista e diretor de curtas e longas metragens.

Formado no ambiente do Cinema Novo, participou da segunda fase do movimento, que buscava analisar a realidade nacional, inspirando-se no neorrealismo italiano e na nouvelle vague francesa. Seu primeiro longa metragem foi o inovador documentário Opinião Pública (1967), uma espécie de mosaico sobre como o brasileiro olha sua própria realidade.

No início dos anos 70, com o recrudescimento da repressão política e da censura, os antigos autores cinemanovistas procuram caminhos metafóricos, alegóricos, para driblar a ação do governo e poder expor suas propostas. Jabor faz o mesmo com Pindorama (1970). Mas aqui o excesso de barroquismo e de radicalismo contra o cinema clássico comprometem a qualidade da obra, como o próprio Jabor admitiria mais tarde.

Seu próximo filme o redime completamente e se converte num dos grandes sucessos de bilheteria do cinema brasileiro: Toda Nudez Será Castigada (1973), adaptado da peça homônima de Nelson Rodrigues, possui um enfoque mais humano, mas ainda assim não poupa implacáveis críticas à hipocrisia da moral burguesa e de seus costumes, na história do envolvimento da prostituta Geni (Darlene Glória, no papel que lhe valeu o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim) com o viúvo Herculano (Paulo Porto).

O filme seguinte, dessa vez adaptado de um romance de Nelson, é ainda mais forte nas suas investidas contra as deformidades comportamentais e sexuais da sociedade: O Casamento (1975), último filme da atriz Adriana Prieto, também foi bem recebido por crítica e público e rendeu a atriz Camila Amado o Kikito de ouro de melhor atriz coadjuvante. Com Tudo Bem (1978), inicia a chamada "Trilogia do Apartamento"; talvez seu filme mais célebre, investiga, num tom de forte sátira e ironia, as contradições da sociedade brasileira já vitimada pelo fracasso do milagre econômico, isso no espaço restrito de um apartamento de classe média. A obra ganhou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Brasília e proporcionou a Paulo Gracindo e Fernanda Montenegro, entre outros, grandes desempenhos.

A película seguinte se dedica mais a uma análise intimista e sexual: Eu Te Amo (1980), obra que consagrou Paulo César Pereio e Sônia Braga no cinema, concentrando-se nas crises amorosas e existenciais de um homem e uma mulher.

O próximo filme, Eu Sei que Vou Te Amar, com os jovens Fernanda Torres (ganhadora do prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes na ocasião) e Thales Pan Chacon na pele de um casal em crise, guarda semelhanças de forma e conteúdo com Eu Te Amo. Ambos os filmes se consagraram como grandes sucessos de bilheteria.

No início da década de 1990, com o fim do fomento estatal para a produção cinematográfica nacional no governo Collor, Jabor foi obrigado a procurar novos rumos e encontrou na imprensa o seu ganha-pão. Estreou como colunista de O Globo no final de 1995 e mais tarde foi para a Rede Globo, atuando como colunista em vários telejornais da casa, como Jornal Nacional, Jornal da Globo, Bom Dia Brasil, Jornal Hoje, Fantástico e também na Rádio CBN, levando para TV e rádio o estilo irônico com que comenta os fatos da atualidade brasileira. Seus dois últimos livros Amor É prosa, Sexo É poesia (Editora Objetiva, 2004) e Pornopolítica (Editora Objetiva, 2006) se tornaram best-sellers instantâneos.

Abordando os mais variados temas (cinema, artes, sexualidade, política nacional e internacional, economia, amor, filosofia, preconceito), suas intervenções "apimentadas" na televisão e em suas colunas lhe renderam admiradores e muitos críticos.

Diversos textos que circulam pela internet são falsamente assinados por Arnaldo Jabor. No dia 3 de novembro de 2009, o próprio autor escreveu uma coluna negando essas autorias e fazendo uma crítica sobre o assunto, reclamando que a era digital não era para ele. E no jornal O Sul, escreveu na sua coluna "A paranoia está batendo", em 5 de outubro de 2011, que iPhones e outros aparelhos modernos lhe deixam com sentimento de solidão, por escrever para uma pessoa e nem saber onde ela está.

Filmografia

  • 1965 - O Circo (curta-metragem)
  • 1967 - A Opinião Pública
  • 1970 - Pindorama
  • 1973 - Toda Nudez Será Castigada
  • 1975 - O Casamento
  • 1978 - Tudo Bem
  • 1980 - Eu Te Amo
  • 1986 - Eu Sei que Vou Te Amar
  • 1990 - Carnaval (curta-metragem)
  • 2010 - A Suprema Felicidade

Prêmios e nomeações

  • Ganhou o Urso de Prata, no Festival de Berlim, por Toda Nudez Será Castigada (1973).
  • Ganhou o Kikito de Ouro de Melhor Filme, no Festival de Gramado, por Toda Nudez Será Castigada (1973).
  • Ganhou o Prêmio Especial do Júri, no Festival de Gramado, por O Casamento (1975).
  • Ganhou o Candango de Melhor Filme, no Festival de Brasília, por Tudo Bem (1978).

Livros

  • Os canibais estão na sala de jantar (Editora Siciliano, 1993)
  • Sanduíches de Realidade (Editora Objetiva, 1997)
  • A invasão das Salsichas Gigantes (Editora Objetiva, 2001)
  • Amor É Prosa, Sexo É Poesia (Editora Objetiva, 2004)
  • Pornopolítica (Editora Objetiva, 2006)
  • Eu Sei Que Vou Te Amar (Editora Objetiva, 2007)
  • Amigos Ouvintes (Editora Globo, 2009) – coletânea de comentários gravados para a Rádio CBN
  • O Malabarista - Os Melhores Textos de Arnaldo Jabor (Editora Objetiva, 2014)