Brasil

Chuva provoca a destruição de trechos de rodovias em Minas

Polícia Rodoviária Federal fecha o tráfego

Foto: PRF-MG
O estrago causado na pista, em Minas Gerais

A chuva destruiu a pista da BR 381, Km 321, entre Nova Era e Antonio Dias (Minas Gerais), local conhecido como Siribi, provocando a interdição nos dois sentidos, sem previsão de liberação.

Os motoristas estão sendo orientados a utilizar um desvio.

-- Saindo de Ipatinga: passe pelos municípios de Belo Oriente, Guanhães e Itabira.

O porta-voz da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Minas Gerais, inspetor Aristides Júnior, alertou que as principais estradas de Minas Gerais estão interditadas e pediu que a pessoas evitem viajar: "Surgem problemas a todo instante".

A BR-040 permanece interditada, sem previsão de liberação, depois do transbordamento de um dique da Minas Pau Branco, em Nova Lima, na Grande BH.

70 metros da MG-262 desabaram na manhã de terça-feira (11), no trecho entre os municípios de Mariana e Ponte Nova, na Região Central de Minas Gerais.

Veja os pontos críticos nas rodovias mineiras

Na cidade histórica de Ouro Preto, cerca de 80 famílias tiveram que deixar suas casas nesta sexta-feira (14 de janeiro). As residências ficam em uma área onde técnicos da Defesa Civil identificaram o risco de deslizamentos devido às condições do solo encharcado.

As casas ficam no bairro Taquaral, de onde outras 25 famílias já tinham sido removidas esta semana. A área fica a poucos quilômetros do Morro da Forca, onde, nessa quinta-feira (13), um deslizamento destruiu dois casarões históricos – um deles, do fim do século XIX. A ocorrência desta quinta-feira não fez vítimas. Ainda assim, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um procedimento administrativo para apurar “os evidentes danos ao patrimônio cultural”.

A agente da Defesa Civil municipal Paloma do Carmo Magalhães foi a primeira servidora de órgãos de proteção a chegar ao Morro da Forca, pouco antes do talude vir abaixo. Ela seguia para o trabalho quando um motorista de ônibus a alertou para algo atípico na encosta, na altura da Rua Diogo de Vasconcelos, em frente ao Centro de Artes e Convenções da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Próxima ao Terminal de Integração José da Silva Araújo, a área, na região central da cidade, é bastante movimentada.

Com a ajuda do barbeiro Fábio Rogério Alves, que estava abrindo seu salão, e de outras pessoas, Paloma rapidamente interrompeu o tráfego de veículos e de pessoas. “Eles ficaram à distância, alertando as pessoas para não passarem, e eu fiquei próxima à encosta, isolando a área até a guarnição da Guarda Civil chegar e interditar o trânsito completamente”, contou Paloma à Agência Brasil.

Vídeos feitos por pessoas que estavam próximas ao local registraram o momento em que parte do Morro da Forca vem abaixo e destrói os dois casarões, derrubando postes de energia elétrica e deixando a área sem luz. Embora os imóveis atingidos já estivessem embargados desde 2012, quando foram atingidos por um deslizamento de terra, Paloma considera que a atenção e a presteza de alguns cidadãos foi fundamental para que não houvesse nenhuma vítima.

“Isto foi crucial. Como dizemos sempre, a defesa civil é feita por todos. Ao contrário do que alguns costumam dizer, a natureza costuma sim dar sinais [de que algo está para ocorrer]. Felizmente, o motorista e outras pessoas não ignoraram os primeiros avisos e nos alertaram. Infelizmente, houve o prejuízo ao bem cultural, histórico, mas vidas podem ter sido salvas”, acrescentou a agente civil.

Em função do acidente, a circulação de pessoas nas proximidades do centro de convenções e o tráfego de veículos pela Rua Pacífico Homem, no sopé do morro, continuam proibidos. Embora não esteja chovendo, a Defesa Civil alerta para o risco de novas ocorrências em quase toda a cidade. “Com o sol, o solo, que já está muito saturado, tende a se rachar, abrindo fendas. E como há previsão de mais chuvas, pode ocorrer outros deslizamentos”, disse Paloma.

Só em Ouro Preto, até ontem, 200 pessoas desalojadas tinham tido que ser acolhidas na casa de parentes, amigos ou vizinhos. Outras 223 pessoas ficaram desabrigadas, tendo que, em algum momento, ir para abrigos públicos. Também as famílias do Taquaral que estão sendo removidas esta manhã e que não tiverem para onde ir serão levadas para abrigos improvisados em escolas públicas. A cidade também registrou uma das 25 mortes ocorridas no estado em consequência das chuvas - número que não inclui as dez mortes causadas pelo desprendimento de um bloco de pedras do Lago de Furnas, em Capitólio, sobre embarcações turísticas, no último dia 8).

ONU lamenta

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgou uma nota nesta sexta-feira, 14, em que lamenta a destruição dos casarões atingidos pelo desmoronamento em Ouro Preto e os danos causados pelas chuvas a imagens de Aleijadinho do acervo de uma das seis capelas do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas. No comunicado, a diretora e representante da entidade no Brasil, Marlova Noleto, destaca a necessidade de ações preventivas e coletivas para a proteção do "nosso patrimônio cultural comum, que tem valor excepcional para todo o mundo".

Os centros históricos (incluindo edificações e acervos) de ambos os municípios de Minas Gerais são considerados patrimônio mundial desde os anos 1980. "O desastre ocorrido em Ouro Preto, a primeira cidade brasileira inscrita na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, constitui uma perda para a humanidade", disse Noleto.

A Unesco afirmou que reportou ambas as situações ao Centro do Patrimônio Mundial, que monitora a situação dos locais reconhecidos como patrimônio mundial, e à área de Cultura e Emergências da organização. Além disso, apontou estar em contato com o Iphan para a "implementação de importantes projetos de cooperação técnica na área de proteção do patrimônio cultural, para prestar apoio técnico e contribuir com o governo brasileiro no que for necessário".

A diretora ressaltou que medidas protetivas são ainda mais importantes em meio ao avanço das mudanças climáticas. "Os cada vez mais frequentes desastres por causas naturais devem nos alertar em relação às mudanças climáticas que já estão acontecendo e nos mobilizar a favor de políticas coordenadas de proteção, mitigação de desastres e planos de gestão adequados."

Em Congonhas, as imagens sacras danificadas foram esculpidas em madeira por Aleijadinho, ainda no período colonial. As esculturas foram afetadas pela água e umidade dos últimos dias. O acervo estava em uma das capelas que integram o Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, que reúne ao todo 66 esculturas em tamanho real de sete momentos ligados à Paixão de Cristo.

O conjunto atingido reúne imagens relativas à Santa Ceia, com Jesus e os apóstolos distribuídas no entorno de uma mesa. Em descrição feita pelo Iphan, há a descrição de que o acervo de 66 peças "compõem um dos mais completos grupos escultóricos de imagens sacras no mundo, sendo, sem dúvida, uma das obras-primas de Francisco Antônio Lisboa, o Aleijadinho". Segundo a Prefeitura de Congonhas, os itens foram cobertos com lona, após a identificação de goteiras, mas de forma "paliativa", enquanto aguarda instruções do Iphan.

Em Ouro Preto, o desmoronamento de terra do Morro da Forca atingiu dois casarões tombados e que estavam interditados há cerca de 10 anos. Um deles (o de dois pavimentos) era conhecido como Solar Baeta Neves e era apontado como o primeiro neocolonial do município. O imóvel teve o restauro entregue em 2010, pelo governo federal, porém foi desocupado anos depois por estar em área de risco e chegou a ser parcialmente atingido por outro deslizamento.

Na quinta-feira, 13, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um procedimento administrativo para investigar as causas do deslizamento que atingiu os dois casarios históricos. "O MPF vai apurar as circunstâncias em que o fato se deu e pedir esclarecimentos dos órgãos envolvidos na tutela dos referidos bens quanto ao motivo do incidente, dimensão dos danos e seus efeitos", apontou em nota.